Há dois tipos de moradia contemplados na liturgia deste domingo: uma é
aquela descrita por Pedro que convida a constituirmos um edifício espiritual. A
outra casa é aquela que Jesus prepara para nós na casa do Pai. Na moradia da
terra, somos tijolos vivos que, com a pedra angular, Jesus, edificamos o
edifício espiritual. Nele prestamos o culto a Deus através dos sacrifícios
espirituais que é nossa vida unida a Cristo (1Pd
2,4-5). Esse edifício, do qual somos membros, é chamado também Corpo de
Cristo. Nele se exercita a caridade, através dos ministérios, como nos relata
Lucas com a escolha dos sete diáconos (At 6,1-7).
A Igreja é uma instituição viva, feita pessoas que se apoiam em Jesus que é o
caminho, a verdade, a vida e a perfeita imagem do Pai. Jesus diz a Filipe:
“Quem me viu, viu o Pai... Eu estou no Pai e o Pai em mim” (Jo 14,9). Nós o vemos pelos olhos da fé.
Morada
na casa do Pai
Os discípulos temerosos, recebem de Jesus uma consolação: “Não se
perturbe o vosso coração: na casa de meu Pai há muitas moradas... vou
preparar-vos um lugar” (Jo 14,2). Não se
refere aqui que vamos por diversos modos de vida, até chegarmos à morada
definitiva. Refere-se a um lugar que Jesus prepara para nós onde veremos o Pai.
Jesus diz: “Eu vos levarei comigo para que, onde Eu estiver estejais vós
também” (Jo 14,3). Jesus está no seio do
Pai. E para ali que conduz os discípulos. Em sua vida terrena, os discípulos
são morada do Espírito que revela, Filho
que mostra o Pai e conduz a Ele. Na continuação do diálogo, o apóstolo disse:
“Não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (5). Jesus os acalma: “Eu sou o caminho, a verdade
e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (6).
Na parábola da porta das ovelhas Jesus diz que Ele é a porta (Jo 10,7),
quer dizer que não se vai ao Pai, senão por Jesus. Vamos, ensinados por Ele,
para conhecer o caminho e vivendo sua vida. Nossa vida cristã tem que
aprofundar a consciência dessa nossa habitação em Deus e Deus em nos. Somos muito
superficiais. Claro que Deus não é conhecido somente intelectualmente, mas também
pelo amor. O conhecimento de Deus, na clareza do Céu, se dará quando aprofundamos
nossa fé e nosso amor no amor aos irmãos.
Serviços
no edifício espiritual
Para habitar essas duas moradas recebemos a luz do Ressuscitado que é
seu Espírito. Ele nos organiza como comunidade de pedras vivas no serviço
fraterno da Palavra, da caridade e da oração. Na consciência de pertencer a uma
raça eleita, cheios da graça de Deus como nação santa, pertencente a Deus,
prestamos o culto como sacerdócio real, para proclamar as maravilhas de Deus. Mas
também conduzimos a Igreja na realidade que se apresenta. Pedro, agindo sob a
ação do Espírito Santo, compreendeu a situação de discórdia no atendimento aos
pobres. Colocou a questão à comunidade que escolheu sete homens de boa fama e
cheios do Espírito Santo que cuidariam das necessidades “sociais” da comunidade.
A Igreja, Corpo de Cristo, tem muitos membros que, com seus dons, realizam os
serviços na caridade. A Igreja tem a Palavra de Deus, mas deve saber também dar
passos adiante para responder às atuais necessidades. Isso nos ensina a sagrada
Tradição. Tradição não é conservar o passado, mas saber levar adiante a fé que
recebemos e dar sua contribuição. Cada época deve pregar o Evangelho na
realidade. Pe. Vitor Coelho dizia que a Igreja não é de bronze que enferruja,
mas é uma árvore que precisa dos ramos novos para crescer e fortalecer o
tronco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário