Evangelho segundo S. Marcos 6,45-52.
Depois de ter
matado a fome a cinco mil homens, Jesus obrigou logo os seus discípulos a
subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida,
enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi
orar para o monte. Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho
em terra. Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, foi
ter com eles de madrugada, andando sobre o mar; e fez menção de passar adiante. Mas, vendo-o andar sobre o mar, julgaram que fosse um fantasma e começaram a
gritar, pois todos o viram e se assustaram. Mas Ele logo lhes falou:
«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» A seguir, subiu para o barco, para
junto deles, e o vento amainou. E sentiram um enorme espanto,
pois ainda não
tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Santo Hilário (c. 315-367), bispo de
Poitiers, doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de Mateus, 14, 13-14 (a
partir da trad. SC 258, p. 27)
«Foi ter com eles de madrugada»
«Jesus obrigou logo os seus discípulos a
subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida,
enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi orar
para o monte. Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho em
terra» (Mt 14, 22-23). Para dar a razão destes factos, é preciso distinguir os
tempos. Se Ele está só à noite, isso mostra a sua solidão na hora da Paixão,
quando o pânico dispersou todos os que O acompanhavam. Se ordena aos seus
discípulos que entrem no barco e atravessem o mar, enquanto Ele próprio despede
as multidões e, uma vez despedidas, sobe a um monte, é que lhes ordena que
estejam na Igreja e naveguem no mar, quer dizer, neste mundo, até que,
retornando no dia da sua vinda gloriosa, Ele dê a salvação a todo o povo, que
será o resto de Israel (cf Rom 11,5) [...], e que esse povo dê graças a Deus seu
Pai e se estabeleça na sua glória e na sua majestade. [...]
«Foi ter com
eles na quarta vigília da noite.» Na expressão «quarta vigília da noite»,
encontram-se as marcas da sua solicitude. Com efeito, a primeira vigília foi a
da Lei, a segunda a dos profetas, a terceira a da sua vinda corporal, a quarta
coloca-se no seu regresso glorioso. Mas Ele encontrará a Igreja decadente e
cercada pelo espírito do Anticristo e pela agitação deste mundo; pois Ele virá
num momento de extrema ansiedade e de tormentos. [...] Os discípulos estarão
aterrorizados pela vinda do Senhor, temendo as imagens da realidade deformadas
pelo Anticristo e pelas ficções que se insinuam no olhar. Mas o Senhor, que é
bom, falar-lhes-á imediatamente, afastará o seu medo e dir-lhes-á: «Sou Eu»,
dissipando, pela fé na sua vinda, o temor do naufrágio ameaçador.
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