PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Religião
curta e mesquinha
Jesus, sempre movido pelo Espírito
Santo, mistura-se com o impuro, tocando os leprosos, mortos e os doentes. Não
pode assim prestar culto a Deus, que exige a pureza ritual. Quando a pecadora
toca-lhe o corpo, beija-o, lava com as lágrimas, enxuga com os cabelos e unge
com perfume precioso, torna-se mais ainda um fora da lei. Simão, fariseu
conhecedor e cumpridor da lei, ao ver aquela cena duvida de Jesus: “Se esse
homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é
uma pecadora” (Lc 7,39). Raciocina: Um homem de Deus conhece a maldade das
pessoas. Jesus mostra que é um homem de Deus, pois além de saber onde está a
raiz do mal, que é o orgulho e a falsa religião, conhece também a raiz do bem
que é o amor. Propõe então a parábola do credor e os dois devedores perdoados.
Um devia 100 e outro 10. Os dois foram perdoados. Quem o amará mais? - ‘A quem
mais se perdoou’ - responde Simão. Jesus vira o quadro e mostra o que Simão não
fez, e que era o dever de hospitalidade. A mulher o fez por amor. Jesus
acrescenta: “Os muitos pecados dela estão perdoados porque ela mostrou muito
amor. Aquele a quem se perdoa pouco, mostra pouco amor” (47). Jesus, por sua
atitude interior de “verdadeira religião”, reconhece que a mulher teve
confiança na graça que a moveu a ir até Ele. Jesus proclama que junto do amor
está a fé: “Tua fé te salvou. Vai em paz!”. O amor é a fonte da verdadeira
religião. Simão tem uma fé baseada em práticas exteriores, mas o coração não
entende as pessoas como Deus as vê. Assim podemos ver na Igreja que só o
exterior não basta. “Os pecadores e as prostitutas vos precedem no Reino” (Mt
21,31).
Liberdade
do perdão
A atitude de Jesus e da mulher são chocantes. A mulher faz um gesto
forte e mesmo ousado. Jesus aceita serenamente. O fariseu recusa. É belo ver a
liberdade de Jesus: Acolheu a maneira de manifestar amor. Amor não é um
conceito. Tem carne. O perdão que Jesus dá vai além das palavras. Seus gestos
são de amor, correspondendo ao que recebia. Onde a mulher pecadora achou tanta
liberdade? Certamente terá visto Jesus acolher outros e mesmo, quem sabe, já O
terá olhado nos olhos. A liberdade veio da confiança que encontrara antes.
Somente esse amor poderá levar a dizer o que Paulo diz aos Gálatas: “Eu vivo,
mas não eu, é Cristo que vive em
mim. Minha vida presente , na carne, eu a vivo na fé, crendo
no Filho de Deus que me amou, e por mim se entregou” (Gl 2,20). Esse amor
recíproco com Cristo dá razão de viver. Pedro nos convida: “Tendo antes de tudo
ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de
pecados” (1Pd 4,8).
Mulheres
de Jesus
O
seguimento de Jesus é vida: “Todos queriam tocá-lo, porque dEle saia uma força
que curava a todos” (Lc 6,19). Lucas (evangelista das mulheres) salienta a
presença de mulheres na companhia de Jesus. Foram curadas, encontraram vida no
seguimento de Jesus. Isso não era normal entre os rabinos e mestres. A mulher
faz parte integrante da missão de Jesus. Elas o serviam. Lendo Atos dos
Apóstolos e cartas de Paulo, vemos a grande presença de mulheres
evangelizadoras e mães da comunidade. O cristianismo superara o mundo pagão e
judeu no respeito à mulher. Quem sabe devêssemos voltar a esses textos e
repensar o grandioso lugar da mulher na Igreja e sociedade. Paulo afirma: “Não
existe homem nem mulher porque todos sois um em Cristo” (Gl 3,28). É a partir
de Cristo que se conhece o lugar da mulher na Igreja, e não em uma cultura,
qualquer que seja.
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