PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
“E
o Verbo se fez carne”.
Dia
25 de março, Encarnação do Senhor! Simples! Um Deus se fez carne. Qual é o
problema? No dia em que entendermos o que significa um Deus, saberemos
valorizar que se fez carne. Quem poderia imaginar que Deus chegaria a ponto de
se fazer homem, da humanidade maravilhosa que Ele próprio criara a sua imagem e
semelhança? (Gn 1.26). Estas palavras origem e semelhança, na sua raiz
hebraica, significam de sua família e seu sangue. Paulo, em Atenas, cita um
poeta pagão: “nós somos também de sua raça” (At 17,28). Deus considera-se muito
nosso familiar. Mas dizer que um Deus se faça homem, de uma raça, numa cultura,
num tempo histórico definido, numa cidade, dentro de uma família, nas condições
humanas, não nos deixa de assustar. Imaginem quando esta verdade nos tocar o
coração!? Acho que não aprofundamos tanto esta verdade, porque não
suportaríamos. Deus é assim mesmo: é como o orvalho sobre a relva. Lentamente
vai nos umedecendo lentamente com seu próprio ser. Ele se manifesta, como vimos
no tempo de Natal. Esta manifestação, como diz João, se fez carne. Esta palavra
carne não é somente um termo físico. João escreveu seu evangelho em grego, mas
com mentalidade judia. Quando fala carne diz “bassar” que significa
manifestação. Em árabe temos a palavra “bazar”, próxima à palavra hebraica.
Sabemos o que é um bazar. Não é um grande shopping. É uma porta, onde às coisas
estão à mão e podemos tocar. Assim se fez carne: manifestou-se e deixou-se
tocar.
O
que pensava o Verbo de Deus ao entrar no mundo?
Quando o Verbo eterno de
Deus, o Filho amado do Pai, quando entrou no mundo, tinha um pensamento muito
definido. Podemos saber o que Ele pensava e nos relata a carta aos Hebreus: “Ao
entrar no mundo, ele afirmou: Tu não quisestes sacrifício e oferenda. Tu
porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do
teu agrado. Por isso eu digo: eis-me aqui – no rolo do livro está escrito a meu
respeito - eu vim, ó Deus para fazer a tua vontade” (Hb 10, 5-9). O
pensamento do Filho estava voltado totalmente para fazer a vontade do Pai. O
Espírito Santo que fecundou o seio da Virgem Maria deixou este gene que
permanecerá em todos os que iriam acolhê-lo: fazer a vontade do Pai. Esta
vontade é a total e irrenunciável misericórdia do Pai que a todos ama e acolhe.
Vemos nas parábolas de Jesus e suas atitudes para com os pecadores a expressão
desta misericórdia: ovelha perdida, filho pródigo, pobre Lazaro. Ele afirma que
não veio para condenar, mas para salvar. Pode-se imaginar um Deus diferente?
Impossível.
“Continuada
encarnação”
Jesus associa a si todas as pessoas do mundo,
de modo particular os que nEle crêem. Esta associação, faz de todos um só
corpo, Corpo de Cristo, onde Ele é a cabeça e nós os membros. Membros dEle e
uns dos outros, temos também impressa em nós a mesma meta de vida: fazer a
vontade do Pai: implantar no mundo a misericórdia e o amor para com todos, de
modo particular, os mais pequeninos e fracos. Acho que é por isso que não
entendemos a encarnação, pois do contrário faríamos o mesmo que Jesus fez na
sua encarnação. Se a Igreja não se encarna, trai a encarnação do Verbo.
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