PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+) REDENTORISTA CONSAGRADO SACERDOTE NA PAZ DO SENHOR |
Refletimos agora sobre o sacramento da Penitência no âmbito da espiritualidade. Não podemos nos deter somente nas questões individuais, por mais que o pecado seja de responsabilidade pessoal. Tanto o pecado, como a penitência que dele nos liberta, estão intimamente ligados à pessoa do outro e à comunidade. Lembremo-nos do mandamento de Jesus: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). “Aquele que diz que ama a Deus e não ama seu irmão é um mentiroso, pois quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus que não vê, não poderá amar” (1Jo 4,20). O pecado fere o amor ao próximo. Todo o pecado atinge o outro de muitos modos. Jesus diz que já no pensamento podemos falhar gravemente em relação ao irmão. Nos textos do Antigo Testamento vemos os mandamentos no negativo: ‘não matarás! Não roubarás!’ Quase como a dizer que não fazendo o errado já está bom. A proposta de Jesus vai mais longe: É preciso amar como Ele nos amou e como é amado pelo Pai. É a construção do amor. Tudo que não edifica o amor torna-se tão grave quanto matar. Em Mateus lemos que encolerizar-se é o mesmo que matar. O amor supera o ódio e vai além. “Se alguém te força a andar com ele um quilômetro, vai dois” (Mt 5,41). O sacramento da penitência estimulará sempre a prática do amor em todas as circunstâncias. Vemos só os erros e não nos preocupamos com o amor que não realizamos. O sacramento da penitência é o encontro com Jesus no qual reconstruímos as dinâmicas do amor.
Curar as feridas
O pecado deixou marcas profundas na história da humanidade e no coração de cada pessoa. Sobraram em nós marcas e dinamismos perniciosos que nos levam a erros e pecados. Jesus, médico divino e até enfermeiro caridoso, está sempre a diagnosticar e a curar nossas feridas e males através dos remédios onde se encontra Sua própria vida e energia. São os diversos sacramentos e, em particular, o sacramento da penitência. A vida espiritual consiste em buscar a cura dessas feridas, que são aprofundadas por nossas constantes recaídas. No sacramento da cura e do perdão nós nos fortalecemos e chegamos a uma boa saúde espiritual. As feridas feitas ao amor podem tornar-se de difícil cura se não buscamos o remédio justo que é a penitência - confissão. A cura não vem somente de uma simples acusação, que é necessária, mas da própria graça do sacramento, que é o remédio e a vitamina que fortalece.
O pecado fere o corpo
O amor é a condição básica do cristão - é membro do Corpo de Cristo. O Espírito faz a ligação de todos os membros entre si e com Cristo. Não há um que esteja desligado. Essa energia que une a todos é o amor. O pecado fere justamente a presença do Amor em nós. O amor tem duas dimensões: Deus e os outros, pois formamos com Cristo um único corpo. Quando dizemos que o pecado ofende a Deus, estamos dizendo que ele rompeu a ligação amorosa existente entre nós e o Corpo de Cristo. Tornamo-nos, como diz João na parábola da árvore e os ramos, um galho seco. Fazemos mal a nós mesmo. Deus, que quer nossa felicidade - dizemos em linguagem humana - fica ofendido, é atingido em nosso relacionamento com Ele. O pecado faz mal a todo o Corpo de Cristo. A penitência quer refazer essa união. Vida espiritual é batalhar no campo do amor, usando as armas da conversão, penitência e confissão. Não percamos essa bela oportunidade.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JUNHO DE 2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário