Evangelho segundo São João 15,9-17.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor.
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.
Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.
É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai.
Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá.
O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».
Tradução litúrgica da Bíblia
(1801-1890) teólogo,
fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «Do jugo de Cristo»,
PPS, vol. 7, n.º 8
«Permanecei no meu amor
para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja completa»
Cristo havia partido. Claro que os apóstolos possuíam a paz e a alegria ainda em maior abundância do que quando Jesus estava com eles. Mas não era a alegria «como a dá o mundo» (Jo 14,27); era a alegria de Cristo, nascida da aflição e do sofrimento. Foi essa alegria que Matias recebeu quando foi feito apóstolo. Os outros haviam sido escolhidos, por assim dizer, durante a sua infância, eram sem dúvida herdeiros do Reino, mas ainda estavam «sob o domínio de tutores e administradores» (Gal 4,2). Sendo embora apóstolos, não compreendiam ainda a sua vocação e continuavam a ter pensamentos e desejos de ambição e de riqueza; e assim foi durante algum tempo. São Matias assumiu imediatamente a herança. Mal foi escolhido, tomou sobre si, tanto o poder de apóstolo, como o preço a pagar: ao trono que se erguia sobre o túmulo do discípulo que fora passado pelo crivo [Judas], e que caíra à sombra da cruz daquele a quem traíra, não podia aflorar sequer a sombra de um sonho de sucesso terreno.
Sim, São Matias pode muito bem repetir-nos as palavras de Nosso Senhor: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim» (Mt 11,29), porquanto o carregou de imediato. Carregou o jugo do Senhor logo a partir da sua juventude apostólica e, embarcando sem demora na sua longa quaresma, alcançou a alegria. «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16,24). Ir com Cristo é ir no seu caminho; tomar a sua cruz é carregar o seu jugo, e se Ele nos diz que é leve, é porque é o seu jugo: é Ele quem o torna leve, sem no entanto deixar de ser um jugo trabalhoso. Não quer dizer, evidentemente, que à vida no seguimento de Cristo faltem a alegria e a paz, muito pelo contrário: «O meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Mt 11,30). Mas é a graça que o torna leve, mesmo que permaneça austero. Pois não deixa de ser uma cruz.
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