quarta-feira, 4 de agosto de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “O único necessário”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
(Ao lado, saudoso Padre Brandão)
Dar tempo a Deus.
 
A leitura do evangelho de Lucas narrando a visita de Jesus à casa de Lázaro, Marta e Maria, seus amigos, traz-nos algo muito corriqueiro da vida familiar. O amigo quer estar com os amigos. Marta, como boa dona de casa, quer receber bem. E Maria quer estar ao lado do amigo. Jesus, já muito à vontade na casa, diz a Marta: ‘Não se preocupe com estas coisas da casa, isso fazemos depois. Vamos agora estar juntos e conversar’. Jesus sabe que é importante para Ele de estar com as pessoas, e sabe também como é bom e proveitoso estar com Deus. Em um dos volumes do livro “O Cavalo de Tróia” (J.J.Benitez), o personagem pergunta a Jesus por que Ele tem que rezar. Jesus responde (em outras palavras!) que na condição de homem tem necessidade de estar com Deus. Jesus não quer tirar Marta de seu trabalho, nem diz que só o que Maria faz é que vale, mas que naquele momento era bom estarem juntos. É preciso dar tempo a Deus e ter tempo para Deus em nossa vida. A pessoa tem uma dimensão muito rica que é sua espiritualidade que, mesmo sendo realizada na condição humana, leva-a a se dedicar exclusivamente a Deus em determinados momentos. 
Dar tempo às pessoas. 
Quando sabemos dedicar tempo a Deus descobrimos o valor do tempo quando nos dedicamos às pessoas. A maravilhosa, e ao mesmo tempo misteriosa, visita dos três “Anjos” ou “Homens” a Abraão revela que aqueles que vem a nós são sempre uma mensagem de Deus. Parece absurdo, mas Paulo já o dissera aos colossenses, ao explicar-lhes sua missão de anunciar o mistério escondido por séculos e agora revelado: ‘a presença de Cristo em vós’! (Col.1,27). Somente quem enxerga com os olhos do coração pode ver por dentro. O encontro com as pessoas é sempre muito rico. O fundamento desta riqueza podemos encontrar nas Palavras de Paulo ao Colossenses ao expor sua missão de anunciar o mistério escondido por séculos e agora revelado: “a presença de Cristo em vós”! (Cl 1,27). O encontro com as pessoas é extremamente rico. Envolve Cristo que está presente. Jamais se perde tempo com as pessoas, pois, mais do aquilo que possam nos oferecer, valem pelo que são, como são. A perda de tempo existe quando não sabemos fazer o que Abraão fazia: doar-nos a quem vem ao nosso encontro, como o fez Abraão. Se não sei me doar, também não vou saber receber. A virtude mais importante que aparece nos Atos dos Apóstolos é a hospitalidade. Na hospitalidade podemos contemplar o rosto de Deus à altura de nossa condição. O salmo explicita que contemplar a Deus desenvolve em nós o respeito ao irmão nas relações sociais: “Senhor, quem habitará em vossa casa? Quem pensa a verdade no seu íntimo [...] quem em nada prejudica seu irmão, nem cobre de insultos ao vizinho [...] não se deixa subornar contra o inocente” (Sl 14). Não há contemplação fora da realidade do mundo onde pousam os olhos de Deus. 
Tempo rico de Deus. 
Contemplar a Deus e contemplar as pessoas é o resultado de estar atento a ver, no tempo presente, a presença de Deus. Se conheço a Deus pelo tempo que gasto com Ele, começo a percebê-lo onde está. Ele se faz presente nos tempos, lugares e pessoas. A contemplação é mais uma atitude de coração que envolve Deus, o outro e o mundo. 
Leituras: Gênesis 18,1-10; Salmo 14; 
Colossenses 1,24-28; Lucas 10,38-42. 
Homilia do 16º Domingo do Tempo Comum
EM JULHO DE 2004

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