Seguindo a temática da compaixão dos domingos anteriores, encontramos o evangelho da multiplicação dos pães. Interrompemos a leitura de Marcos e tomamos o sermão sobre o pão da vida no capítulo 6 de João. Está bem na linha do salmo 144 que se reza nesta liturgia: “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura”. A mão aberta de Deus é para todo ser vivo. Vemos toda a natureza se alimentando, cada um a seu modo. Deus colocou nesta natureza a fonte pródiga. Basta ver as abelhas buscando o mel em uma árvore florida. É a mão generosa de Deus colocada no coração da natureza. Seguindo seu Pai, Jesus vão. Com suas atitudes e a compaixão que tem em seu coração, até o estômago vazio dos famintos. E há tanta fome no mundo. Compete a nós a solução.
Não dividir, mas compartilhar.
A multiplicação dos pães está em relação com a Páscoa e com a Eucaristia. O texto de João diz: “estava próxima a festa da Páscoa dos judeus” (Jo 6,4). Ligamos assim Páscoa, Eucaristia e compaixão-amor. O que é a multiplicação? É a definição mais profunda do sentido e significado da mensagem de Jesus. Ele é o Pão da Vida que veio da parte do Pai como dom que será multiplicado para saciar a fome do mundo, fome de pão e fome de vida eterna. Jesus não quer o excesso do rico da parábola que guardou tudo para si e mesmo e ficou sem, pois morreu. Quer que o pouco que temos seja multiplicado. No milagre Jesus pergunta “quantos pães tendes? Cinco de pães de cevada e dois peixinhos. O que isso para tanta gente?” Jesus multiplica o pouco. O pouco é a tentativa de Filipe de solucionar com o pouco a vida de muitos. Jesus não divide o pão, mas multiplica. A multiplicação não parte do egoísmo, mas do amor. O amor não divide, mas multiplica, aumenta. É como a Eucaristia: A pequenina hóstia, mesmo partida é Jesus inteiro. A Eucaristia quer dizer: aprender a partilhar para não faltar. E “sobraram doze cestos”. Esta é a utopia cristã. Há fome no mundo porque não se quer partilhar, mas amontoar. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Na guerra da Angola, uma família tinha o suficiente para si, mas vieram esconder-se em sua casa. E a comida não faltou durante os 52 dias de bombardeio. A mãe dizia: a comida multiplicava nas vasilhas.
Multiplicar o quê?
Jesus faz o milagre. Mas o que interessa não é o resultado, pois amanhã estão com fome de novo. Ele faz o sinal: A vida deve ser doada para ser multiplicada. Por isso este milagre é o início do discurso do Pão da vida. “Eu sou o Pão da vida”. Comer a carne de Jesus pela fé e pela Eucaristia, é engolir o seu projeto: Pão dado para a vida do mundo. Quem come deste pão não terá mais fome. Quem come este projeto de Jesus dará, como Ele, a vida. O projeto de Jesus é a multiplicação dos bens, da vida e da capacidade de pensar nos outros. Isso é ser Eucaristia e realizar a Páscoa. Isso é ser cristão. Ter compaixão é multiplicar o pouco que tem para que todos tenham muito.
(Leituras: 2 Reis, 4 42-44; Efésios 4,1-6; João 6,1-15)
Homilia do 17º domingo do Tempo Comum (27.07)
EM JULHO DE 2003
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