Evangelho segundo S. Lucas 11,27-28.
Naquele
tempo, enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da
multidão e disse: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao
seu peito». Mas Jesus respondeu: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de
Deus e a põem em prática».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos
Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermão 31 sobre o Cântico dos cânticos
«Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as palavras que
lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1,45)
Os homens da antiga aliança viviam sujeitos
a um regime de símbolos. Para nós, pela graça de Cristo, presente na carne,
resplandeceu a própria verdade. E contudo, por relação ao mundo futuro, vivemos
ainda, de certa maneira, à sombra da verdade. Escreve o Apóstolo Paulo: «A nossa
ciência é imperfeita e a nossa profecia também é imperfeita» (1Cor 13,9); e
ainda: «Não que eu tenha já alcançado a meta» (Fil 3,13). Com efeito, não
podemos deixar de distinguir aquele que caminha pela fé e aquele que se encontra
já na visão clara. Assim, «o justo viverá da fé» (Hab 2,4; Rom 1,17), enquanto o
bem-aventurado exulta na visão da verdade; agora, o homem são vive à sombra de
Cristo [...]. E é boa, esta sombra da fé, que filtra a luz que cega os nossos
olhos ainda mergulhados nas trevas, e os prepara para suportar a luz. Com
efeito, está escrito que Deus «purificou os seus corações pela fé» (At 15,9). A
fé não tem, pois, como efeito a extinção da luz, mas a sua conservação. Tudo
aquilo que os anjos contemplam a descoberto é preservado para mim pela luz da
fé, que o faz repousar no seu seio, a fim de o revelar no momento ideal. Não
será preferível ela manter oculto aquilo que ainda não és capaz de captar sem
véu?
Aliás, a Mãe do Senhor também vivia na sombra da fé, uma vez que
lhe disseram: «Feliz aquela que acreditou» (Lc 1,45); e, do corpo de Cristo,
recebeu também uma sombra, segundo a mensagem do anjo: «A força do Altíssimo
estenderá sobre ti a sua sombra» (Lc 1,35). Esta sombra nada tem, pois, de
desprezível, uma vez que é projetada pela força do Altíssimo. Com efeito, a
carne de Cristo tinha um poder que cobriu a Virgem com a sua sombra, a fim de
que o filtro desse corpo vivificante lhe permitisse suportar a presença divina e
sustentar o brilho da luz inacessível, o que seria impossível a uma mortal. Este
poder iludiu todas as forças adversas; o poder desta sombra expulsou os demónios
e protegeu os homens. Poder verdadeiramente vivificante e sombra verdadeiramente
refrescante! Quanto a nós, é à sombra de Cristo que vivemos, pois caminhamos
pela fé e recebemos a vida, sendo alimentados pela sua carne.
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