PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
655. Mudança
de mentalidade
O
Reino de Deus traz sempre surpresas que nos encantam. A mim impressiona muito
como as coisas boas do Reino estão sempre na contra-mão. É o que vemos na
virtude de ser criança. Será isso, uma virtude? Parece que nem nome tem. Mas Jesus
a coloca como uma virtude fundamental. A
nós, adultos, interessa a maturidade, a grandeza da personalidade, a plenitude
do ser humano. Jesus diz que a grandeza está em ser como a criança. Ela é o que
é. Não tem máscaras, não se pensa mais do que é, acolhe. Por isso Jesus afirma
que “aquele que não receber o Reino de Deus como criança, não entrará nele” (Mc
10,15). Para isso exige-se a conversão, a mudança radical: “Se não
mudardes, e não vos tornardes como criancinhas, de modo nenhum entrareis no
Reino dos Céus” (Mt 18,3). Qual é a virtude dos pequeninos? Continua Jesus: “Portanto,
quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt 18,4). É isso que acontece com Maria, a pequenina
grande do Reino: “Deus olhou a humildade de sua serva ... Ele exaltou os humildes” (Lc 1,48.52).
Jesus se identifica com as crianças: “Quem recebe um menino como este, em meu
nome, é a mim que recebe” (Mt 18,5). A
virtude de ser criança exige uma maturidade imensa. Curiosamente a gente não se
preocupa com essa virtude. Entre nós, até nas pessoas que consideramos santas
ou foram assim declaradas, não é uma virtude privilegiada. As crianças também
podem elaborar umas coisas más que são fruto da educação, da convivência ou do
próprio egocentrismo natural. Jesus contempla o normal das crianças. A
humildade é uma de suas características. Humildade significa acolhimento.
656. Crianças
diante de Deus
Jesus
é modelo também desta virtude. Diante do Pai Ele se faz pequenino e se
relaciona com o Pai como uma criancinha: Ele chama Deus de Abbá, que, em hebraico significa paizinho. É diminutivo de Ab, que é quer dizer Pai. Jesus era
fascinado por seu Pai, como uma criança que confia, que ama, que se ampara e
sente segurança. Para ela o pai sempre é o maior. Pelo Evangelho notamos esta
virtude na vida de Jesus. No último momento, no maior desespero, na noite
total, Ele se joga cegamente nos braços do Pai: “Em vossas mãos entrego meu
espírito” (Lc 23,46). No fundo do poço, vê
os braços do Pai. Precisamos aprender a confiar com simplicidade aos cuidados e
ao amor paterno de Deus, pois somos acolhidos por Ele. Ele nos faz sentir seguros
em todas as necessidades, mesmo nas turbulências. A espiritualidade deve estruturar-se
a partir desta virtude. Nós não temos esse relacionamento com o Pai. Nós nos
tornamos complicados, tensos, estressados.
657. Vocação
à infância espiritual
A Igreja sempre teve um carinho
especial pelas crianças (infelizmente muitas comunidades e sacerdotes não se
preocupam com o acolhimento das crianças). Mas que acolher a crianças é preciso
criar em nós a espiritualidade da infância espiritual que é tão apreciada em
Santa Terezinha. Temos um servo de Deus, redentorista, que adota esse caminho
com grande simpatia. Chama-se Marcel Van. Está em processo de beatificação.
Eles nos ensinam o pequeno caminho, caminho das pequenas coisas para chegar a
ser grande. Trata-se dos pequenos gestos de amor, da humildade, da serenidade
nos sofrimento. O pequeno caminho é o amor. A maior obra do amor, é amar como
crianças, com totalidade no que é pequeno. Amaremos e respeitaremos Deus como
nosso Pai se nosso amor a Ele se traduzir no amor recíproco. Por isso
precisamos mudar nossa mentalidade e, ao apelo do Reino, nos convertermos em
criancinhas.
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