domingo, 19 de junho de 2016

Homilia do 12º Domingo Comum (19.06.16) “A leveza da Cruz”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Fonte acessível a todos
            Depois de refletirmos sobre o pecado e a graça, somos evangelizados a conhecer o caminho de Jesus através do convite ao seguimento. A Paixão de Cristo, com toda a razão, foi sempre vista como momento de maior dor. A dor sofrida em sua Paixão e o caminho doloroso que percorreu torna-se um convite a todos. O profeta Zacarias nos oferece uma reflexão sobre esses acontecimentos: “Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração” (Zc 12,10). Mesmo no meio dos sofrimentos e do pranto pelas desgraças sofridas, “haverá uma fonte acessível à casa de Davi e os habitantes de Jerusalém par ablução e purificação”. A Paixão de Cristo a que somos chamados a assumir como nossa é fonte de graça, de vida, de purificação e de culto a Deus pela oração. A fé, como explica Lucas em 9,18-24, nos coloca em atitude de seguimento de Jesus. Só segue Jesus quem crê que Ele é o Cristo (Lc 9,20). Crer significa seguir na rejeição e na Ressurreição. Seguir significa renunciar a si mesmo.  A renúncia a si mesmo não é destruição ou desmerecimento da pessoa humana, mas justamente a maior conquista de si mesmo por estar completo e poder ir além de si mesmo. Desse modo se pode seguir Jesus com força. Não se perde a vida, mas se ganha. Tomar a cruz não é entrar em um processo de sofrimento, e sim encontrar a abertura para a vida plena. Os homens e mulheres que conquistaram o mundo e fizeram um caminho para outros, foram justamente os quem mais se perderam, por isso, se ganharam. Beberam das fontes abertas no lado de Jesus e se transformaram em distribuidores dessa água de vida e purificação. A vida só cresce quando damos vida.
Sede de Deus
             A profissão de fé de Pedro em Jesus não se esgota em uma frase, mas é um processo de vida que se desenvolve. É fundamental o crescimento espiritual expresso pelo salmo 62  quando nos traz o que acontece em quem escolhe Jesus: “Minha alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus”. A sede de Deus se expressa na busca apaixonada de tudo que se refere a Cristo. A busca de Jesus não é a procura de um pronto socorro para todas as necessidades. É sede da Pessoa de Jesus e da vida Ele que oferece. Como sem água perecemos, sem Ele morremos. O primeiro sinal de morte é não precisar dessa água. O despojamento de tudo vence o obstáculo para nos revestimos Dele. O despojamento se torna um enriquecimento, pois quando mais vazios de nós mesmos, mais podemos nos “encher” de Cristo a ponto de termos a força de tomar sua cruz, perder a vida  para alcançar o Tudo. Por Ele vale a pena toda entrega.
Revestir-se de Cristo
            Revestir-se não com um manto que simbolize Cristo, mas revestir-se interiormente, como Paulo explica que esse revestimento se faz a partir do Batismo. Ele nos mergulha na sua vida. Por isso a busca de Deus não é só elevar-se espiritualmente. É uma opção de vida e não uma atividade espiritual. Viver em Cristo requer a fé, mas também a atitude de vida tomando sua cruz, sabendo perder tudo por Ele para tê-Lo. A espiritualidade de fazer atos bons e ter uma fachada de santidade não preenche o que pede Jesus. Ele nos quer por inteiro. A fragilidade da fé está no fato de não termos entendido ainda a proposta de Jesus. Cuidamos bem das aparências quando nosso interior ainda não se converteu.
Leituras: Zacarias 12,1-11;131;Salmo 62; Gálatas 3,26-29;Lucas 9,18-24.
 
1.    Zacarias promete uma fonte aberta aos habitantes de Jerusalém. Na Paixão de Cristo encontramos essa fonte de ablução e purificação. A fé nos põe no seguimento de Jesus. A renúncia implica também acolher a ressurreição.

2.    Profissão de fé é um processo de vida que se desenvolve. Ela se fundamenta na sede de Deus. Revestir-se de Cristo acontece com o despojamento de todo obstáculo.

3.   Revestir-se interiormente é mergulhar na Vida de Cristo. Espiritualidade não é fachada. É deixar as aparências e converter-se. 

            Trocando em miúdos 
            Diante da profissão de fé dos apóstolos, Jesus descreve para eles o que significa ter fé. Jesus aceita a adesão dos discípulos, mas explica que crer significa seguir Jesus na sua condição máxima que é sua paixão e morte. Mas garante a ressurreição.
            Crer significa tomar a cruz e seguir: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9, 23). A renúncia é o fundamento do seguimento. É preciso uma mudança radical de vida para que o seguimento exista. É o que se vai chamar de novo nascimento, nova criatura, vida do alto. Nada mais é que sair de si e deixar Jesus entrar em nossa vida.
            Jesus explica que vale a pena deixar tudo por Ele. E acrescenta: “Quem quiser salvar sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará (24). Vai ser muito mais humano, quem deixa se conduzir por Jesus.
            Em Jesus se “abre uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém para ablução e purificação”. Esta fonte está localizada no coração de Jesus que derramou sangue e água.
            O salmo 62 nos traz o que acontece com quem escolhe Jesus: “Minha alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus”. A busca de Deus não é só elevar-se através de Jesus. Esta é a condição dos filhos de Deus, como nos escreve Paulo, revestidos de Cristo. 

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