PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Pecado
e Graça
A
Palavra de Deus proclamada no 11º Domingo Comum nos coloca diante do pecado e da
graça. Davi cometeu um grave pecado: além de adulterar, manda matar o marido da
mulher que caiu na sua maldade. Deus o perdoou. O profeta dá a entender que foi
perdoado, mesmo antes de ter reconhecido o erro. Mas ele manifesta seu
arrependimento. No Evangelho encontramos a pecadora que traduz seu
arrependimento, não com um pedido de perdão, mas mostrando amor. O
arrependimento só acontece quando existe o amor. O fariseu não fora capaz de
compreender a graça que estava em sua casa, pois não usou do amor nos gestos
humanos da hospitalidade. A mulher superou a hospitalidade com a profundidade
de um amor arrependido e aberto à graça. Todos nós podemos errar. Mas somente
no amor deixaremos ver se nosso arrependimento é sincero. Por isso temos as
palavras de Pedro: o amor cobre a multidão de pecados (1Pd 4,8). O forte amor da pecadora não
busca perdão de pecados, mas o amor que perdoa. Assim devemos entender o
sacramento do perdão como um banho de amor no amor correspondido, não como uma
lavagem de consciência. Esse amor se caracteriza pela opção por Cristo como
fundamento da vida. Paulo coloca nessa opção o sentido de sua vida. O pecado
estará sempre por perto, como disse Deus a Caim: “O pecado está a sua porta. A
você compete vencê-lo” (Gn
4,7). Seremos sempre pecadores, mesmo quando formos santos, pois à luz
de Deus podemos ver melhor nossos males. A
Prece Eucarística nº 5 nos leva a rezar: Somos povo santo e pecador
A
força da graça
Paulo
na Carta aos Gálatas, conta por experiência, que a graça não está na prática
exterior na Lei. O que salva é a fé em Jesus Cristo. A palavra lei compreendia
também as tradições e ritos. Seriam bons se fossem feitos pela fé. Serão feitos
na fé se fizermos como Paulo diz: “Fui pregado na cruz com Cristo” (Gl 2, 19). Não se
trata de sofrimento, mas de sua capacidade de assumir Cristo na vida e passar a
viver seus sentimentos e sua mentalidade. A força da graça de Cristo torna-se
vida. O Apóstolo diz: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta
minha vida presente na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me
amou e por mim se entregou. Eu não desprezo a graça de Deus” (Gl 2,20-21). Esta é a
graça que acompanha na luta contra o pecado e todo mal. Vemos tantos desmandos
no mundo. Tudo provém da falta da opção fundamental por Cristo. Mesmo nas
fileiras da Igreja, o pecado acontece pela falta desse amor de entrega a
Cristo, como fez a pecadora. Ela amou com totalidade. Ousou manifestar através
do amor carinhoso. A fé e a graça não anulam a natureza.
O
pecado faz mal
É
chocante ver que a morte da criança foi o castigo ao pecado de Davi. O filho
que morre pode significar para nós que o pecado faz mal não somente a nós, mas
cria uma onda de morte. Não creio que
Deus descontasse na criança. Mas nosso pecado destrói o mundo em que vivemos.
Quantas pessoas sofrem no mundo por causa dos pecados de muitos. O sofrimento
da terra igualmente vem por conta do pecado do homem como escreve Paulo aos
Romanos (Rm 8,20-22).
A graça faz bem. Os efeitos da graça são maiores e nos trazem os benefícios do
imenso amor. O gesto da pecadora é uma lição para que cultivemos a ternura do
amor. Era assim que Jesus amava.
Leituras: 2º Samuel 12,7-10.13; Salmo 31,Gálatas 2,16.19-21;
Lucas 7,37-8,3:
1.
A Palavra nos
coloca diante das belezas da graça e os males do pecado expressos nos gestos da
pecadora, no pecado de Davi e no amor demonstrado a Jesus e por Ele. O perdão
exige amor.
2.
Para Paulo a graça é a sua união a Cristo a ponto de
dizer: Cristo vive em mim. A força da graça é vida.
3.
O pecado faz mal a todos. É isso que significa a morte
da criança nascida do adultério de Davi.
Jesus era mesmo
danado para aproveitar-se das ocasiões complicadas e tirar um ensinamento
profundo que orientasse os discípulos. Na celebração de hoje temos três casos
de amor.
No
Antigo Testamento lemos sobre o pecado de Davi que se encantou com a beleza da
vizinha. Como era o rei quis para si aquela beleza. Como o caso se complicou
com uma gravidez, mandou matar o marido que era seu fiel soldado. O profeta o
condena em nome de Deus. Davi percebe seu erro e é perdoado. A morte da criança
lhe mostra o mal do pecado.
No
evangelho temos o caso da pecadora pública que se aproxima de Jesus, ajoelha-se
a seus pés. Jesus estava recostado no divã do banquete, conforme o costume, e
os pés ficavam bem à altura da mulher ajoelhada. Ela Lhe lava os pés com as
lágrimas, passa perfume, enxuga com os cabelos e beija. É uma cena forte. O
fariseu condena Jesus no seu íntimo.
Então
temos o diálogo no qual Jesus mostra que a mulher, pecadora, foi muito mais
perdoada do que o bom fariseu Simão que não demonstrara nenhum amor por Jesus
que convidara para o banquete. Deus quer o banquete do coração. Muito se perdoa
a quem muito ama. Confissão sem amor não cura o coração.
O
terceiro caso é Paulo: foi pecador porque firmava sua fé na prática exterior de
Lei. Essa lei eram as tradições, não a Palavra de Deus. O que torna uma pessoa
justificada diante de Deus não é a prática de coisas exteriores somente, mas a
entrega de sua vida a Jesus, como diz o apóstolo: “A minha vida presente, na
carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus”. É preciso ter os mesmos sentimentos
de Cristo.
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