domingo, 12 de junho de 2016

Homilia do 11º Domingo Comum (11.06.16) “É Cristo que vive em mim”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Pecado e Graça
            A Palavra de Deus proclamada no 11º Domingo Comum nos coloca diante do pecado e da graça. Davi cometeu um grave pecado: além de adulterar, manda matar o marido da mulher que caiu na sua maldade. Deus o perdoou. O profeta dá a entender que foi perdoado, mesmo antes de ter reconhecido o erro. Mas ele manifesta seu arrependimento. No Evangelho encontramos a pecadora que traduz seu arrependimento, não com um pedido de perdão, mas mostrando amor. O arrependimento só acontece quando existe o amor. O fariseu não fora capaz de compreender a graça que estava em sua casa, pois não usou do amor nos gestos humanos da hospitalidade. A mulher superou a hospitalidade com a profundidade de um amor arrependido e aberto à graça. Todos nós podemos errar. Mas somente no amor deixaremos ver se nosso arrependimento é sincero. Por isso temos as palavras de Pedro: o amor cobre a multidão de pecados (1Pd 4,8). O forte amor da pecadora não busca perdão de pecados, mas o amor que perdoa. Assim devemos entender o sacramento do perdão como um banho de amor no amor correspondido, não como uma lavagem de consciência. Esse amor se caracteriza pela opção por Cristo como fundamento da vida. Paulo coloca nessa opção o sentido de sua vida. O pecado estará sempre por perto, como disse Deus a Caim: “O pecado está a sua porta. A você compete vencê-lo” (Gn 4,7). Seremos sempre pecadores, mesmo quando formos santos, pois à luz de Deus podemos ver melhor nossos males. A  Prece Eucarística nº 5 nos leva a rezar: Somos povo santo e pecador
A força da graça
            Paulo na Carta aos Gálatas, conta por experiência, que a graça não está na prática exterior na Lei. O que salva é a fé em Jesus Cristo. A palavra lei compreendia também as tradições e ritos. Seriam bons se fossem feitos pela fé. Serão feitos na fé se fizermos como Paulo diz: “Fui pregado na cruz com Cristo” (Gl 2, 19). Não se trata de sofrimento, mas de sua capacidade de assumir Cristo na vida e passar a viver seus sentimentos e sua mentalidade. A força da graça de Cristo torna-se vida. O Apóstolo diz: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou. Eu não desprezo a graça de Deus” (Gl 2,20-21). Esta é a graça que acompanha na luta contra o pecado e todo mal. Vemos tantos desmandos no mundo. Tudo provém da falta da opção fundamental por Cristo. Mesmo nas fileiras da Igreja, o pecado acontece pela falta desse amor de entrega a Cristo, como fez a pecadora. Ela amou com totalidade. Ousou manifestar através do amor carinhoso. A fé e a graça não anulam a natureza.
O pecado faz mal
            É chocante ver que a morte da criança foi o castigo ao pecado de Davi. O filho que morre pode significar para nós que o pecado faz mal não somente a nós, mas cria uma onda de morte.  Não creio que Deus descontasse na criança. Mas nosso pecado destrói o mundo em que vivemos. Quantas pessoas sofrem no mundo por causa dos pecados de muitos. O sofrimento da terra igualmente vem por conta do pecado do homem como escreve Paulo aos Romanos (Rm 8,20-22). A graça faz bem. Os efeitos da graça são maiores e nos trazem os benefícios do imenso amor. O gesto da pecadora é uma lição para que cultivemos a ternura do amor. Era assim que Jesus amava.
Leituras: 2º Samuel 12,7-10.13; Salmo 31,Gálatas 2,16.19-21;  Lucas 7,37-8,3:
 
1.    A Palavra nos coloca diante das belezas da graça e os males do pecado expressos nos gestos da pecadora, no pecado de Davi e no amor demonstrado a Jesus e por Ele. O perdão exige amor.

2.   Para Paulo a graça é a sua união a Cristo a ponto de dizer: Cristo vive em mim. A força da graça é vida.

3.   O pecado faz mal a todos. É isso que significa a morte da criança nascida do adultério de Davi.
 Amor em três casos.

            Jesus era mesmo danado para aproveitar-se das ocasiões complicadas e tirar um ensinamento profundo que orientasse os discípulos. Na celebração de hoje temos três casos de amor.
            No Antigo Testamento lemos sobre o pecado de Davi que se encantou com a beleza da vizinha. Como era o rei quis para si aquela beleza. Como o caso se complicou com uma gravidez, mandou matar o marido que era seu fiel soldado. O profeta o condena em nome de Deus. Davi percebe seu erro e é perdoado. A morte da criança lhe mostra o mal do pecado.
            No evangelho temos o caso da pecadora pública que se aproxima de Jesus, ajoelha-se a seus pés. Jesus estava recostado no divã do banquete, conforme o costume, e os pés ficavam bem à altura da mulher ajoelhada. Ela Lhe lava os pés com as lágrimas, passa perfume, enxuga com os cabelos e beija. É uma cena forte. O fariseu condena Jesus no seu íntimo.
            Então temos o diálogo no qual Jesus mostra que a mulher, pecadora, foi muito mais perdoada do que o bom fariseu Simão que não demonstrara nenhum amor por Jesus que convidara para o banquete. Deus quer o banquete do coração. Muito se perdoa a quem muito ama. Confissão sem amor não cura o coração.

            O terceiro caso é Paulo: foi pecador porque firmava sua fé na prática exterior de Lei. Essa lei eram as tradições, não a Palavra de Deus. O que torna uma pessoa justificada diante de Deus não é a prática de coisas exteriores somente, mas a entrega de sua vida a Jesus, como diz o apóstolo: “A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus”. É preciso ter os mesmos sentimentos de Cristo.

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