PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Curando
os corações
Estamos
vivendo o Ano Santo especial que tem como finalidade viver a Misericórdia de
Jesus e exercê-la em nossa vida. Ano Santo não é só uma comemoração, ou uma
referência a um assunto. É um tempo propício de graça e mudança de atitudes
para que a misericórdia de Deus seja mais acolhida e também assumida como
caminho da Igreja. Papa Francisco não está interessado em movimento de massas
no Vaticano, mas que seja um movimento e uma vivência nas comunidades. Ele
abriu a Porta Santa no coração da África, em Bangui (República Centro Africana)
onde há um clima de grande violência. Por isso a compaixão é a atitude de um
coração convertido à misericórdia. O profeta Elias, no Antigo Testamento,
ressuscita o filho da dona da casa onde se hospedava. Ela pediu (1Rs 17,17-24). Jesus
ressuscita o filho da viúva de Naim que não pediu sua ressurreição. Somente
mostrou sua dor, o que foi suficiente para Jesus sentir compaixão e tomar uma
atitude máxima. Não disse palavras de consolo. Deu a vida ao filho que era a
garantia de vida da pobre viúva, que sem o filho não teria mais futuro (Lc 7,11-17). Os
milagres de Jesus não fazem parte de um espetáculo, mas são conseqüência de sua
misericórdia. Há quem diga que falando muito da misericórdia, esquecemos da
justiça de Deus. É de se perguntar se, quando pedimos a justiça de Deus, nos
colocamos em primeiro lugar da fila para sermos julgados? A ressurreição por
Elias confirma sua missão profética. A ressurreição realizada por Jesus está
unida a sua missão de anúncio da vida nova que receberá do Pai e dará a todos
os que crerem Nele, diz na ressurreição de Lázaro (Jo 11,11). Anuncia também que sua missão é a
ressurreição universal, fruto da misericórdia de Deus.
Critérios
de evangelização
A misericórdia não é somente a realização de milagres
ou um relacionamento amoroso com as pessoas. Ela é um critério para saber se a
missão que exercermos é de fato a de Jesus. É um modo de dirigir a ação
pastoral. A evangelização só produzirá frutos se proporcionar a misericórdia de
Deus às pessoas, de modo especial aos pobres. São eles que devem ditar o modo
como devem ser evangelizados. Se tivéssemos mais misericórdia, o sofrimento do
povo seria muito menor, mesmo nos ensinamentos delicados e difíceis de solução como
temos no momento atual. Precisamos viver e semear a misericórdia. Mantêm-se
regras que estão distantes de resolver a situações. A doutrina deve ser
preservada. Aqui também deve haver ressurreição.
Misericórdia
na pastoral
Jesus
discutia com os fariseus sobre a observância de leis sagradas como o sábado,
afirmando: “Mas
se vós tivésseis conhecido o que significa: ‘Misericórdia quero, e não
holocaustos’, não teríeis condenado os inocentes” (Mt 12,7).
Igualmente temos leis fundamentais tidas como dogmas intocáveis. Não estaremos
repetindo o que fizeram os fariseus? Se tivéssemos em conta a
misericórdia em primeiro lugar seria mais fácil resolver e convencer. Quando
necessitarmos de misericórdia, saberemos o mal que praticamos. Misericórdia não
significa desconhecer a verdade, mas conduzi-la considerando o Evangelho em seu
todo e teorias ideologias de um tempo. Aqui temos um longo caminho de estudo e
busca da verdade, abertos à misericórdia. “Como a mesma medida que medirdes
sereis medidos” (Mt
7,2).
Leituras:1 Reis 17,17-24; Salmo 29; Gálatas 1,11-19;
Lucas 7,11-17
1. No Ano Santo da Misericórdia encontramos Jesus
tendo compaixão e ressuscitando o filho da viúva de Naim. Papa Francisco
insiste na misericórdia que é missão de todos.
2.
A misericórdia é critério para a vida da Igreja e sua
ação pastoral. Ela é critério de análise
da verdade que apresentamos.
3.
As leis intocáveis, e doutrinas extremas para os
fariseus podem estar presentes em nossa pastoral. Não podemos apoiar
dogmatismos que não provêm do Evangelho.
Para uma mãe não se nega nada
As leituras nos dão duas
indicações: Primeiro a ressurreição do filho da viúva de Naim e da mulher que
hospedava Elias em Sidon. Diante da dor das mães, Jesus e Elias ressuscitam
seus filhos.
Jesus
não fazia espetáculo com milagres. Eles nasciam da compaixão pelas pessoas. A
misericórdia vem do coração de Deus. E Jesus sabia sempre usar a misericórdia.
Quem tem capacidade para ressuscitar os mortos, também ressuscita. A
Ressurreição vai além da reanimação de um cadáver, mas está voltada para toda a
condição humana para a vida de Deus. O evangelista Lucas entendeu muito bem
esse modo de ser de Jesus. Ele era médico e conhecia a dor do povo.
Podemos
tirar um ensinamento desse milagre: A viúva de Naim é uma imagem de toda a
humanidade sofrida, perdida e distante de Deus. Diante de seu sofrimento recebe
a misericórdia de Jesus que lhe dá vida a todos os seus filhos. É um
ensinamento: não podemos desprezar os sofrimentos do povo, mas assumir ações
concretas de ressurreição.
Na segunda
leitura lemos Paulo afirmando que sua pregação não vem da inspiração das
pessoas, mas de Jesus Cristo. Ele mesmo foi judeu e viveu com força sua fé
judaica. Quando Jesus o escolhe para a pregação do Evangelho, deixa tudo e
mergulha no conhecimento de Jesus Cristo. Não prega com critérios humanos.
É um grande ensinamento, pois muitos de nós aceitamos
o Evangelho só naquilo que interessa. É o que dizem: sou católico, mas não
aceito tudo. Quem sabe, o que aceitam é o que não é do Evangelho.
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