Temos
refletido sobre a Ressurreição e nossa vida. É uma temática um pouco complicada
porque nós, no que ser refere à Semana Santa, nos fixamos na Paixão. Até na
participação do povo, a Ressurreição fica de lado, quando ela é o centro da
vida cristã, da piedade e da liturgia. Qual é o por que desse fato? Antes do
ano mil, salientava-se muito mais a Ressurreição. Quando a liturgia perdeu a força
e passou-se para a piedade, o sofrimento de Cristo e de Maria tiveram mais
importância. Como Jesus sofredor está mais próximo de nossa realidade, é mais
explicável, a Páscoa ficou relegada. Imaginemos que a Vigília Pascal era feita
de manhã. Só em 1955 é que o Papa Pio XII restaurou a Semana Santa, dando mais
valor à Vigília. A teologia do Mistério Pascal ainda não superou a teologia da
Semana das Dores. Para compreender melhor nossa relação com a Ressurreição de
Jesus, temos que partir do fundamento de todo seu Mistério Pascal que
compreende toda sua vida e, de modo particular, Paixão, Morte e Ressurreição.
Este fundamento é o amor. O que leva Jesus a morrer não é a dor, mas o amor.
Sua entrega total ao Pai, pelo mundo, em sua morte é fruto do amor. A
espiritualidade a partir do amor explica como viver a Ressurreição. O amor de
Cristo é serviço. Na Última Ceia Jesus mostrou o sentido de sua morte, lavando
os pés dos discípulos. Sua morte é um serviço à humanidade. O discípulo deve
servir para se unir ao Mestre: “Se, eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés,
também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como
eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,14-15).
“Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo, 13,35).
526.Amor,
causa da Ressurreição
Para
amar é preciso morrer a si, para viver para o outro. São João diz: “Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”... “Sabemos que
passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3, 13-14). “Deus amou tanto mundo que entregou o seu Filho
único” (Jo 3,16). Nestes pensamentos
encontramos a causa da Ressurreição: o amor. O amor leva a passar da morte para
a vida. Jesus fez esse caminho. E todo ato de amor serviço é um sair de si,
morrer para si pelo outro, e com isso ressuscitar para Deus. É por isso que
Jesus coloca como seu mandamento o amor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns
aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). O
amor é a morte e a ressurreição. Realiza em cada um a passagem da morte para a
vida. Acontece em quem ama o Mistério Pascal de Jesus. É a religião de Jesus.
Fora disso, fazemos coisas boas, mas não chegamos ao núcleo da vida de Jesus.
527. Gotas
de Ressurreição
Não se requerem grandes e
fantásticos gestos de amor. Nós medimos o heroísmo pela grandiosidade e fama do
acontecimento. Jesus não fez assim e ensina: “Quem der, nem que seja um copo
d’água fria, a um destes pequeninos, por seu meu discípulo, em verdade vos
digo,que não perderá sua recompensa” (Mt 10,42).
Não precisa ser um copo d’água, basta um bom pensamento sobre o outro, já é
Ressurreição. Mais ainda, tem em si todo o Mistério Pascal de Cristo, toda sua
ressurreição, pois a grandeza do amor é ser amor. E “Deus é Amor” (1Jo 4,8). Sendo Deus o amor, todo amor nos une
ao Deus por inteiro, e não por pedaços. A riqueza de Deus é sempre total. Onde
existir uma gota de amor, ali está o oceano de Deus.
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