domingo, 20 de julho de 2014

20 DE JULHO – PADRE CÍCERO FOI MAL INTERPRETADO

Juazeiro era apenas uma pequenina aldeia, a três horas de cavalo da cidade do Crato, sede do município, com umas poucas casas e uma capelinha dedicada a Nossa Senhora das Dores. Foi ali, que em 1872, chegou um padrezinho jovem, de 28 anos de idade, formado em Seminário de linha tradicional, em Fortaleza. Sua liderança, seu zelo, sua linha religiosamente firme, mudaram as feições da vila.- Era o P. Cícero Romão Batista, natural do Crato, vizinha sede do município. Tudo andava bem, na simplicidade do trato do padre com o seu povo humilde. Foi quando um inesperado fato aconteceu. Deu-se com uma beata, durante a comunhão. As beatas eram moças consagradas a Deus, uma forma de vida religiosa organizada no Sertão por um antigo missionário jesuíta, Pe. Ibiapina. Pois bem, quando a beata Maria de Araújo comungou em março de 1889, a hóstia que recebeu verteu sangue. No começo, o Padre Cícero abafou o quanto pode o fenômeno. Mas, o fato tornou a acontecer em outras ocasiões. A noticia se espalhou e gente muita acorreu para presenciar o dito milagre. A notícia chegou aos ouvidos do bispo de Fortaleza, que mandou uma primeira comissão para investigar. A comissão concluiu que não havia explicação humana para o fenômeno. O bispo encomendou uma segunda e apressada comissão que decretou que se tratava de invencionice de fanáticos. Os padres das cidades vizinhas, que deram apoio ao fenômeno, foram obrigados a se retratar. Os da primeira comissão foram punidos. E o padre Cícero, suspenso de ordens.- O Pe. Cícero procurou, de todos os modos, que se lhe fosse concedido voltar a celebrar a missa, confessar, casar, batizar. Por um tempo, Pe. Cícero teve que residir em Salgueiro-PE, longe de Juazeiro, como Roma ordenava. E depois de ter impetrado recurso, teve que ir pessoalmente explicar-se ao Santo Ofício. Passou nove meses em Roma, chegando mesmo a ser apresentado ao papa Leão XIII. Veio de lá com uma pena mais branda e a licença de celebrar a missa, a ser confirmada pelo bispo de Fortaleza. Na volta, o bispo não lhe deu permissão. Quando se pensou em fazer uma segunda diocese no Ceará, a disputa cresceu entre Juazeiro e Crato. Juazeiro nem era cidade, por isso travou uma grande luta política e tornou-se sede de município. Mas, não ganhou a sede da diocese, que ficou no Crato. Mas, para preservar a paz na sua cidade, o próprio Pe. Cícero foi eleito prefeito de Juazeiro. Viu-se envolvido em questões, no sentido de preservar sua cidade de manobras dos coronéis da Velha República prejudiciais ao novo município que ele ajudara a nascer.- Nos últimos anos de sua vida, trabalhou muito pela ida de religiosos para sua cidade. Lutou pela ida dos franciscanos, dos premonstatenses e, mais tarde, dos salesianos. Até o fim, lutou em defesa de sua inocência. No dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos de idade, fez sua última viagem. Sua morte foi pranteada pelo Nordeste pobre, que mantinha com ele uma relação de profunda amizade, de amor e respeito entre padrinho e afilhados. Sessenta mil pessoas acompanharam o seu cortejo fúnebre até a Igreja do Socorro, onde foi sepultado, ao lado de sua mãe, de sua irmã e da beata Maria de Araújo. Sua morte não foi a morte de Juazeiro. O fenômeno das romarias não diminuiu, tem aumentado a cada ano. Sua vida e sua obra continuam atraindo a atenção de estudiosos de todo o mundo. Na virada do milênio, o Pe. Cícero Romão Batista foi eleito o cearense do século. – Faleceu dia 20 de julho de 1934.
PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsR
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