PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Transfigurar
todos os valores humanos.
A
Quaresma é um tempo bonito, mas cercado de alguns maus costumes. Primeiramente
são as superstições que se criaram para amedrontar o povo. Sobretudo em se
tratando da Sexta-Feira Santa, ocorre todo um folclore de superstições que a
descristianização da sociedade, aos poucos, faz desaparecer como, por exemplo,
não varrer a casa, não usar martelo, não pentear cabelo etc... Mesmo no campo da
sadia espiritualidade podemos encontrar muitas belas recomendações, propósitos,
penitências, procissões, vias-sacras, jejuns, vigílias etc... que, mesmo sendo
bons, não realizam as orientações fundamentais da Palavra de Deus, sobretudo
por Isaias e pelos evangelhos. Estes textos insistem sobre a vida social da
comunidade: justiça, respeito pelo direito do outro, atenção aos pobres na sua
fome, sede, doença e sofrimentos. Lembramos também as obras de misericórdia
(julgamento final – Mt 25,31-46). O profeta escreve: “Acaso o jejum que eu
prefiro não é outro? Quebrar as cadeias injustas, desligar as amaras do jugo,
tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo o tipo de sujeição? Não
é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobre e peregrinos?” ...
Desta prática depende o resultado da oração: “Então invocarás o Senhor e Ele te
atenderá, pedirás socorro e Ele dirá: “Eis-me aqui”” (Is. 58, 6-7). A
finalidade da Quaresma é espiritual, mas espiritual não quer dizer não meter a
mão na chagas humanas para saná-las. A transformação espiritual atinge também a
transformação do homem em todas as suas necessidades e em todos os seus
valores. Por isso, os costumes e tradições podem ser bons, mas podem nos
desviar do mais importante.
Aliança
de Deus é dar vida ao seu povo.
O
livro do Êxodo mostra que a libertação do povo de Deus é para tirar de uma
escravidão e conduzir para uma terra boa, onde possa ter vida. Este é uma das
promessas de Deus no contrato da aliança. A finalidade do contrato em que Deus
se oferece como parceiro do homem e se compromete, é o bem das pessoas, desde o
bem mais simples material ao “banquete com Deus”, quer dizer, viver sua
intimidade. Deus quer que todos, sem desigualdade, na justiça e no amor, satisfaçam suas necessidades básicas (comida,
água, casa, terra para tirar o sustento (emprego), educação, cultura, lazer,
participação na vida da comunidade, direito à religião e tanta coisa mais).
Deus se compromete a dar isso, no que depende dEle, mas nós, parceiros seus,
nos comprometemos do mesmo modo. Isso é espiritualidade e prática da verdadeira
religião. A espiritualidade “espiritualista” é muito boa, mas não sem este
primeiro passo. É isso que vemos em
Jesus que lava os pés dos discípulos e dá sua vida na cruz, para que a
vida fosse total a todos.
Transfiguração
dos corações.
Sem a conversão do coração
ao Deus e ao irmão, não conquistamos o que Jesus nos deu com sua morte e
ressurreição. Sem esta atitude de verdadeira espiritualidade, nossa mensagem ao
mundo torna-se inútil e incompreensível. Por que todo mundo gosta de S.
Francisco e M. Teresa de Calcutá? Porque realizaram este projeto em suas vidas.
A onda do momento é o espiritualismo repetindo algumas atitudes do passado que
nem sempre são boas. Devemos ouvir com mais atenção à Palavra de Deus que
transfigura nosso coração.
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