Indo à Basílica de São Pedro pelo Lungo Tevere – a avenida que bordeja o histórico Rio Tibre – o romeiro é surpreendido por uma bonita igreja que tem o imponderável de conter algo muito singular. Não é só o fato de seu estilo neogótico evocar a França e destoar do distendido conjunto arquitetônico romano. Luminosa, delicada, esguia, risonha, mas infelizmente fechada boa parte do dia, a Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio fica a dois quarteirões de Castel Sant’Angelo e da Via dela Conciliazione, que leva direto ao Vaticano. Nela se encontra o Museu das Almas do Purgatório, quer dizer, uma coleção de sinais do além deixados por essas almas, que na maioria das vezes apareceram ardendo internamente a parentes ou irmãos de religião, sempre pedindo orações para saírem do Purgatório, onde pagavam penas devidas a seus pecados antes de irem para o Céu. Nele os objetos estão expostos dentro de quadros protegidos por vidros, encostados uns aos outros por causa da exiguidade da sala. Talvez seja o menor museu do mundo. E, entretanto, pode-se dizer que o tema ao qual se dedica é mais transcendente que o de muitos museus mais ricos e famosos. A importância do Museu evidenciou-se ainda mais com a entrevista realizada há pouco por uma TV italiana com o pároco da igreja, o Pe. Domenico Santangini. Como ela foi feita em italiano, transcrevemos todas suas palavras para o português e apresentamo-la aqui.
Os singulares objetos que fazem parte do Museu – roupas, madeiras e outros objetos queimados com formas de mãos e outras pelas almas em fogo – merecem serem estudados pela ciência.
Como católicos nada tememos sobre as verdades de Fé envolvidas no caso. O Purgatório não foi objeto de uma definição solene ex-catedra, mas são inúmeros os ensinamentos revelados contidos nas Escrituras e não é lícito duvidar de sua existência.
Se os teólogos discutem sobre ele, é apenas sobre seu lugar e outras circunstâncias que não mudam o fato essencial: o Purgatório existe e por ele devem passar as almas destinadas ao Céu que devem pagar penas por faltas cometidas na Terra.
Diz-se até que a grande Santa Teresa de Jesus teria passado pelo Purgatório para fazer uma genuflexão que não fez certa vez ao atravessar uma capela...
Como sói acontecer, estudos científicos poderiam fornecer detalhes materiais que contribuiriam para compreendermos melhor a realidade desse lugar do além, o qual não está tão longe de nós como poderíamos achar.
Em consequência, nós nos sentiríamos mais convidados a rezar pelas almas que nele estão – quem garante que também nós não estaremos lá um dia? – e fazermos uma meditação sobre o destino final de nossa existência.
“Pensa nos teus novíssimos e não pecarás eternamente” (Eclo 7, 40) – ensinam as Escrituras.
Aliás, o caso desse museu não é o único sobre o qual as ciências não se debruçam. Mas é algo muito concreto, material: as provas estão gravadas com fogo em panos, folhas, livros e móveis que a gente vê com os próprios olhos e que nos abre uma janela para uma imensa realidade.
Pe. Domenico Santangini, pároco do Sagrado Coração do Sufrágio, Roma: É certo que o Purgatório existe, embora não seja uma verdade de fé absoluta como o Inferno e o Paraíso. Porém, para a Igreja, é uma realidade autêntica, verdadeira. Muitos, infelizmente, fingem não acreditar ou não acreditam de fato, por motivos pessoais. Para nós existe.
Como? Por quê? Porque o homem é pecador e, enquanto tal, para chegar ao Senhor tem necessidade de purificação. E esta passagem das almas boas é obrigatória, uma passagem para ter uma alma limpíssima.
É lógico que o Purgatório é uma passagem para o Paraíso, não pode ser para o Inferno, porque o Inferno é uma condenação absoluta e imediata. Portanto, procuremos descobrir a importância do Purgatório e de rezar muito pelas almas do Purgatório, porque, uma vez que estas almas entram no Paraíso, elas podem interceder por nós que estamos aqui embaixo.
Portanto, caros amigos, caríssimos fiéis, permanecei tranquilos e serenos. O Purgatório é uma grande verdade, uma grande realidade que não podemos deixar de reconhecer.
Quando falamos do além, falamos das almas do Purgatório. Certamente podemos falar do Inferno. Mas, não cabe a nós estabelecer quem está no Inferno ou no Purgatório. Só o Padre Eterno sabe, por isso nós cristãos de boa fé, quando encomendamos uma Missa pelos defuntos, a encomendamos pelas almas do Purgatório.
As almas santas podem se fazer sentir, “se apresentar” a nós, de muitas maneiras. Poder ser num sonho, pode ser num elemento exterior, pode ser uma intuição, pode ser algumas vezes uma aparição.
Assim como temos nesta paróquia, existem testemunhos que põem em evidência como as almas do Purgatório pedem a nós, vivos, orações ou Santas Missas para que elas possam ser liberadas dos sofrimentos do Purgatório.
Por que o Purgatório é sofrimento? Por quê? É sofrimento porque ainda não chegaram a Deus. É o sofrimento da separação de Deus. Esta separação cessa quando entram no Paraíso.
Quem pratica o espiritismo não faz outra coisa senão invocar a alma dos mortos, mas, se respondem, esses mortos querem dizer que estão no Inferno, porque as almas que estão no Purgatório, embora distantes do Senhor, não se prestam ao nosso jogo humano de invocação, enquanto que as almas do inferno, que já são almas perdidas, como verdadeiros diabos então respondem, para poder atrair outras almas para onde elas estão. Portanto, o espiritismo é exatamente o oposto da oração ou da aparição dessas almas aos vivos. É exatamente o oposto.
O bom cristão não pode não acreditar no Purgatório. Porque se ele não crê no Purgatório não é um verdadeiro cristão, transforma-se quase em um pagão. Sim, um pagão.
Jesus nos disse muitas vezes no Evangelho que, no Fim do Mundo, Ele levará ao Paraíso as almas dos justos que dormem o sono da paz. Os levará ao Paraíso. Então, quer dizer que existe esta passagem.
Lógico, há santos que talvez vão direto ao Paraíso. Mas muitas almas, por faltas mais ou menos graves, passam pelo Purgatório.
Mas o espiritismo é uma coisa nefasta, e os cristãos que vão consultar esses charlatões cometem pecado grave, gravíssimo. |
Avental de uma Irmã |
Jornalista: E fazer encomendas é pecado?
Pe. Domenico Santangini: É pior ainda. É pior ainda. Por favor, não façam essas coisas. Porque é o demônio que responde, e de fato toma conta da vossa alma.
O demônio é velhaco, velhaquíssimo. Devemos verdadeiramente evitar ir, e dizer aos outros para não o fazer – a nossos parentes, amigos –porque, de outro modo, podem comprometer sua alma. Quando dizemos que alguém vende a alma ao demônio é através dessa via, desse espiritismo, dessas evocações.
Jornalista: Entendemos, portanto, qual é a diferença entre a invocação dos defuntos pelo espiritismo, e a simples oração e a veneração. Mas voltemos ao Purgatório. Este local que pela sua natureza é uma realidade ultraterrena, deixou sua marca e é uma marca muitíssimo tangível. Olhemos.
Pe. Domenico Santangini: Aqui, em 1895, não havia nada, apenas uma capela. Em 15 de novembro de 1897 houve um incêndio fortuito e, quando o incêndio foi apagado, uma imagem misteriosa ficou impressa na parede da capela.
Agora lhe faço ver exatamente o original. É a imagem de um homem que sofre, pelo que o Pe. Victor Jouët (N.T.: 1839-1912, missionário do Sagrado Coração, de Issoudun, França), capelão que cuidava desta igrejinha e devoto das almas do Purgatório, entendeu: “Este é um sinal dessas almas que querem uma igreja dedicada às suas intenções”.
Então, quando a notícia se espalhou pela região, segundo as crônicas, houve um afluxo de gente durante oito dias, de milhares de pessoas para verem este fenômeno. Então, o Pe. Jouët teve a ideia de construir neste local uma igreja dedicada ao Sagrado Coração do Sufrágio. Quer dizer, do sufrágio das almas do Purgatório.
E o Pe. Jouët era um engenheiro que se tornara padre. O que é que ele fez? Fez a planta de uma igreja gótica, porque a área era reduzida. Encomendou trabalhos para poder erigir esta igreja. Mas não havia recursos.
Pediu ajuda ao Papa, e então o Papa Leão XIII aprovou e deu uma ajuda. Mas ele próprio foi na França ver sua família em Marselha, que era uma família de posses, e ali recebeu também ajudas. E assim o prédio da igreja foi subindo.
Durante esta construção, que durou até 1912, como ele era devoto das almas do Purgatório, foi viajando pela Europa para buscar testemunhos que dissessem a verdade sobre o grande mistério do Purgatório.
Jornalista: Não somente esta imagem é custodiada como prova da existência do Purgatório. Há outras que constituem verdadeiras provas. Esta história é de tal maneira incrível que ficou decidido dar vida ao único Museu do Purgatório do mundo.
Pe. Domenico Santangini: Entremos no pequeno Museu do Purgatório. Mostrar-lhes-emos todos os testemunhos reunidos pelo Pe. Jouët, o fundador desta igreja e deste museu.
Já o dissemos: são imagens, são testemunhos de uma realidade – a do Purgatório – fundamental para nós. Devemos procurar verdadeiramente ter uma devoção profundíssima pelas santas almas do Purgatório. Rezar por elas, fazer rezar Missas por elas, porque é o único modo de liberá-las dos sofrimentos do Purgatório. Sofrimento devido ao afastamento do Senhor.
Porque se nós fazemos entrar no Paraíso uma só alma do Purgatório, esta alma, uma vez dentro do Paraíso, terá para conosco um movimento de gratidão pelo dom recebido.
Eis por que resulta muito espontâneo crer na Comunhão dos Santos: os santos do Paraíso, os santos do Purgatório e nós aqui na Terra, Igreja militante que estamos caminhando rumo ao Paraíso e, infelizmente com frequência, passamos pelo Purgatório”.
Em 1900, Pe. Jouët fundou a revista Il Purgatório. Até 1912, ano em que o Pe. Jouët morreu, tinha recolhido 280 marcas de pirogênese, bem documentadas, de todo o mundo. O Bispo Gilla Gremigni e o Pe. Ricasoli selecionaram o que mais os impressionara do material do Pe. Jouët e de outros, com melhor documentação, mais testemunhos e aprovações das autoridades. Formaram assim o "Piccolo Museo del Purgatorio", na Via Lungo Tevere Prati, 12, propriedade da Arquiconfraria, e adjacente à Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio.
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Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio, Roma |
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