quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Seduziste-me, Senhor!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
AO LADO
PADRE JOSÉ OSCAR BRANDÃO(+)
AMBOS SACERDOTES REDENTORISTAS
NA PAZ DO SENHOR
Tome sua cruz
 
A liturgia da Palavra orienta a vida cristã no seguimento de Jesus e nos faz conhecer o que implica essa atitude. Jesus fala de seu caminho a Jerusalém para a Paixão e explica como se deve seguí-lo. O texto vem logo após a profissão de fé de Pedro, fundamento sobre o qual a Igreja é construída. Essa fé não é somente intelectual ou espiritual, mas exige caminhar com Jesus. Jesus anuncia que deve ir a Jerusalém, sofrer, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16,21). Quem professa a fé em Jesus, assume seu caminho de morte que garante a Ressurreição. Notemos que, a seguir a este texto, temos a narrativa da Transfiguração de Jesus (Mt 17,1-8). Para Ele, o caminho da paixão e da cruz conduz à Ressurreição, prefigurada pela Transfiguração. Para o discípulo, aquele que aceitaR Jesus, renunciar a si mesmo, tomar a cruz e saber perder a vida e o mundo, toma o caminho leva à ressurreição e à transfiguração. A fé exige uma conduta de vida. Não significa anular a vida, mas torná-la plena a partir da profissão de fé e identificação com a vida de Jesus. Isso acontecerá quando o discípulo se deixar seduzir por Jesus. Um dos textos mais belos da Bíblia é este: “Seduziste-me Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). É o encantamento pela pessoa e proposta de Jesus. Como o profeta, não daremos conta de frear esse entusiasmo, que raia à loucura. Rezamos no salmo: “Desde a aurora, ansioso vos busco! A minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja como terra sedenta e sem água” (Sl 62,2). Essa invasão que Deus faz em nós, deixa-nos como terra rachada pela seca que implora a água em sua sede. Quando dizemos “tomar a cruz”, pensamos no sofrimento. Pensemos, antes, na disposição de saciar a sede que temos de Deus, seguindo Jesus para as fontes de águas correntes. A força de nosso coração está em comprometermo-nos com Ele e com sua Palavra.
Fogo ardente 
Certa vez, os familiares de Jesus quiseram detê-lo. Pensaram que tivesse enlouquecido, pois não tinha tempo para comer (Mc 3,2-21). A sedução que o Pai exercia nEle, levava-o a dar-se todo até à morte e morte de cruz (Fl 2,8). Vemos também o profeta Jeremias, desanimado de sofrer pela Palavra. Ela se tornara para ele fonte de vergonha e gozação, o dia inteiro. Por isso decidiu: “Não quero mais lembrar-me, disse, nem falar mais em nome dele” (Jr 20,8-9). Infelizmente algo foi mais forte: “Mas, em meu coração havia um fogo ardente, fechado em meus ossos; eu me esforçava para contê-lo, mas não podia” (Jr 20,9). Jesus também sentia esse desejo interior: “Há um batismo em que hei de ser batizado; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12,50). Nossa fé só é frutuosa quando nos deixarmos seduzir e devorar por esse fogo. Deus não o nega a ninguém, aliás, o oferece. 
Culto espiritual 
Culto a Deus, não se reduz a ritos exteriores, mas está em nosso interior, impregnado nossos corpos. Por isso Paulo nos convida: “Eu vos exorto a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar” (Rom 12,1-2). Somos chamados a nos conformar a Jesus Cristo em disposição interior de caminhar para a realização do desígnio do Pai, com a certeza de que não será confundido (Sl 71,1). O sacrifício de Cristo culmina na cruz, mas ele é um sacrifício vivo desde sua encarnação. Ele é um culto espiritual em sua oferta: “Eis que venho fazer vossa vontade” (Hb 10,7). 
Leituras: Jeremias 20,7-9; Salmo 62; 
Romanos 12,1-2; Mateus 16,21-27 
1. Tratamos do seguimento de Jesus que fala de seu caminho a Jerusalém para a Paixão e explica como seguí-lo. Esse texto vem logo após a profissão de fé de Pedro. A fé não é somente intelectual ou espiritual, mas exige caminhar como Jesus, assumindo seu caminho de morte que garante a Ressurreição. Logo a seguir, encontramos a Transfiguração. Da morte para a vida. Jesus propõe ao discípulo renunciar a si mesmo, tomar a cruz, saber perder para chegar à Ressurreição. É preciso deixar-se seduzir por Jesus. A força de nosso coração está em nos comprometer com Ele e com sua Palavra. 2. A sedução que o Pai exercia sobre Jesus, impelia-o a dar-se todo até à morte e morte de cruz. Jeremias era dominado pela Palavra. Mesmo querendo abandonar tudo, não consegue, pois tinha dentro de si um fogo que lhe consumia os ossos e ele não conseguia contê-lo. 3. O culto que prestamos a Deus não se reduz a ritos exteriores, mas está no interior, impregnando nossos corpos. Paulo convida-nos a oferecer o culto espiritual que é o sacrifício vivo. Este consiste em não nos conformarmos com o mundo, mas renovar a maneira de pensar, caminhando para a realização do desígnio do Pai. Nosso sacrifício, como o de Cristo, será sempre fazer a vontade do Pai. Um bom negócio Jesus faz uma proposta muito clara para quem quer seguí-lo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar sua vida, vai perdê-la. Quem quiser perder sua vida por causa de mim vai encontrá-la”. Parece que em Jesus tudo vem na contra mão. Ou somos nós que estamos na contramão? E acrescenta: “Que adianta ganhar o mundo inteiro, mas perder sua vida?”. Jesus quer realmente dar a vida, por isso enfrenta sua paixão e morte com muita decisão. “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-o e renovando vosso modo de pensar e de julgar”. Tudo isso vai acontecer, como lemos em Jeremias 20,7-9, se nos deixarmos seduzir por Deus.
Homilia 22º Domingo Comum(31.08.2008)

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