PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 53 ANOS CONSAGRADO 46 ANOS SACERDOTE |
A comunidade cristã, como lemos no evangelho de Mateus, passava por muitas dificuldades para viver sua fé nova no mundo em que vivia. Um dos problemas era a aceitação dos pagãos à fé cristã. A mulher cananeia é símbolo dessa situação. Carrega diversas maldições sobre si: Ser mulher. Para os antigos, este era um mal necessário. Em segundo lugar, é descendente de Cam, o filho amaldiçoado por Noé. Os cristãos se perguntavam se poderiam os pagãos ser cristãos. Mateus quer responder à comunidade com o fato apresentado. Naquele momento Jesus está fora do território de Israel (Tiro e Sidon, hoje território libanês). A mulher grita uma oração: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” (Mt 15,22). Suplica e chama Jesus de Senhor, nome dado a Deus. Chama-o de Filho de Davi, o Messias prometido. Ela clama: “Tem piedade de mim!” É a oração dos salmos. Mesmo sendo pagã, faz uma prece perfeita. Os discípulos não perceberam a intensidade de sua fé e pedem que Jesus enxote a incômoda. Jesus diz ainda que veio só para os filhos de Israel. A mulher insiste: Pior ainda: Jesus diz uma palavra que para nós é horrível, mas era o vocabulário religioso: “não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cães”. Está reafirmando a situação em que a mulher se encontra dentro do quadro social. No seu sofrimento supera o possível ressentimento e diz: “Os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos” (27). É um retrato triste: a exclusão. É um mal que ainda existe.
Mulher, grande é tua fé!
No acontecimento podemos ver que havia uma tendência, na comunidade, de se fechar aos pagãos continuando a mentalidade dos judeus. Paulo rejeita a posição dos que queriam impor a lei judaica aos pagãos convertidos. É o que se faz hoje em tantos ambientes de Igreja e de outras concepções cristãs, impondo-se regras inúteis, discriminatórias, como sendo até divinas. A discriminação, hoje, atinge sobretudo aos mais pobres, esses aos quais a vida jogou em tantas dificuldades como vida irregular. Jesus, ao final desta novela, entra como o Redentor de todos, como Reino de todos. Reconheceu a fé da mulher. “Grande é tua fé! Seja feito como queres! E a menina ficou curada” (28). Em outro lugar vamos ouvir de Jesus as palavras: “Não vi tanta fé em Israel”. Mateus ensina que fora do povo judeu pode haver uma grande fé. É o que notamos: mesmo em situações difíceis, podemos encontrar profunda vida de fé, até fora da Igreja.
Casa de oração para todos os povos
A mulher cananéia é figura também de tantos povos que buscam Deus de modo sincero. A mulher traz um profundo anseio: O Reino é para todos! Jesus reconhece a fé, não impõe regras inúteis, pois sua casa, como escreve Isaías, “é casa de oração para todos os povos”. O profeta escreveu essas palavras superando o exclusivismo de Israel que se pensava como o único para Deus. A Igreja também tem de se abrir, despojar-se, ter abertura, menos regras e abrir-se ao grito da humanidade. Há muito descaso e pouca evangelização. É preciso, como Jesus, sair do território e ir buscar onde há tanto grito de dor sufocado. Vamos olhar com amor para aqueles que sofrem.
Leituras: Isaias 56,1.6-7; Salmo 66;
Romanos11,13-15.29-32;Mateus15,21-28.
Ficha:
1. Mateus coloca no caso da mulher cananéia que busca a cura de sua filha, a situação da comunidade que não entende a entrada dos pagãos na Igreja. Seguindo o modo de pensar dos judeus, os pagãos estavam excluídos. A fé que a mulher pagã demonstra é a expressão dos povos novos que buscam a Igreja.
2. A Igreja não pode agir por critérios que excluam as pessoas, sobretudo quando se trata de discriminação. Jesus reconheceu: “Mulher, grande é tua fé”. Podemos encontrar fé profunda em corações arrebentados pela vida. Jesus dissera que os pecadores nos precederão no Reino, pois O recebem com mais entusiasmo.
3. A mulher é figura dos povos que buscam a Deus de modo sincero. O Reino é para todos. Jesus reconhece a fé, não impõe regras inúteis, pois sua casa é oração para todos os povos. A Igreja precisa abrir-se ao grito da humanidade. É preciso, como Jesus, sair de seu território e buscar longe onde há tanta dor sufocada.
Homilia do 20º Domingo do Tempo Comum
EM AGOSTO DE 2005
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