sábado, 5 de junho de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Bendito o homem que confia no Senhor!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
MISSIONÁRIO REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
Árvore à beira d’água.
 
A vida cristã é feita de escolhas. Deus sempre propõe, nunca impõe. Nós impomos. Talvez seja porque não temos capacidade de apresentar escolhas consistentes. A grande proposta de Deus é uma proposta de felicidade: “Felizes os pobres de espírito” (de Lucas 6,20). Esta proclamação da felicidade já a encontramos no salmo 1º que é uma síntese de todo o saltério. Este salmo começa justamente com as palavras “feliz o homem que não anda conforme os conselhos dos perversos, mas na lei do Senhor encontra seu prazer e a medita sem cessar” (Sl 1,1). A introdução da pregação de Jesus começa com a mesma proclamação “felizes os pobres”. Esta felicidade como diz o profeta Jeremias, é retomada pelo salmo: “feliz o homem que confia no Senhor”. Tanto o profeta como Jesus e o salmista têm uma certeza: Ele é fonte da vida, como “a árvore plantada à beira d’água”. A árvore à beira d’água tira dela sua vida e produz fruto. São João vai usar o termo ramo unido à árvore, de onde tira vida (Jo 15). O salmo diz que esta árvore produz fruto e as folhas estão sempre verdes. O homem perverso não tem consistência, pois é com palha que o vento leva (Sl 1). Confiar em Deus é firmar-se nEle. O que é produzir frutos? É uma disposição pessoal de assumir um caminho e ter suas raízes onde estão as fontes da vida. 
As fontes da vida. 
O verbo confiar tem a mesma significação de ter fé. É agir com fé. É a atitude de quem leva a fé ao dia a dia. Assim, igualmente, confiar é estar unido à fonte da vida. O profeta Jeremias diz: “maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne, enquanto seu coração se afasta do Senhor” (...), ao contrário do homem “feliz cuja esperança está no Senhor”. As fontes da vida estão nesta confiança em Deus, que se demonstra na pobreza (felizes os pobres), na fome (felizes os que agora têm fome), no pranto (felizes os que agora choram) e os que sofrem perseguição (felizes os que agora são perseguidos). Jesus não proclama que ser pobre, ter fome e sede, sofrimento e perseguição são fonte de alegria e felicidade, mas que aqueles que, estando nestas situações confiam em Deus serão satisfeitos, pois terão de onde tirar as razões de se saciarem com o pouco, de se satisfazerem e de sentirem força na perseguição. São sempre os paradoxos de Jesus. Ele passou por isso. Ao contrário, aqueles que têm tudo, vivem na fartura e na boa vida e elogiados por todos, se não têm de onde tirar a segurança que dura, quando lhes faltar estas guloseimas, não saberão como viver. Podemos assim entender o que significa crer na ressurreição, como diz Paulo em 1ª Coríntios, que lemos na segunda leitura. 
Maldito, quem? 
Quando fala de maldito o que confia no homem, o profeta não está desprezando o aspecto humano e necessário das relações de fraternidade Podemos encontrar até na espiritualidade esta palavra que é muito citada: “quanto mais fui para o meio dos homens, menos homem voltei” (Imitação de Cristo). O sentido aqui é este: quanto mais me afastei de Deus menos homem me tornei, pois, por ter por reprováveis as relações de fraternidade entre as pessoass, é contário ao Evangelho. 
Leituras: Jeremias 17,5-8; 
1ªCoríntios 15,12.16-20;Lucas 6,17.20-26) 
Homilia do 6º domingo do Tempo
EM FEVEREIRO DE 2004

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