segunda-feira, 1 de março de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Por que tendes medo? Não tendes fé?”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
(Ao lado o sempre estimado Padre Brandão)
Novo tempo litúrgico
 
A partir da festa de Pentecostes, iniciamos a parte do tempo litúrgico chamada Tempo Comum. Temos uma série de domingos que vai do 12º ao 33º que é festa de Cristo Rei. Não celebramos neste tempo festas especiais do Mistério Pascal de Cristo, como faz a Quaresma, a Páscoa e o Natal. Mas celebramos a vida da Igreja. Celebramos o domingo como a Páscoa semanal e celebramos nosso cotidiano como o lugar onde Deus se manifesta. Celebramos a festa dos santos que viveram o Mistério de Cristo na sua vida. 
Um Deus adormecido. 
A figura de um Deus adormecido! É impressionante. Não vê a tempestade, não vê o desespero dos discípulos. Apenas dorme. Os discípulos acordam o Mestre e lhe chamam a atenção: “Não te importas que morramos todos?” Ele, como o senhor do universo, levanta-se e comanda o espetáculo do vento e do mar: “Silêncio! Cala-te!” Comanda o espetáculo dos apavorados discípulos. “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” A situação é intrigante. O perigo é grave, e Ele dorme tranqüilo. Estava cansado, estava sereno. 
Sofre as demoras de Deus! 
Jesus dorme! Passamos na vida cristã momentos duros, que duram e doem. Rezamos, sofremos e imploramos. A tensão e os sofrimentos tornam-se sempre maiores. Dizemos: Mas por que? Deus não ouve? Por que ouve os outros e a mim não? Aí vem o desespero. Apelamos para tudo e até de religião mudamos. Ou corremos atrás de outras coisas. Deus continua silencioso. Dorme. Culpamos, ou culpam, nossa oração taxando-a de fraca. Vamos ao limite, chegando mesmo a perder aquilo que era caro. Deus não ouviu? Como fica isso diante de toda a promessa de ouvir quem pede? São Tiago diz que não recebemos porque não sabemos pedir (Tg 4,2-3). Mas minha vida é correta, minha oração é constante. Jesus neste acontecimento não se ausenta, faz-se presente através de sua fé. Mesmo que não seja atendido fique fiel. Pode ser que a graça tenha sido atendida justamente pelo fortalecimento da fé e da confiança. Quantos fiéis não viram tudo perdido e ficaram fiéis. Lembre-se de Jó. Deus lhe tirou tudo. Ele diz: “De Deus recebi, a Deus devolvo. Bendito seja seu santo Nome” (Jo.1,21). Assim você receberá a certeza de levar seu barco à praia. Na angústia tenha a certeza de Sua presença, mesmo se Ele dorme. O medo pode pegar-nos, mas não deixe que a falta de fé tome conta de você. Pai, seja feita a tua vontade (Mt 26,42). Jesus teve medo, suou sangue, mas não se entregou. Jesus pediu que Deus o libertasse. Ele o fez na ressurreição, mas depois de sua entrega total na morte. 
Nova criatura. 
A fé faz de nós novas criaturas que não vivem mais para si mesmas. Quem está em Cristo é uma nova criatura. O que era velho desapareceu. Agora tudo é novo. É preciso caminhar na novidade de vida: sentir-se amado por Deus, viver na liberdade de ser sido livre do mal e da prisão dos defeitos e vícios. Viver a novidade de vida e estar tranqüilo quando as ondas batem e até nos afogam. É saber-se seguro em suas mãos, mesmo quando ele dorme. 
(Leituras: Jó 38,1-11; 2 Coríntios,14-17; 
Marcos 4,35-41)
Homilia do 12º Domingo do Tempo Comum  (22.06)
EM JUNHO DE 2003

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