Continuamos a reflexão sobre o
ensinamento do Papa Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho). Essa temática
toca no coração do ensinamento de Jesus para o momento atual. Não é uma invenção
do Papa, mas a iluminação da Palavra de Deus para a redenção de todos. Na
legislação do Antigo Testamento compreendemos o grande cuidado e carinho de
Deus para que o acúmulo não prejudique a felicidade das pessoas e impeça que
todos tenham vida. O modelo não é político, é Divino. Refletimos sobre o grave
problema do consumismo que se torna a mola do mundo financeiro. É uma máquina
que envolve todos e toda estrutura social. Certamente que isso não muda com um
estalar de dedos. O problema não é o consumo, como diz nosso Pastor, é a
tirania que exerce. A primeira consequência desta tirania é a formação de uma pequena
classe que têm o bem estar e uma maioria que não. Não pensemos em nosso
mundinho fechado. O mundo vai além de nossos muros. Vivemos num paraíso em
comparação com as imensas porções da humanidade que sofre. Junte-se a isso a
corrupção, os juros, a ambição do poder com prejuízo para o meio ambiente, para
as populações humildes, para as necessidades básicas do povo. Lembramos aí a
propaganda que torna o pobre mais pobre, pois é vítima desta tirania. A justiça
social não empobrecerá os que possuem, pois o amor multiplica.
1520.
Governar a partir do homem
Temos visto como tudo gira em
torno do deus Mamona (dinheiro). A
política está voltada para o interesse pessoal, a estrutura eivada pela
corrupção e o abuso do poder. Basta abrir os jornais que vemos essas situações
bem expressas. Se não houvesse tanto desvio, o país teria condições de superar suas
misérias. Por que os cargos públicos são fonte de enriquecimento nem sempre
lícito. Papa escreve: “Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um
regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano” (58). A desigualdade
gera violência e fomenta as guerras, que são fruto da monstruosa venda de armas
e lugar de experiências de novos meios de matar. Quando há uma guerra, quem
sofre são as populações pobres, sobretudo as crianças. Sabemos que a corrida
armamentista é um fruto deste mal. O mal se avoluma e atinge os sistemas
políticos e sociais “cristalizado nas estruturas injustas”. O Papa afirma que
“os mecanismos da economia atual promovem uma exacerbação do consumo, mas
sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social é danoso
para a sociedade”. Alguns reclamam de tocarmos nesses assuntos. Eles próprios
são vítimas dessa situação. Esse assunto se refere em primeiro lugar ao
primeiro mundo.
1521.A
alegria de servir
Nesse
quadro complicado da economia (mais complicado ainda se soubermos analisar com
mais profundidade), não precisamos de muito conhecimento e sabedoria para
reverter a situação. É bom lembrar que ninguém quer tirar nada de ninguém.
Lembramos que Maria rezou: “Cumulou de bens os famintos e despediu os ricos de
mãos vazias” (Lc 2,52-53). Essa poesia se
move pela contraposição. D. Helder Câmara (foi tão perseguido por essa raça de
gente) diz que não precisamos reverter o quadro, mas todos somos irmãos. O dom
de servir é muito maior e dá uma alegria que não termina. Jesus não precisou
desse esquema. S. Francisco, o pobre, e tantos outros viveram essa verdade e
são lembrados até hoje. Onde estão os donos do mundo passado que geraram essa
situação? Nem seus nomes existem mais. Colocar-se a serviço do mundo é ser
servido por Deus.
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