Na
cultura religiosa judaica nós temos esse conceito de memorial. Os cristãos
católicos e orientais também têm esse conceito em sua fé e nas celebrações. O termo
memória (anámnesis) não se refere à memória que é uma de nossas qualidades
humanas. Nela está armazenado tudo o que aconteceu conosco e em nossa volta.
Essa memória é um termo hebraico (zikaron). O termo memória tem um sentimento
de presença atuante do fato lembrado e celebrado com ritos. A celebração torna
presente e atuante o fato de que se faz memória. No livro do Êxodo, lemos a lei
sobre a Páscoa: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor,
que haveis de celebrar por todas as gerações” (Gn 12,14). E Acrescenta: “Quando vossos
filhos vos perguntarem: ‘Que significa esse rito’ (A Páscoa), respondereis: “É
o Sacrifício da Páscoa do Senhor, quando ele passou adiante das casas dos
Filhos de Israel no Egito, ferindo os egípcios e livrando as nossas casas” (Ex 12,26-27). Cada
judeu se sente libertado pessoalmente do Egito. Sempre há um sentido de
presença pessoal ao fato do qual se faz memória. Segue-se também que a ação de
Deus se torna presente, como no acontecimento histórico em que ocorreu o fato
libertador de Deus. É uma liberdade para sempre. Não celebramos fatos passados,
mas o Deus que se faz presente com o mesmo vigor libertador. Há outros fatos
com a colocação de um marco memorial, como na passagem do Jordão, quando Josué
fez um altar de pedras, para ser um memorial dessa passagem (Js 5,20-24). Assim
podemos compreender o sentido de memória.
Memória
sacramental
Jesus, com seus
discípulos, celebra a Ceia Pascal como um Memorial, como o fazem os judeus
todos os anos, desde a origem dessa tradição judaica. Essa ceia, em seus
diversos ritos, torna presente à libertação do Egito. Jesus faz o mesmo. Mas no
momento de fazer a memória dessa libertação, muda-lhe o sentido. Não destrói a
aliança antiga, mas a leva à sua maior realização que é a nova e eterna
aliança. Diz: “E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles dizendo
“Isto é o meu corpo que é dado por vós. “Fazei isto em minha memória”. “Depois,
tomando o cálice: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue que é derramado
por vós’” (Lc 22,19-20). Faz o mesmo
rito, mas muda o sentido. Paulo, já conheceu uma tradição estabelecida da Ceia
do Senhor. Diz como Lucas e acrescenta: “Pois todas as vezes que comeis deste
pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26), utilizando o mesmo termo: “Isto é meu corpo que é dado
por vós, fazei isto em memória de mim”. Na missa, dizemos o mesmo: “Celebrando
a memória da Paixão de vosso Filho, sua Ressurreição dentre os mortos e sua
gloriosa Ascensão aos Céus...” (Prece nº 1), realizamos
o mesmo mistério. Todo sacramento, presença de Cristo, nos faz participantes de
seu Mistério Pascal (SC, 7).
Memórias
de Cristo
A
memória tem também um sentido pessoal. Nós também podemos ser memórias vivas de
Jesus Cristo na sua Redenção. Continuamos seu mistério de salvação. Quanto mais
vivo o Evangelho e me uno a Jesus Cristo, mais posso ser uma viva memória de
sua vida e de seu mistério de Redenção. Nós o realizamos, sobretudo quando
vivemos intensamente seu mandamento de amor mútuo. Por que o amor? Porque toda
obra da Redenção se fez no amor do Pai que entrega o Filho, que responde ao Pai
no amor e nos salva por amor. “Tendo amado os seus que estavam no mundo,
amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1). O amor de entrega de Cristo está presente em todos os
sacramentos.
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