O
tema da liberdade necessita de muita reflexão. Paulo ensina: “Para a liberdade
Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um
jogo de escravidão” (Gl
5,1). Paulo não se refere à escravidão social e afirma: “Não há judeu
nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós
sois um em Cristo Jesus” (Gl
3,28). O ser em Cristo é a condição de igualdade de todos. “Aquele que
era escravo quando foi chamado no Senhor, é um liberto no Senhor” (1Cor 7,22). Mas a
escravidão que nos interessa não é a física, mas as escravidões íntimas,
espirituais que acontecem num contexto que necessita ser estudada. É bom
lembrar que esse assunto não se restringe à Igreja Católica, mas às Igrejas
cristãs, às religiões tradicionais e aos cultos provenientes de outras raizes. Acontece
que se criam certos modelos religiosos que vão à prática através de tradições e
se tornam leis morais e oprimem as pessoas. É o caso das superstições; Na
Igreja Católica, a Quaresma foi um campo fértil para essas invenções que
acabavam se transformando em pecado: Na Sexta-Feira Santa, bater martelo era
crucificar Jesus. Para outros, cortar cabelo é um pecado. No caso das novenas:
Lembramos a rica piedade ao Sagrado Coração, com as comunhões da primeira
sexta-feira. Tem que ser nove. Se acontecia de perder uma primeira sexta-feira
(mesmo por doença), devia recomeçar (Onde existe esta lei?). As promessas: Faz
promessa e não dá conta de cumprir. Aí o santo se vinga, pensam. Até na vida
moral podemos encontrar idéias que prejudicaram. Que dificuldade para comungar.
Pos-se tanta exigência que acabou afastando o povo da comunhão. E não são exigências
evangélicas. E assim por diante. Jesus viveu essa condição no judaísmo. Tantas
leis (e não temos menos) que prejudicavam o povo. Vejamos como Jesus trata as
tradições judaicas: “Por causa da vossa tradição anulastes a Palavra de Deus” (Mt 15,6). “Sabeis
anular o mandamento de Deus para observar vossa tradição” (Mc 7,9). Jesus
apresenta o modo de superar a inutilidade de certas atitudes: “Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” (Jo, 8,32).
1066.
Medo da liberdade
Gostamos
de ser livres e não ter ninguém que nos controle. Por outro lado aceitamos
muitas imposições supersticiosas. Ao agirmos assim, estamos buscando seguranças
para nossa vida. Estamos de acordo com elas e nos sentimos salvos, pois
cumprimos o ritual. Vejamos quantas
proibições recebemos. Temos necessidade de leis e orientações, mas o que
seguimos nem sempre são os princípios do Evangelho. No início da Igreja, não
havia estas imposições. Lemos no texto de Atos, quando se dá a orientação para
os cristãos vindos do paganismo e os vindos do judaísmo. As tradições do
judaísmo não passaram aos cristãos vindos do paganismo (At 15,1-35).
1067.
Amor, chave da liberdade
O santo, a santa são pessoas livres, pois a chave de sua orientação é o
amor de Deus. O amor liberta do temor. A liberdade interior é capaz de orientar
nosso dia-a-dia entre os muitos entraves à liberdade. Não confundamos liberdade
com libertinagem; “Fostes chamados à liberdade. Que a liberdade não sirva de
pretexto para a carne, mas pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros”
(Gl .5,13). Diz
Santo Agostinho: “Ama e faze o que queres”. Quem se dirige pelo amor de Deus se
liberta e liberta os outros. É preciso uma evangelização libertadora. Um pouco
mais de evangelho liberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário