Marcos,
no texto que narra a cura do leproso, enfrenta uma questão muito importante
para a vida da comunidade: Há discriminação na própria comunidade; há puros e
impuros que deveriam ser separados. Há a comunidade dos perfeitos e a dos
fracos. Não se trata de desobedecer a uma norma, mas de não gerar
discriminação. Jesus é apresentado como Aquele que cura o homem e o reintegra na
comunidade. Sabemos que a lepra ainda é um problema grave pelo mundo e também
pelo Brasil. No tempo de Jesus era um problema gravíssimo e era controlado por
uma forte legislação e por um afastamento do leproso do convívio social, e
religioso. A pessoa perdia toda a dignidade. As normas para o controle da
doença, impunham ao leproso um estatuto de excluído (Lv 13). O doente era
excluído do convívio das pessoas, para não contaminar os demais, vivendo fora
da comunidade; perdia a condição de participante da comunidade religiosa e
social, andando com a cabeça descoberta; devia trazer as vestes rasgadas como
sinal de uma grande desgraça; Devia se declarar impuro igualando a doença a uma
impureza ritual que atingia também o Espiritual. Quem o tocasse se tornava
também impuro e era isolado. O homem vai até Jesus, quebrando a norma de não se
aproximar e pede a Jesus: “Se queres, podes, curar-me. Jesus, enchendo-se de
compaixão, tocou-o diz: quero, fica curado” (Mc 1,40-41). Este sentimento é o mesmo sentimento
da mãe pelo filho. É o sentimento materno de Deus. A compaixão de Jesus leva O
ao extremo de se excluir para que o homem fosse reintroduzido no povo de Deus.
A salvação que Jesus oferece é a purificação de todo mal, sobretudo, a
reintegração do indivíduo, não havendo impuros. Jesus não nega a necessidade de
se procurar o sacerdote para a comprovação da cura. Ele mesmo se exclui, ao
tocar o homem, mas, todos vão onde Ele está. A comunidade O reintroduz. O homem
que fora curado publica o fato, apesar de ser proibido por Jesus. Ele não mais
publica sua impureza, mas Jesus que purifica.
Discriminação
dos fracos
Este
texto do Evangelho nos faz um grande alerta para um exame de consciência sobre
as muitíssimas discriminações que são impostas aos fiéis tanto cristãos
católicos, crentes e outras seitas e crenças. Podemos ver que há tantas
tradições, superstições, leis, ritos e costumes
que se instituíram como leis sagradas que atingem as pessoas de tal modo que as
impedem o acesso aos sacramentos, ao convívio da comunidade. O pior de tudo é
que estas imposições são para os mais fracos, pois os ricos e poderosos não
recebem as mesmas restrições, ou compram privilégios como fazem em outros
lugares. Lemos o evangelho, nos chocamos e fazemos o mesmo. Não coloquemos outros
pesos sobre as pessoas, além das que a vida traz.
Tudo
para a Glória
Paulo
exemplifica esta questão lembrando que tudo deve ser realizado na caridade, sem
escandalizar. E dá uma orientação muito grande que pode nos garantir no
exercício do dia-a-dia da liberdade: “Quer comais, quer bebais, quer façais
qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). A glória de Deus e a caridade nos relacionamentos
com os fracos, podem libertá-los de suas prisões e discriminações. Importante
também é uma pregação libertadora que leve ao núcleo da fé. A Igreja deve
continuar o processo de evangelização despojando-se destas formas de poder.
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