O
profeta Jeremias é uma das expressões do Servo Sofredor que luta para libertar
o povo do grande pecado que é firmar-se somente nas estruturas visíveis. Jeremias
sofre por isso, pois está cansado em bater de frente com as autoridades e o
próprio povo. Deus manda que tenha coragem, pois fez dele um muro de bronze... pois,
lutarão contra ti (Jr
1,18). O templo, que era lugar do encontro com Deus e estímulo a uma
vida de fidelidade, tornou-se um objeto somente de exterioridade, como um
amuleto supersticioso. Jeremias ataca esse culto idolátrico (i.é usar Deus) das
autoridades e do povo. O profeta conhece a vontade divina e a ela se entrega como
quem se deixa possuir. A Palavra de Deus era um fogo que estava dentro dele com
uma força que ele não conseguia reprimir. Este zelo por Deus e pela fé o faz
continuar fiel na perseguição, nos sofrimentos e nas fragilidades. Não arreda o
pé. A experiência de Jeremias é explicitada pelo salmo. Assim acontece quando
há uma opção clara por Deus que se torna a fonte da vida e a meta de tudo o que
se faz: “Deus, desde a aurora, ansioso vos busco. Minha alma tem sede de vós,
minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água” (Sl 82). É o momento
de analisarmos nossa opção de fé. Temos dois tipos de religião cristã: O que
faz coisas espirituais boas, e o que vive em Deus. Sem essa busca enlouquecida
de Deus, jamais, poderemos fazer da Palavra fonte de vida; dos sacramentos um
encontro com Deus; da oração um diálogo com Deus, e do amor a razão da vida.
Não existe uma fé sem Deus. Então nós fazemos como os contemporâneos de
Jeremias tendo uma religião baseada numa tradição ou em ideologias. Defendemos
princípios, mas não temos dentro de nós um fogo que nos consome que é o próprio
Deus.
Tome
sua cruz
Deixar-se
seduzir por Deus tem como resposta a cruz de Cristo. Chamamos a cruz de sinal
do cristão. Jesus começa a catequese mais aprofundada dos discípulos dizendo que
sua morte é parte de sua missão. Pedro quer tirá-lo do caminho e recebe a
reprimenda como dirigida a uma atitude de quem atrapalha o caminho de Jesus.
Jesus tem em mente sua missão de Servo sofredor e Pedro a visão do Messias glorioso.
O fundamental para esse encontro com Deus em Cristo que leva a cruz é a
abnegação. Não é perder-se, mas buscar o tudo. Ganhando a alma, ganhamos tudo.
Perdendo a alma, perdemos tudo. Toda a fortuna do mundo não vale a conquista do
próprio coração, da própria vida. Ganhar a alma é ter a conduta de quem
descobriu o verdadeiro valor da vida, o Reino. Não ficamos sozinhos, pois
rezamos: “Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta” (Sl 62).
Culto
Espiritual
Pela
vida em Cristo e no Espírito podemos ser um sacrifício espiritual. O sacrifício
espiritual acontece em nosso corpo, por isso Paulo diz: “Exorto a vos
oferecerdes como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso
culto espiritual”(Rm
12,1). O culto cristão é em primeiro lugar e fundamentalmente no
interior. Sem esse o culto público perde seu conteúdo. As atitudes fundadas no
Espírito de Jesus são as oferendas. Por isso Paulo insiste: “Não vos conformeis
com o mundo... mas transformai-vos renovando vossa maneira de pensar... distinguindo
qual é a vontade de Deus” (2).
O que vemos é as pessoas conformarem a fé à mentalidade do mundo. Se tivermos a
sedução de Deus, vencemos.
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