terça-feira, 15 de março de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Tempos de colheita”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Meu amado possui uma vinha
            O Espírito que conduz Jesus, desde seu batismo, leva-o ao coração do povo de Israel, Jerusalém, onde está o templo. Ali está o centro político, econômico e religioso do povo. Ali Ele entra no confronto final com chefes do povo, que culminará em sua recusa. A morte de Jesus não foi um acaso ou a conseqüência de quem ataca um regime. É uma trama muito bem urdida que leva à sua eliminação. No fundo, é a recusa de Deus. Os profetas proclamavam que o povo é de Deus e não pode ser entregue a outro. Jesus, em diálogo com eles, narra três parábolas que os questionam. No Evangelho do 27º domingo, lemos uma parábola na qual Jesus usa a imagem da vinha (plantação de uva), que é comum na Escritura, como lemos na primeira leitura de Isaias (5,1-7) ou no salmo 79 que reza no versículo: “A vinha do Senhor é a casa de Israel”. Esta parábola corresponde ao texto de Isaías. O amor de Deus pela humanidade manifesta-se na escolha do povo de Israel, a partir de Abraão, da libertação do Egito, da posse da terra e do permanente cuidado que teve para com ele. Jesus e Isaias contam o que Deus fez pelo povo: “Meu amado possuía uma vinha em fértil encosta. Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videira escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um lagar” (Is 51,2). Jesus retoma quase as mesmas palavras. O que não fez Deus por seu povo? Deu tudo o que ele precisava!  Deus fez com este povo a aliança, as promessas e realizou-as na pessoa de Jesus. Deus esperava que o povo desse frutos, e fosse entregue para Ele sua parte. Mas os administradores do povo tomaram para si o fruto que era devido a Deus.
Resposta de infidelidade
            Esta parábola de Jesus é uma síntese da História do povo de Deus. Lemos, então, a questão que Jesus coloca na parábola dos vinhateiros: Deus enviou seus profetas para recolher os frutos de justiça e obras de bondade e não obteve. Mandou por fim o Filho que foi recusado, lançado fora da vinha e morto. Jesus morreu do lado de fora da cidade. O povo foi escolhido por pura benignidade de Deus, talvez entre os menores e menos significativos da terra.  O povo soube corresponder. Mas os chefes desviaram o povo. O dono da vinha, depois de ter feito tudo de bom, tem agora o desencanto de ter somente uvas selvagens. O que Deus esperava? Frutos de justiça e obras de bondade (Is. 5,7). É a frustração de Deus. Os donos do povo preferiam a injustiça à justiça de Deus, que tanto os profetas proclamavam e agora é proposta por Jesus. Ele é o ponto mais alto da História deste povo. Será que a Igreja católica, como também as outras demais igrejas, não estão repetindo a mesma história? A missão dos administradores do povo é conduzí-lo a Deus e não a si. 
O Reino será dado a outro
Jesus pergunta: “O que fará o dono da vinha?” Eles mesmos ditam a própria sentença: “Dará a vinha a outros que lhe entregarão os frutos no tempo certo” (Mt 21,41). Não produzir frutos torna impossível ser do Reino de Deus. Cristo é a pedra angular porque não se faz dono do povo, mas servidor do Pai. Vemos o que acontece na Igreja, com contínuas saídas para outros credos. Não estaria realizando para nós esta profecia? E quem são os responsáveis? Somos nós, a quem se dirigem estas palavras de Jesus. Não estamos repetindo a História? O que Cristo pede de nós é tê-lo como pedra angular e imitar o que Ele fez. Cada Eucaristia é momento do confronto de nossa vida com a Palavra de Cristo. Paulo nos diz: “Praticai o que aprendestes e recebestes de mim” (Fl 4,9)

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