O
Espírito que conduz Jesus, desde seu batismo, leva-o ao coração do povo de
Israel, Jerusalém, onde está o templo. Ali está o centro político, econômico e
religioso do povo. Ali Ele entra no confronto final com chefes do povo, que
culminará em sua recusa. A morte de Jesus não foi um acaso ou a conseqüência de
quem ataca um regime. É uma trama muito bem urdida que leva à sua eliminação.
No fundo, é a recusa de Deus. Os profetas proclamavam que o povo é de Deus e
não pode ser entregue a outro. Jesus, em diálogo com eles, narra três parábolas
que os questionam. No Evangelho do 27º domingo, lemos uma parábola na qual
Jesus usa a imagem da vinha (plantação de uva), que é comum na Escritura, como
lemos na primeira leitura de Isaias (5,1-7)
ou no salmo 79 que reza no versículo: “A vinha do Senhor é a casa de Israel”.
Esta parábola corresponde ao texto de Isaías. O amor de Deus pela humanidade
manifesta-se na escolha do povo de Israel, a partir de Abraão, da libertação do
Egito, da posse da terra e do permanente cuidado que teve para com ele. Jesus e
Isaias contam o que Deus fez pelo povo: “Meu amado possuía uma vinha em fértil encosta.
Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videira escolhidas, edificou uma torre no
meio e construiu um lagar” (Is 51,2).
Jesus retoma quase as mesmas palavras. O que não fez Deus por seu povo? Deu
tudo o que ele precisava! Deus fez com
este povo a aliança, as promessas e realizou-as na pessoa de Jesus. Deus
esperava que o povo desse frutos, e fosse entregue para Ele sua parte. Mas os
administradores do povo tomaram para si o fruto que era devido a Deus.
Resposta
de infidelidade
Esta
parábola de Jesus é uma síntese da História do povo de Deus. Lemos, então, a
questão que Jesus coloca na parábola dos vinhateiros: Deus enviou seus profetas
para recolher os frutos de justiça e obras de bondade e não obteve. Mandou por
fim o Filho que foi recusado, lançado fora da vinha e morto. Jesus morreu do
lado de fora da cidade. O povo foi escolhido por pura benignidade de Deus,
talvez entre os menores e menos significativos da terra. O povo soube corresponder. Mas os chefes
desviaram o povo. O dono da vinha, depois de ter feito tudo de bom, tem agora o
desencanto de ter somente uvas selvagens. O que Deus esperava? Frutos de
justiça e obras de bondade (Is. 5,7). É a
frustração de Deus. Os donos do povo preferiam a injustiça à justiça de Deus,
que tanto os profetas proclamavam e agora é proposta por Jesus. Ele é o ponto
mais alto da História deste povo. Será que a Igreja católica, como também as outras
demais igrejas, não estão repetindo a mesma história? A missão dos
administradores do povo é conduzí-lo a Deus e não a si.
O
Reino será dado a outro
Jesus pergunta: “O que fará o dono da vinha?” Eles mesmos ditam a
própria sentença: “Dará a vinha a outros que lhe entregarão os frutos no tempo
certo” (Mt 21,41). Não produzir frutos
torna impossível ser do Reino de Deus. Cristo é a pedra angular porque não se
faz dono do povo, mas servidor do Pai. Vemos o que acontece na Igreja, com contínuas
saídas para outros credos. Não estaria realizando para nós esta profecia? E
quem são os responsáveis? Somos nós, a quem se dirigem estas palavras de Jesus.
Não estamos repetindo a História? O que Cristo pede de nós é tê-lo como pedra
angular e imitar o que Ele fez. Cada Eucaristia é momento do confronto de nossa
vida com a Palavra de Cristo. Paulo nos diz: “Praticai o que aprendestes e
recebestes de mim” (Fl 4,9).
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