É
comovente ver cegos andando em lugares de movimento, como o Metrô em S. Paulo.
Ver sem enxergar! É uma força de vontade que é uma vitória. Se isto é maravilhoso,
triste é ver pessoas de olhos abertos não enxergando nada. Jesus convida a
olhar os sinais dos tempos e interpretar os caminhos de Deus: “Sabeis discernir
o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?” (Mt 16,3). Para o homem e a mulher de Deus,
qualquer momento é o tempo da graça, pois Deus age sempre. Jesus afirma: “Meu
Pai trabalha sempre, eu também trabalho” (Jo
5,17). Deste modo, quem está vigilante, está imerso na história da
salvação, descobrindo agora, tudo o que lhe oferece e o que lhe exige o momento
presente. Não é uma “preocupação estressante”. Mais que preocupados, ocupados.
S. Paulo pede que trabalhemos com tranqüilidade (2Ts
3,12). Isso é estar vigilante. Jesus diz: “Orai e vigiai!” (Mt 26,41). Estar de olhos abertos para ver, nas
fadigas e nos perigos, oportunidades preciosas e não somente coisas para nos
lamentar. Um modo de viver a graça de Deus na vida é procurar o sinal de seus passos
no caminho que trilhamos. Estar de olhos abertos não se trata somente de cuidar
de nós mesmos, mas encontrar caminhos para que o mundo possa crescer. Seria
triste olhar só o passado ou só o futuro, sem ver o momento presente. Jesus diz:
“Não vos preocupeis, com o dia da amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará
consigo mesmo. A cada dia basta a própria dificuldade” (Mt 6,34). Estar de olhos abertos é viver o tempo da graça.
588.
O momento oportuno
O
tempo presente é chamado de “Kairós”.
É o agora de Deus. É o momento da graça. S. Agostinho dizia: “Tenho medo do
Jesus que passa”, pois pode passar e eu não ver. Nós gostamos de aproveitar as
boas oportunidades, pois podem não voltar. A oportunidade da graça é o momento
presente. É agora que Deus nos ama, nos salva e nos convida a estar com Ele.
Isso é agir sob a ação do Espírito Santo que inspira a viver a vida em
plenitude. Viver plenamente é fazer o bem agora, dentro da realidade em que
vivemos. Na Igreja corremos o risco de dar respostas do passado para o que
vivemos hoje, julgando que só o passado é bom. O passado, naquele momento, era o
presente e souberam responder para aquele presente. A vida humana e cristã caminha
buscando no passado a sabedoria, mas sabendo que temos que contribuir no
presente com a sabedoria que nos dá o Espírito. Se respondermos bem ao momento
presente, estaremos plantando bem o futuro. Se nos abrirmos ao presente de
Deus, assumiremos nosso passado e construiremos o futuro.
589.
O Espírito que age
Quanto mais nos abrimos ao Espírito,
mais poderemos dar respostas condizentes ao momento em que vivemos. A resposta
deve nascer do amor, pois o Espírito é o amor. O povo do tempo de Jesus não
soube ouvir o Espírito, e se prendeu ao passado. Os pagãos abriram-se ao
Evangelho que lhes era anunciado. O mesmo Espírito que conduzia Jesus, conduz a
nós também. Por isso podemos estar bem em todas as situações. A Igreja está
querendo descobrir os leigos (são considerados cristãos de segunda classe). É o
momento oportuno, de estarmos de olhos abertos e vigilantes, para ver para onde
nos conduz o Espírito. O próprio clero é chamado a buscar com intensidade uma
novidade de vida de Igreja que seja para o mundo aquilo que Jesus foi, e não um
museu de tradições e devocionismos vazios. Se nos fecharmos em nós mesmos, na
minha Igreja, seremos inúteis para este mundo que tem fome de Deus. A nós cabe
dar este Pão.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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