Estamos na última semana do ano litúrgico. No próximo domingo já é
Advento. Novo Ano! Não é uma repetição. É um passo adiante. Por isso refletimos
sobre esse caminho que fazemos para nosso futuro. Nas missas, após a
consagração, encontramos a expressão “Vem, Senhor Jesus!”. É um texto que passa
despercebido. É breve, mas muito significativo. Com ele estamos anunciando uma
verdade de nossa fé: A inauguração do tempo definitivo que se inicia com a segunda
vinda de Cristo. Proclamamos nossa tendência de caminhar para a vida que dura
para sempre. A vida eterna se inicia no momento em que cremos em Jesus: “Quem
crê, tem a vida eterna” (Jo 6,47) e continua no mundo que há de vir (profissão
de fé). Os fiéis das comunidades primitivas acreditavam que o fim estava
próximo e eles veriam o fim, até mesmo sem ter morrido. Paulo afirma: “Depois
nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas
nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o
Senhor” (1 Ts 4,17). Como começou a tardar sua vinda, tiveram que reestruturar
seu pensamento. Permanece contudo a idéia do futuro. Os evangelhos insistem na
vigilância. Os monges, por exemplo, dormiam pouco para estarem prontos quando o
Senhor chegasse. Para compreendermos essa realidade, lembremo-nos da unidade do
Mistério Pascal de Cristo. Nele não há tempos divididos. Ele é o mesmo em todas
as manifestações de sua vida entre nós, inclusive a vinda futura. Em cada
celebração nós estamos clamando que Ele venha. Apressamos o fim. O convite é já
uma presença desse momento maravilhoso.
Abertura ao infinito
Somos muito ricos quando nos abrimos ao infinito, a Deus. Por essa
abertura temos sempre o sabor da vida eterna. A força que fazemos para chegar
ao Céu é bem menor do que a força de atração que Deus exerce em nós. A abertura ao infinito
elimina a dicotomia da vida, viver agora e depois o futuro. A perspectiva de
Jesus é a vida como um todo. Somos cidadãos dos céus, concidadãos dos santos
(Ef 2,19). A abertura acontece quando vivemos bem os valores materiais que não
prejudicam a vivência dos bens espirituais, tais como a presença de Deus, o
amor de condivisão, a vida sacramental, a oração como diálogo com Deus e a
transformação das realidades terrestres em instrumentos de santificação.
Lembremo-nos da parábola do administrador infiel: “Fazei amigos com o dinheiro
da iniqüidade para que, no dia em que faltar, eles vos recebam nos tabernáculos
eternos” (Lc 16,9). A abertura ao infinito se faz na realidade finita, sem a
qual é impossível pensar-se na vida futura. João escreve na prece que Jesus faz
na ceia: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do maligno” (Jo
17,15). A tendência de se isolar como fazem determinadas espiritualidades não
corresponde ao evangelho da vinda de Cristo.
Valor de todas as coisas
Com a encarnação do Filho de Deus, todo o universo recebeu uma nova
dimensão. É triste ver como cristãos pensam Jesus como um santo, um bom amigo,
protetor e ajeitado em fazer grandes milagres. Tem até palavras bonitas. Ele é,
para nós o centro de todo universo. Deus veio na pessoa do Filho e assumiu
nossa natureza, redimiu o mundo e iniciou o Reino no meio de nós. Deu valor a
todas as coisas. NEle, tudo passa a ser caminho para Deus. As criaturas são
faíscas de Deus (M.Celeste). É a partir dEle que deve se orientar nossa vida.
Por isso buscamos o futuro para construir já um novo céu e uma nova terra. O
Céu começa aqui.
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