quinta-feira, 5 de novembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Vem, Senhor Jesus!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Apressando o fim
Estamos na última semana do ano litúrgico. No próximo domingo já é Advento. Novo Ano! Não é uma repetição. É um passo adiante. Por isso refletimos sobre esse caminho que fazemos para nosso futuro. Nas missas, após a consagração, encontramos a expressão “Vem, Senhor Jesus!”. É um texto que passa despercebido. É breve, mas muito significativo. Com ele estamos anunciando uma verdade de nossa fé: A inauguração do tempo definitivo que se inicia com a segunda vinda de Cristo. Proclamamos nossa tendência de caminhar para a vida que dura para sempre. A vida eterna se inicia no momento em que cremos em Jesus: “Quem crê, tem a vida eterna” (Jo 6,47) e continua no mundo que há de vir (profissão de fé). Os fiéis das comunidades primitivas acreditavam que o fim estava próximo e eles veriam o fim, até mesmo sem ter morrido. Paulo afirma: “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4,17). Como começou a tardar sua vinda, tiveram que reestruturar seu pensamento. Permanece contudo a idéia do futuro. Os evangelhos insistem na vigilância. Os monges, por exemplo, dormiam pouco para estarem prontos quando o Senhor chegasse. Para compreendermos essa realidade, lembremo-nos da unidade do Mistério Pascal de Cristo. Nele não há tempos divididos. Ele é o mesmo em todas as manifestações de sua vida entre nós, inclusive a vinda futura. Em cada celebração nós estamos clamando que Ele venha. Apressamos o fim. O convite é já uma presença desse momento maravilhoso.
Abertura ao infinito
Somos muito ricos quando nos abrimos ao infinito, a Deus. Por essa abertura temos sempre o sabor da vida eterna. A força que fazemos para chegar ao Céu é bem menor do que a força de atração que Deus exerce em nós. A abertura ao infinito elimina a dicotomia da vida, viver agora e depois o futuro. A perspectiva de Jesus é a vida como um todo. Somos cidadãos dos céus, concidadãos dos santos (Ef 2,19). A abertura acontece quando vivemos bem os valores materiais que não prejudicam a vivência dos bens espirituais, tais como a presença de Deus, o amor de condivisão, a vida sacramental, a oração como diálogo com Deus e a transformação das realidades terrestres em instrumentos de santificação. Lembremo-nos da parábola do administrador infiel: “Fazei amigos com o dinheiro da iniqüidade para que, no dia em que faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos” (Lc 16,9). A abertura ao infinito se faz na realidade finita, sem a qual é impossível pensar-se na vida futura. João escreve na prece que Jesus faz na ceia: “Não peço que os tire do mundo, mas que os livre do maligno” (Jo 17,15). A tendência de se isolar como fazem determinadas espiritualidades não corresponde ao evangelho da vinda de Cristo.
Valor de todas as coisas

Com a encarnação do Filho de Deus, todo o universo recebeu uma nova dimensão. É triste ver como cristãos pensam Jesus como um santo, um bom amigo, protetor e ajeitado em fazer grandes milagres. Tem até palavras bonitas. Ele é, para nós o centro de todo universo. Deus veio na pessoa do Filho e assumiu nossa natureza, redimiu o mundo e iniciou o Reino no meio de nós. Deu valor a todas as coisas. NEle, tudo passa a ser caminho para Deus. As criaturas são faíscas de Deus (M.Celeste). É a partir dEle que deve se orientar nossa vida. Por isso buscamos o futuro para construir já um novo céu e uma nova terra. O Céu começa aqui. 

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