Evangelho segundo S. Lucas 15,1-10.
Naquele
tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O
ouvirem.Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este
homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a
seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma
delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que
anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos
ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes:
‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo:
Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por
noventa e nove justos que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a
mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada,
varre a casa e procura cuidadosamente a moeda, até a encontrar? Quando a
encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque
encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os
Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».
Da Bíblia
Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Beato Charles de Foucauld
(1858-1916), eremita e missionário no Saara
Retiro em Nazaré, Novembro de
1897
À procura da ovelha perdida
Ia-me afastando mais e mais de Vós, meu
Senhor e minha vida, e a minha vida começava a ser uma morte, ou antes, era já
uma morte a vossos olhos. E neste estado de morte me conserváveis ainda. [...] A
fé tinha desaparecido por completo, mas o respeito e a estima haviam permanecido
intactos. Concedíeis-me outras graças, meu Deus, mantínheis em mim o gosto pelo
estudo, pelas leituras sérias, pelas coisas belas, a repugnância pelo vício e
pela fealdade. Fazia o mal, mas não o aprovava nem o amava. [...] Dáveis-me essa
vaga inquietação de uma má consciência que, por adormecida que esteja, nem por
isso está morta.
Nunca senti esta tristeza, este mal-estar, esta
inquietação, senão nessa altura. Era, pois, um dom vosso, meu Deus; que longe
estava eu de suspeitar de que assim fosse! Que bom sois! E, ao mesmo tempo que
impedíeis a minha alma, por essa invenção do vosso amor, de se afundar
irremediavelmente, preserváveis o meu corpo: pois se tivesse morrido nessa
altura, teria ido para o inferno. [...] Os perigos da viagem, tão grandes e tão
numerosos, de que me fizestes sair como que por milagre! A saúde inalterável nos
lugares mais malsãos, apesar de tão grandes fadigas! Ó meu Deus, como tínheis a
vossa mão sobre mim, e quão pouco eu a sentia! Como me protegestes! Como me
abrigastes sob as vossas asas, quando eu nem sequer acreditava na vossa
existência! E, enquanto assim me protegíeis, e o tempo ia passando, parecia-Vos
que tinha chegado o momento de me reconduzir ao cercado.
Desfizestes, apesar de mim, todos os laços maus que me teriam
mantido afastado de Vós; desfizestes mesmo todos os laços bons que me teriam
impedido de ser, um dia, todo vosso. [...] Foi a vossa mão, e só ela, que fez
disto o começo, o meio e o fim. Que bom sois! Era necessário fazê-lo, para
preparar a minha alma para a verdade; o demónio é excessivamente senhor de uma
alma que não é casta, para nela deixar entrar a verdade; não podíeis entrar, meu
Deus, numa alma onde o demónio das paixões imundas reinava como senhor. Queríeis
entrar na minha, ó Bom Pastor, e fostes Vós que dela expulsastes o vosso
inimigo.
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