sábado, 22 de agosto de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Realizai as maravilhas que operastes”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Espírito é dom
            Desde o início do mundo, o Espírito paira como “vento que sopra onde quer e ouves o seu ruído mas não sabes de onde vem e nem para onde vai” (Jo 3,8). Ele está sempre presente no caminho da salvação, até fazer chegar o Verbo de Deus, o Filho, a ser homem e até constituí-lo Senhor na glória com o Pai. Em Pentecostes, acontece um começo novo. Agora Ele é difundido pelo Pai e por Cristo. Ele é o Espírito de Jesus e o poder de sua ressurreição. Ele se comunica como uma pessoa. Jesus dá o Espírito como dom, como na Crisma dizemos: “Recebe o Espírito Santo como dom”. Toda energia de vida dada aos fiéis pelo Espírito, resume em si as maravilhas operadas pela salvação da humanidade. É como se acontecesse toda a História da Salvação em cada um de forma total. O Espírito Santo faz memória do dom de Deus para a Redenção. O Espírito realiza nos fiéis o que realizou em Cristo, a ressurreição. O Pai o Ressuscitou pelo Espírito. O Espírito revela o Cristo ressuscitado. Nós temos essa ressurreição no sacramento do Batismo e sua continuação nos demais sacramentos. Participamos do dom do Espírito que é sem medida (Jo 3,34).
A quem perdoardes os pecados
Os discípulos tornam-se apóstolos, palavra que vem do verbo enviar. São enviados, à missão, como Jesus o foi, pelo mesmo Espírito do Pai. Lembramos o início do evangelho de Lucas que diz “impelido pelo Espírito Santo” (Mc 1,12), pois Jesus se movia por Ele. Eles são penetrados pelo Espírito e se tornam, mesmo na fragilidade, participantes da natureza divina (1Pd 1,4), o que é concedido a todos nós. O Espírito gera o Corpo de Cristo que é a Igreja, iniciando assim uma nova criação. Cristo não é só uma presença, mas Ele começa a recapitular em si todas as coisas, realizando o projeto do Pai (Ef 1,10). Quando Jesus dá o Espírito, diz: “Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 21,22-23), não está se referindo a uma confissãozinha cochichada, mas à grande reconciliação de todo o cosmos, pois o pecado é universal.
O Espírito gera um corpo novo

            A oração da missa implora que o Espírito continue agindo no mundo. O Espírito faz a Igreja. Nessa nova comunidade, Ele é o Espírito do Ressuscitado que convoca, reúne e envia. Faz a Igreja apostólica. A Igreja não é só uma estrutura hierárquica. Ela é fonte visível e acessível, onde todos recebem a vida, pois ela é o Corpo de Cristo que continua. Não podemos ter um relacionamento só devocional com o Espírito. Não podemos também ter a Igreja baseada unicamente no aspecto sociedade visível, pois ela é a irrupção das coisas de Deus. Do corpo de Cristo ressuscitado jorra a vida em nosso mundo. No seio de Maria o Espírito fez do Verbo Carne. No dia de Pentecostes penetra a carne de toda humanidade e faz dessa carne, corpo de Cristo. Cada fiel vive e está unido ao corpo. Não somos um amontoado de gente que chamamos de comunidade. Temos uma individualidade que nos une à comunidade. O Espírito suscitou a fé no coração dos discípulos e os uniu ao Corpo de Cristo. Nasceu assim a Igreja. Essa Igreja tem a presença do Espírito permanentemente. Não temos o que aumentar, mas acolher. Não podemos ter o Espírito como um pronto socorro de curas e dons maravilhosos. Por isso pedimos que Ele realize em nós hoje as maravilhas que fez no início da pregação da Igreja. Essas maravilhas são a revelação, para nós, de Jesus Ressuscitado e nossa capacidade de anunciá-lo pela palavra e testemunho, unidos ao Espírito revelador.

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