Iniciamos a leitura de Lucas na
liturgia dominical do Tempo Comum. Começamos pelo prólogo de seu evangelho.
Lucas recolhe o que recebeu pela tradição. Já havia um conjunto de ensinamentos
que não estavam escritos. A isso chamamos de Tradição que vem junto com as
Sagradas Escrituras e com elas compõem o ensinamento de Jesus. Lucas testemunha
o esforço da primeira geração de organizar os fatos. Daí nasceram os
evangelhos. Depois de ter narrado a infância e a tentação de Jesus, Lucas dá
início à narração da vida apostólica de Jesus, começando por Nazaré, onde Ele
fora criado, e na sinagoga, onde educado. Ali, no seu lar, Ele inicia seu
ministério. Jesus, vindo de seu batismo, cheio do Espírito, depois de ter
vencido a tentação, Ele está pronto para proclamar a Palavra e indicar-lhe a
realização. Ele já tinha fama tanto pelas palavras e como pelos milagres:
“Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se
por toda a redondeza” (Lc 1,14). Lendo Isaias, coloca-se como realizador
daquela profecia. O texto é magnífico: “O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; proclamar
a libertação dos cativos, aos cegos a recuperação da vista; para libertar os
oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (4,18-19). Ele tem a
potência operadora de Deus que é o Espírito. Tem os dons plenos de rei –
sacerdote – Messias. Esclarece as funções do Ungido de Deus: evangelizar os
pobres, os que esperam o anúncio do Reino; anunciar a remissão total; iluminar
as mentes de tantas cegueiras; trazer o perdão; abrir o ano da graça, da total
remissão. É a transformação total. E Jesus acentua: “Hoje se cumpriu a passagem
que acabastes de ouvir” (21). Tem consciência de que é nele que o tempo de Deus
acontece entre as pessoas. Ele realiza a profecia. Deus fala de modo especial
ao coração do homem.
Ungidos
para a missão
O evangelho continua depois narrando
o resultado da palavra de Jesus. No próximo domingo refletiremos sobre esse
ponto. Hoje nós nos voltamos à palavra ungido, cheio do Espírito Santo. O
cristão, batizado, crismado e refeito pela Eucaristia, exercendo sua missão na
Igreja como continuador de Jesus, é um ungido. Ouvimos muito esse termo:
‘pessoa ungida’. Normalmente é alguém que fala bonito. Ungido para Jesus vai
além: trata-se de assumir o que Ele assumiu como programa de vida, seguindo o
profeta Isaias: levar a boa nova da libertação aos pobres, a libertação dos
oprimidos, esclarecer as mentes sobre Deus e o mundo. É uma ação concreta no
mundo. Estamos fartos de louvores e gritos de euforia, tantas rezas e cânticos.
Mas os necessitados ainda estão na mesma situação. A Igreja ou comunidade ou
grupo, ou fiel que não descobriu essa missão não pode dizer que é um ungido.
Reflitamos sobre Jesus em Nazaré.
Comunidade,
lugar de recebe o Espírito
Ouvimos também a leitura da grande
assembléia convocada por Neemias. Ali ouviu-se a Palavra, entendeu-se o sentido
e moveu-se o coração. Mas é motivo de alegria. O escriba Neemias convida a
festejar a proclamação e a conversão. A comunidade reunida é o lugar da
revelação da força do Espírito que nos conduz a Jesus e nos leva a renovar a
Aliança com Deus na alegria, pois a “Alegria do Senhor é nossa força” (Nm
8,10). Nós formamos um só corpo, todos os membros uns dos outros, sobretudo em comunidade. Abramos
o Livro e façamos a redenção acontecer hoje.
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