A liturgia da festa de Corpus Christi aprofunda a devoção ao Santíssimo
Sacramento com a reflexão bíblica numa bela síntese do Mistério Pascal de
Cristo celebrado na Eucaristia. Narra sua instituição durante a ceia pascal
judaica. A ceia cristã é uma ceia memorial do sacrifício de Cristo para a
salvação. O Mistério Pascal não se reduz ao sacrifício do Calvário; não
compreende só sua morte, mas toda sua vida entregue para a salvação. Não mais o
sangue de um cordeiro que purifica, mas do Cordeiro-Cristo que Se ofereceu.
Assim se realiza a nova aliança, no sangue de Cristo, como a aliança do Sinai
que foi selada com o sangue dos cordeiros. Esta aliança une o plano de redenção
que Deus nos oferece e o compromisso que fazemos com Ele. Moisés deu os dez
mandamentos; Jesus propõe o amor como código da nova aliança. Na festa de
Corpus Christi (Corpo de Cristo), prolongamos a reflexão e o mistério
eucarístico celebrado na Quinta-Feira Santa. Essa festa contém os mesmos
elementos. Lembramos que Jesus nos deixou um memorial – lembrança – para ser
celebrado como uma ceia que torna presente a Morte e a Ressurreição do Senhor.
Jesus mandou que celebrássemos em sua memória. A missa, Eucaristia, é um
sacrifício memorial da redenção que Jesus nos conquistou em sua Morte e Ressurreição.
É uma refeição memorial deste sacrifício. Quando participamos da celebração da
Eucaristia, participamos desse memorial de sua Paixão. O sentido de memorial
está presente na cultura hebraica. O termo memorial está presente na fé do povo
hebreu como explicação da ação de Deus que permanece a mesma durante a história
do povo. A Eucaristia, memorial do Senhor, torna presente tudo o que Jesus fez
por nossa salvação, de modo particular sua Morte, Ressurreição e Ascensão. Jesus
diz naquela ceia, como nos narra Paulo: “Isto é meu corpo, que é dado por vós;
fazei isto em memória de mim... Este cálice é a nova aliança em meu sangue;
todas as vezes que beberdes dele, fazei-o em memória de mim... Pois todas as
vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciar a morte do Senhor
até que Ele venha” (1Cor
11,23-26).
1580. Oh vinde adoremos!
Na Quinta-Feira Santa não temos espaço para a adoração festiva de
Cristo presente na Eucaristia a não ser a adoração noturna. Temos
um enriquecimento ao mistério celebrado. Por que adoramos? Porque
reconhecemos no Pão e Vinho consagrados o Corpo e Sangue do Senhor. Na adoração
do Sacramento do Amor de Deus, reconhecemos esse mistério e colhemos os frutos
da redenção. Saboreamos na terra o que gozaremos no Céu. Ele enche nosso
coração. A adoração não se reduz a incensos e ritos maravilhosos que sempre nos
encantaram. Mas adora o Santíssimo Sacramento quem é capaz de vê-Lo presente no
outro e reverenciá-lo. É belo levar o Santíssimo pelas ruas e sentir sua bênção
que se espalha. Por outro lado, mais belo ainda é ter consciência que somos
“Sacrários vivos da Eucaristia” como cantamos na bênção do Santíssimo.
Cristo
continua pelas ruas, em nós, abençoando, santificando e animando à vida eterna.
Onde chega um cristão, chega a vida nova. Somos responsáveis pela
eucaristização do mundo.
1581.
Família reunida
Santo Tomás ensinou na sequência (texto
poético que segue o salmo) que “Aos mortais dando comida, dais também o pão da
vida; que a família assim nutrida seja um dia reunida aos convivas lá do Céu”.
A comunhão eucarística não é um rito individual, por mais que a
responsabilidade seja individual. Se a ceia é sacrifical, por ser memória da
Morte e Ressurreição do Senhor, é comunhão de irmãos por sermos família
reunida. Comungar significa também entrar em comunhão com os irmãos através do
amor serviço. O maior serviço que podemos prestar é o serviço do amor, pois
Jesus tendo amado os seus, amou-os até o extremo do amor.
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