PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
76.Ele fala no silêncio
No
livro do Apocalipse (8,1), João escreve que se fez silêncio por quase meia
hora. O texto nos fala da abertura do sétimo selo no contexto dos desígnios de
Deus. O Anjo toma o turíbulo de ouro no qual se coloca incenso para que
‘oferecesse em favor das orações de todos os santos, sobre o altar que está
diante do trono. E pela mão do Anjo, a fumaça do incenso pelas orações dos
santos subiu diante de Deus” (Ap 8,2-5). A oração significada pelo incenso
perfumado, sobe até o trono de Deus. A oração requer o silêncio. Quando
refletimos sobre a Santíssima Trindade, não somos capazes de dizer o que dizem
entre si. Dizemos que o Filho é a Palavra do Pai. É um modo de explicar. Ele é
Palavra porque é manifestação do Pai. Na vida de Jesus lemos que Ele se
retirava de noite ou de madrugada para rezar no silêncio. Embora tenhamos
muitas palavras suas, na verdade, era silencioso.O mesmo notamos em Maria que é
chamada a Virgem do silêncio. Dela temos tão poucas palavras. O silêncio fala
mais alto, como dizemos. O universo imenso e sem confins, é um mundo
silencioso. A obra imensa da criação foi realizada com poucas palavras:
Faça-se!
77. Agitação do coração.
Se,
por um lado, o infinito é tão silencioso, nosso pequeno mundo interior é
extremamente agitado. Sei que há gente que tem uma mente controlada, atenta e
silenciosa. Eu não. Falo de minha experiência. Há uma frase que diz: “podemos
estar silêncio no meio da multidão ou ter uma multidão dentro de nós quando
estamos sozinhos”. O silêncio é o leito da oração, como os vales silenciosos
emanam a paz. Certamente não vamos querer uma atenção total. Rezamos em meios
às distrações e perturbações que nos assaltam. Mas é preciso encontrar um modo
de ter um interior mais silencioso. Podemos até recorrer às técnicas das
religiões orientais ou outras técnicas de meditação que possamos encontrar, não
nos esquecendo nunca que a oração cristã é participação da oração de Cristo.
Nós temos muitas informações que nos sobrecarregam. É necessário recolher as
informações com serenidade e sair do barulho interior. Um modo que pode nos
ajudar, e é rudimentar, é a atenção às palavras que dizemos, embora sejam elas
apenas trilhos da oração. Essa atenção será maior se tivermos nosso ritmo de
oração. O lugar, o horário, a condição que escolhemos podem ajudar nosso
interior. É preciso igualmente ter preparação para a oração. Dispor-nos
interiormente para rezar em tal horário. Além do mais, o ritmo da oração
constante, em que nos voltamos para Deus quando nos convida a estar com Ele,
cria este espaço de silêncio. Este convite, nós o retribuímos com pequenas e
poucas palavras que repetimos.
78. Estar diante do Amor.
A união da oração e do silêncio está sempre a buscar
Aquele que é sua razão de existir. Essa busca leva necessariamente a que se vá
diante do Senhor e se fique ali na atitude silenciosa de quem contempla e ama.
O grande amor não tem palavras. Sabemos da história de Maria e Marta. Jesus
hospedava-se sempre na casa de Lázaro, Marta e Maria. Esta estava sempre aos
pés de Jesus (Lc 10,39). João Evangelista escreve em sua carta: “O que vimos com nossos olhos, o que
contemplamos” (1Jo 1,1). Ela contemplava
silenciosamente o Senhor. É como Maria, Mãe de Jesus: no silêncio recolhia no
coração o que contemplava. Olhava para o Filho e ali O amava em silêncio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário