domingo, 2 de junho de 2024

MARCELINO E PEDRO Santos

Esta página da história da Igreja foi-nos confirmada pelo próprio papa Dâmaso, que na época era um adolescente e testemunhou os acontecimentos. Foi assim que tudo passou. Na Roma dos tempos terríveis e sangrentos do imperador Diocleciano, padre Marcelino era um dos sacerdotes mais respeitados entre o clero romano. Por meio dele e de Pedro, outro sacerdote, exorcista, muitas conversões ocorreram na capital do império. Como os dois se tornaram conhecidos por todos daquela comunidade, inclusive pelos pagãos, não demorou a serem denunciados como cristãos. Isso porque os mais visados eram os líderes da nova religião e os que se destacavam como exemplo entre a população. Intimados, Marcelino e Pedro foram presos para julgamento. No cárcere, conheceram Artémio, o director da prisão. Alguns dias depois notaram que Artémio andava triste. Conversaram com ele e o miliciano contou que sua filha Paulinha estava à beira da morte, atacada por convulsões e contorções espantosas, motivadas por um mal misterioso que os médicos não descobriam a causa. Para os dois, aquilo indicava uma possessão demoníaca. Falaram sobre o cristianismo, Deus e o demónio e sobre a libertação dos males pela fé em Jesus Cristo. Mas Artémino não lhes deu crédito. Até que naquela noite presenciou um milagre que mudou seu destino. Segundo consta, um anjo libertou Pedro das correntes e ferros e o conduziu à casa de Artémio. O miliciano, perplexo, apresentou-o à sua esposa, Cândida. Pedro, então, disse ao casal que a cura da filha Paulinha dependeria de suas sinceras conversões. Começou a pregar a Palavra de Cristo e pouco depois os dois se converteram. Paulinha se curou e se converteu também. Dias depois, Artémio libertou Marcelino e Pedro, provocando a ira de seus superiores. Os dois foram recapturados e condenados à decapitação. Entrementes, Artémio, Cândida e Paulinha foram escondidos pelos cristãos, mas eles passaram a evangelizar publicamente, conseguindo muitas conversões. Assim, logo foram localizados e imediatamente executados. Artémio morreu decapitado, enquanto Cândida e Paulinha foram colocadas vivas dentro de uma vala que foi sendo coberta por pedras até morrerem sufocadas. Quanto aos santos, o prefeito de Roma ordenou que fossem também decapitados, porém fora da cidade, para que não houvesse comoção popular. Foram levados para um bosque isolado onde lhes cortaram as cabeças. Era o dia 2 de junho de 304. Os seus corpos ficaram escondidos numa gruta límpida por muito tempo. Depois foram encontrados por uma rica e pia senhora, de nome Lucila, que desejava dar uma digna e cristã sepultura aos santos de sua devoção. O culto dedicado a eles se espalhou no mundo católico até que o imperador Constantino mandou construir sobre essas sepulturas uma igreja. Outros séculos se passaram e, em 1751, no lugar da igreja foi erguida a belíssima basílica de São Marcelino e São Pedro, para conservar a memória dos dois santos mártires, a qual existe até hoje.
Duas árvores de louro, um bosque que muda de nome, um núcleo de catacumbas são, hoje, os mais famosos do mundo. São sinais de uma natureza, - que se dissiparam no tempo, - que sobrevivem na tradição escrita; são pedras que resistem nos séculos e dão solidez à tradição. As raízes dos dois mártires cristãos do IV século – Padre Marcelino e o exorcista Pedro – despontam aqui mediante antigos martirológios e escavações subterrâneas. 
A grande carnificina 
Transcorria o ano 304. Em Roma, enfurecia-se a terrível perseguição anticristã, por ordem de Diocleciano. Esta foi a última grande carnificina das autoridades romanas, antes do período do clemente Constantino. O segundo dos quatro editos, com os quais Diocleciano queria aniquilar os cristãos, consistia, em particular, na prisão de bispos, sacerdotes e diáconos. Muitos foram punidos porque os Tribunais tinham a faculdade de emitir sentenças capitais. Neste interim, o Padre Marcelino foi preso e, como tantos outros, rejeitou negar a sua fé em Cristo. Assim, tantas prisões tornaram-se pequenas comunidades de fiéis. 
Martírio oculto 
Na prisão, Marcelino conheceu Pedro, um exorcista. Juntos, anunciavam a mensagem de Cristo e muitos se convertiam e pediam para ser batizados. As narrações hagiográficas, com detalhes mais ou menos lendários, falam que eles realizaram milagres, entre os quais a cura da filha do próprio carcereiro. Para os juízes, naturalmente, isso era demais e queriam eliminá-los. Aqui, a história torna-se mais segura, graças ao Papa Dâmaso I, que a narra alguns anos mais tarde: “Marcelo e Pedro foram torturados, levados para um bosque, conhecido como Selva Negra, onde foram obrigados a uma última e cruel humilhação - escavar suas próprias covas - e, por fim, decapitados”. Por lei, foi feita justiça; mas a escolha do bosque foi uma esperteza adjunta: ocultar para sempre o lugar da execução, ideia errada.
“Pietas” de uma matrona 
Errada porque uma matrona romana, Lucila, conseguiu, com o passar tempo, descobrir o lugar do martírio. A mulher mandou trasladar os restos mortais de Marcelino e Pedro da Selva Negra, - que, desde então, foi batizada como Selva Cândida – para o cemitério chamado “ad duas lauros”, situado na Via Casilina, em Roma. Chamava assim, talvez, pela presença de dois louros. Papa Dâmaso compôs um poema, que foi colocado sobre o novo túmulo dos mártires. Uma vez destruído pelos Gotos, o Papa Virgílio mandou recolocá-lo, além de inserir os nomes dos dois mártires também no Cânon da Missa. A seguir, houve traslados, mais ou menos lícitos, das suas relíquias. As igrejas romanas e as Catacumbas, - ainda hoje abertas ao público - perpetuam a memória destes dois nomes, muito grandes para serem cancelados por dois túmulos anônimos e ocultos em um bosque.

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