quarta-feira, 22 de maio de 2024

SANTA JOAQUINA DE VEDRUNA

QUEM FOI ESSA MULHER? 
Para saber quem é Joaquina de Vedruna, é preciso retroceder no tempo, última década do século XVIII e a primeira metade do século XIX que marcam a passagem do antigo regime à modernidade. Espanha, e concretamente, a região de Catalunha, está fazendo um esforço por superar-se. Mesmo que o decreto de “Nova Planta” tenha conseguido a sua anulação política, não consegue suprimi-la como povo. A fabricação de fiação e tecidos com as técnicas mais modernas fazem deste país como a ponta de lança de um movimento industrial que alcançará maior prestígio.Os fabricantes, ansiosos por atividade e negócio, vão suplantando a velha aristocracia, e com a nova burguesia que aparece, inicia-se uma mudança social. A terra também está cuidada com empenho. A comercialização dos produtos da uva aumenta o capital e este não só ajuda ao crescimento florescente do campo, mas também facilita maiores investimentos na indústria. Barcelona é a capital que une e preside este povo. Na Espanha daqueles anos, a religiosidade popular era profunda. Como atividades religiosas davam muita importância aos sacramentos, celebrações, novenas e outros. A Igreja tinha muita influência no mundo da cultura, em nível de ensino médio e superior, pois o mesmo era dirigido pelos Jesuítas e Dominicanos. Em relação ao clero secular, as diferenças eram muito grandes, por uma parte, paróquias de grande renda, como Barcelona e Tarragona, e outras vivendo em grande pobreza. A cultura religiosa do baixo clero e do povo estava bastante escassa. Estas paróquias pobres, em geral rurais, viviam muito integradas na vida cotidiana do povo, o tempo estava marcado pelos calendários religiosos; festas, procissões e outras rezas de costume. Foi neste contexto histórico que Joaquina nasceu e foi crescendo junto com sua família, bem como outras famílias dos arredores, que cultivavam suas devoções, alimentando a fé em Deus que cuida e protege seu povo. No dia 16 de Abril, de 1873, nasce Joaquina de Vedruna, filha de Dona Teresa e Sr. Lourenço, os quais ofereceram um ambiente cheio de carinho e amor.Como eles eram devotos de São Joaquim, na gravidez de Dona Teresa, fizeram uma promessa para que se corresse tudo bem no parto, colocariam o nome de Joaquim , se fosse menino, e Joaquina se fosse menina, e é por isso que ela leva este nome, para cumprir a promessa de seus pais. Seguindo os costumes espanhóis da época, no mesmo dia, batizam a menina na Igreja da Paróquia Nossa Senhora Del Pino em Barcelona. No seio de sua família, a 5ª de 8 irmãos, Joaquina cresce esperta e decidida. Comunica-se com todos, com alegria, lealdade e confiança que lhe são peculiares, diverte-se e trabalha, faz-se profunda, consegue perceber a presença de Deus no cotidiano de sua vida. Percebe-se em Joaquina, desde cedo, a mulher que tende a fazer o que se tem de fazer e não apenas o faz por fazer. Tinha uma simpatia que arrastava, bom trato social e aptidão para as relações sociais. Era inteligente, ativa, e tinha uma visão clara das coisas, com uma capacidade lógica e surpreendente A primeira surpreendida era sua mãe. Conta-nos alguma testemunha, que a Dona Teresa tratava com especial carinho a todos os filhos, porém parece que havia um cuidado especial por Joaquina em quem descobria dons particulares. A atitude de Joaquina não somente chama a atenção de sua família como também das pessoas que freqüentavam sua casa, pois se admiravam da responsabilidade no trabalho e auto determinação. Sua vida parecia o prelúdio do que mais tarde havia de abraçar para “Dar glória a Deus e o bem do próximo”
EDUCAR É ENSINAR A SER ELA MESMA 
Essa foi a grande tarefa de Lorenzo e Teresa; ir descobrindo nos filhos suas potencialidades, as boas e más inclinações, seu caráter, suas aptidões, suas dificuldades e talentos. Ajudá-los com palavras e, sobretudo com a vida, a ser responsáveis, verazes, trabalhadores, crentes. Embora fosse costume entre as famílias de nível econômico mais alto, enviar as crianças para os colégios da França, Joaquina, recebeu em casa , juntamente com seus irmãos, uma formação esmerada, rica de valores que lhe garantiram uma personalidade consistente.Observando as pequenas coisas e lidando com elas, aprendeu a falar com Deus de forma próxima e simples. Desde bem menina buscou por si mesma a solução dos pequenos problemas que se iam apresentando. Quando sujava o vestido, brincando, ela mesma o lavava e buscava a carícia do sol para que o secasse. Joaquina, desde muito cedo, teve seu modo particular de encontrar a Deus. Um modo simples e espontâneo, de filha para. Pai As horas passadas ao ar livre, em contato com a terra, foram aumentando a sua capacidade de admiração. Do espanto passava à contemplação, e daqui, a respirar a presença do Senhor que sempre está criando maravilhas. Inconsciente ou não, colaborou com Ele desde o começo. Regava e cuidava o jardim para que as margaridas fossem mais brancas e as rosas crescessem melhor, e pedia a Deus que arrancasse as más ervas do seu coração.Relação filial, disponível confiada, aberta.A mesma que tinha com o Senhor Lorenzo e Dona Teresa, com uma dimensão diferente.Aquela que dá a fé e motiva o coração. Nesse ambiente, as qualidades naturais vão se despontando em Joaquina: franca, alegre, cordial. Seu contato social se amplia, surgem as amizades. Amigos da família surpreendem-na laboriosa e deixam cair um elogio; e a menina confidencia a mãe: “Porei empenho em ser laboriosa, para não deixar os nossos amigos mentirem”. E assim, aos poucos, desde pequena, Joaquina foi orientada e preparada para o sacramento da Eucaristia.Não somente aprendeu o que era comungar, mas aprendeu a viver em atitude de comunhão, de doação, de serviço;aprendeu a ser simples e amorosa.A Eucaristia é o alimento para o caminho da vida.É o Sacramento que mais nos une, que nos faz caminhar um ao lado do outro, como irmãos.Ela faz da eucaristia o centro de sua vida. A preocupação que Joaquina tinha na sua infância pela relação com Deus se manifesta na sua adolescência. Aos doze anos, persuadida de que poderia responder melhor ao que o Senhor lhe revelava, decide entrar no Convento da Encarnação, o Carmelo, mas seus poucos anos são um impedimento para ser admitida. Não se sabe concretamente sua reação diante da negativa recebida, mas também não se imagina a mudança que sua vida vai ter imposta pelos acontecimentos que assume com paz em meio às contrariedades. Isto confirmou, que seu único desejo, era agradar a Deus fazendo a sua vontade. 
JOAQUINA, A JOVEM, ALEGRE E ATRAENTE. 
Joaquina, como toda jovem, é uma grande sonhadora. Enquanto esperava ter idade para ser admitida no Convento, a vida transcorre entre os seus como antes.A força da sua vida será medida, não pelo que viveu, mas pelo entusiasmo no que vive.Joaquina está em plena juventude. Quinze anos. A casa dos Vedruna era freqüentada por um jovem, companheiro agradável: Teodoro de Mas. Suas visitas ao Sr. Lorenzo, advogado, talvez não fossem apenas profissionais. Há festa em casa. Festa da juventude. Teodoro de Mas é um dos presentes em destaque. Começa a festa. Alegria, humor, entre os rapazes e moças e, dentre elas, Joaquina: alegre, simples e atraente. Teodoro havia comprado um pacote de amêndoas pensando que “escolherei por esposa aquela que aceite as amêndoas com mais simplicidade” As duas irmãs mais velhas, por se sentirem mais maduras, inclinaram o pacote para Joaquina. Ela com um sorriso e simplicidade acolheu a gentileza e ficou com as amêndoas nas mãos. Não foi coincidência, o recurso que Teodoro havia escolhido levava implícita a sua preferência. A simplicidade daquelas que são como crianças é patrimônio de poucos. Por isso, olho-a com alegria e o seu coração bateu mais depressa. Dessa situação nasce um grande amor. O advogado de Vic, Sr Teodoro, expressou ao Sr Lorenzo o desejo de contrair matrimônio com a sua filha Joaquina. Os pais de Joaquina dialogam com ela e perguntam-lhe o seu parecer.Ela sente-se atraída por Teodoro. Em atitude de fé, acolheu a vontade de Deus que atuava através dos acontecimentos e das pessoas. 
JOAQUINA, A JOVEM ESPOSA. 
Deus muda os rumos, mas aponta para o mesmo horizonte, realizar a sua vontade. Aos 15 anos abraçou a vida matrimonial, casando-se com Teodoro de Mas, no dia 24 de março de 1799,na Igreja Nossa Senhora “Del Pino", com quem viveu em grande sintonia de ideais.Joaquina é quase uma menina, mas a força do seu olhar penetrante e profundo, bem como a sua fé, revela-nos sua alma de mulher. A aventura apaixonante que começam juntos, pouco a pouco irá transformando-a em vida. 
A VIDA QUE BROTA DA CRISE 
A vida do casal Mas e de Vedruna começa a ter seu ritmo próprio. Após o casamento, estabelecem-se em Barcelona, onde Teodoro tinha o seu trabalho. Passam-se os dias e as primeiras ilusões, vão deixando lugar a monotonia do cotidiano. E a cada dia que passa, Joaquina vai tomando consciência desse novo compromisso que se apresenta maior do que lhe parecia no início. E aquela tentativa de ser religiosa aos doze anos? Onde ficou esse sonho? E mesmo amando a seu marido, sentiu saudades daquela primeira vocação para o Carmelo. Sentiu no seu íntimo uma profunda e secreta dor, porém não se fechou nos seus sentimentos.Partilha seu sonho de ser Carmelita com Teodoro. E, que surpresa! Também ele, no passado, desejara ingressar num mosteiro. Não realizou essa vocação, porque seu pai o havia destinado para outra tarefa, em outro caminho. O verdadeiro amor leva as pessoas a uma comunicação, a uma revelação mútua. Foi nessa partilha de vida que Joaquina e Teodoro assentaram as bases para um projeto de vida sólido. Identificados nos mesmos ideais e acolhendo o segredo um do outro aceitam e assumem na fé esse caminho Os anseios dos dois fundiram-se numa aspiração comum. Animando-se mutuamente, os dois se comprometem a responder alegres ao Plano de Deus, educar cristãmente os filhos que forem chegando. E nessa comunicação e sintonia, ambos crescem como pessoas e como casal. Assim, no casamento, Joaquina descobre uma nova maneira de entregar-se a Deus, vivendo com toda lealdade sua condição de esposa e mãe. 
JOAQUINA, A JOVEM MÃE. 
Joaquina fez seu primeiro estágio de educadora dentro do próprio lar, convencida de que é o lugar onde se cultivam os valores essenciais da personalidade, através das experiências vividas desde os primeiros instantes da vida, por isso sua preocupação com os filhos. Nove preparações, nove esperas, nove chegadas, nove acontecimentos sempre novos e únicos. Nove filhos chegaram: Ana, José Joaquim, Francisco, Joaquina, Carlota, Teodora, Terezinha, Maria do Carmo. Joaquina consagra sua vida a eles. Com sua mãe, havia aprendido a ser mãe, e com seus filhos faz a experiência da primeira maternidade. Não basta dar atenção aos filhos de um modo geral, mas a dedicação concreta a cada um deles, perceber suas tendências, incentivar o bom que descobria neles, corrigir com amor e com o exemplo de sua vida. No entanto, seu esmero com todos os filhos, expressa, junto com toda a família, uma grande preocupação com o filho Francisco .O desvelo e atenção de Joaquina recai sobre ele com maior carinho; somente tem 5 anos,mas seu temperamento nervoso e sua agressividade lhe faz prever um futuro muito difícil, pois não reage aos cuidados e atenção dados com amor.Joaquina teme pelo seu futuro e por isso renova a oferenda que havia feito ao nascer de cada uma das crianças: “Meu Deus, Francisco é teu. De Ti recebemos. Se mais tarde ele te haverá de trair, antes que isso aconteça, leva-o contigo.” Francisco morre aos seis anos. A arte de amar se torna mais uma vez a arte de sofrer. Também o seu filho mais velho, José Joaquim, causa-lhe preocupações. Era vagaroso, um tanto preguiçoso... e sua mãe o queria mais vivo, mais ativo, menos apático, mais comprometido. A ele destinará muitas cartas, cheias de atenção e solicitude no decorrer de sua vida Assim Joaquina, mãe de uma família numerosa, distribui atenção e ternura em quanto vê seus filhos crescerem. Ao seu redor há vida. Seus dias e suas noites são para os filhos. Suas forças e seus talentos também o são. Reza diariamente com seus filhos. Partilha com eles sua vida, sua felicidade e sua fé. 
JOAQUINA A MULHER FORTE 
A Espanha entra em guerra. Napoleão se dispõe a conquistar toda Europa e estréia o seu vigor. Suas tropas ultrapassam a fronteira e a passagem por terras espanholas se converte em invasão. Está em jogo a fé cristã. Teodoro é convidado para a guerra. Parte como capitão de reserva e ajudante de campo. A tranqüilidade da família se desmorona. Joaquina e Teodoro continuam unidos na mesma vivência religiosa, nos mesmos interesses, na mesma intimidade. Perante a proximidade dos franceses, Joaquina de Mas e de Vedruna, por ser esposa de um Capitão de reserva, vê-se obrigada a abandonar o Manso Escorial e foge para o interior, com uma dolorosa incerteza a respeito do seu marido, com um coração cheio de ternura para com seus filhos e as pessoas que os acompanhavam. É necessário chegar ao Monstseny antes do entardecer para evitar o encontro com os franceses. Chegam a uma planície, o sol está se escondendo, não sabem onde se acham, mas com certeza Vic ficou muito longe, e os franceses não passarão por ali.A solidão é imensa, assustadora. Comem alguma coisa e rendidos pelo cansaço, decidem passar ali a noite. De pronto percebem que uma simples mulher se aproxima e adverte-lhes o perigo que correm, pois naquela noite irão ali os franceses. Joaquina, acorda as crianças. Põem-nas, nas cavalgaduras e outra vez a caminhar. Aquela mulher cheia de ternura os acompanha, após uma hora de caminho chegam a uma grande fazenda ,onde morava uma família. Em seguida, aparece abrindo a porta da casa um moço com uma lanterna. A senhora que os acompanhava, explicou o porquê daquela inoportunidade e ao mesmo tempo desapareceu. Joaquina interpretou que aquela senhora tão delicada era Nossa Senhora. O moço da casa convida para entrar e na conversa com a família descobre que o nome de Joaquina de Mas e de Vedruna do Manso Escorial de Vic não lhe era desconhecido. E neste dia nasce uma grande amizade entre as duas famílias. Afastado o perigo de Vic e passados os primeiros sustos, Joaquina e seus filhos abandonam as montanhas e regressam ao Manso Escorial.Teodoro, mesmo estando meio na luta, quando a vida de campanha lhe permite , escapa para Vic. A vida se foi normalizando e Joaquina, como antes de ir ao Montseny, passa os dias dedicados aos seus filhos e atenta ao cuidado e formação de todos os que compõem a grande família do Manso Escorial. Recomeçou a catequese, a oração em comum e as desculpas para ficar sozinha em casa, dando férias as empregadas, e ser ela quem servia. Os franceses continuam atacando. Teodoro continua defendendo seu povo, sacrificou sua carreira pela liberdade do seu país. ...
E A VIDA CONTINUA 
Já não há motivo para que a família de Mas e de Vedruna continue morando em Vic. O regresso a Barcelona faz-se necessário. A guerra deixou uma profunda marca na saúde de Teodoro, com todo seu espírito trabalhador e o desejo de levar a família avante, o anima-o e estimula. A situação esta difícil. Teodoro tem que começar de novo na sua profissão, pois os clientes que tinha, tiveram que buscar ajuda de outros advogados. Teodoro observa seus filhos e admira a sua esposa, como vai educando-os bem! Como se amam todos! Dezessete anos de felicidade passam rapidamente. Experimentam a dor da morte de três filhos: Francisco, Carlota e Joaquina Na grande mesa das refeições se reparte não só o Alimento, mas também as alegrias, trabalhos, esperanças. Todos, grandes e pequenos, querem contar suas novidades. Um dia, na hora do almoço, no meio dessa tranqüilidade, Joaquina experimenta algo estranho. Algo como uma dor profunda, um pressentimento confuso de que seu esposo vai morrer. Entretanto, a saúde de Teodoro, abalada desde a guerra, foi decaindo. Tenta curá-lo, mas não consegue. As festas de Natal as celebram com alegria. Toda a família unida arruma o presépio. Juntos vão a missa do Galo na Paróquia del Pino, onde tinham-se casado.Quantas lembranças! Agora, a quase 16 anos do seu casamento, entendem melhor o que é amar. Joaquina vive com gratidão e preocupação estas festas. Imagina que pode ser o último Natal que vão celebrar juntos. Passadas as festas vai a Vic para a matança do porco com sua filha mais velha e a mais nova. Em Barcelona, fica Teodoro com todos os outros, aos cuidados da empregada fiel, que os ama como se fossem filhos. Joaquina escreve-lhes. Sente a sua falta e tem vontade de vê-los, mas de momento há muito trabalho: fazer lingüiça, preparar a conserva. Conta-lhe também as gracinhas de Marieta e o muito que a ajuda Ana. Teodoro recebe a carta e rapidamente responde. Barcelona, 26 de janeiro de 1816 Amada Joaquina: esta manhã recebi tua carta, a qual, mesmo curta,é muito satisfatória; pois vejo que você e as meninas estão bem. Vejo a grande matança do porco que fez; e que vai estar divertida por muitos dias, pelo menos se está sozinha. Porém, sozinha ou com companhia, desejo regresse quanto antes possível lhe seja; porque os meninos me trazem louco. Um quer ir à comédia; outro aos pastorinhos e sou eu que faço as encenações. ... Todos os parentes e nós a saudamos com cordial afeto, e lhe repito, calma e procure viver muitos anos, a fim de poder desfrutar um da companhia do outro. Lembranças de todos os que tem em casa. E você disponha de seu esposo que a ama desperto, dormido, sonhando e repousando. Seu Teodoro de Mas. Teodoro recomenda-lhe calma, que procurem viver muitos anos para poder desfrutar um do outro, mas isto não será possível. Caem os dois doentes. Ela com uma erisipela maligna e Teodoro com uma tuberculose já muito avançada que lhe obriga a guardar cama. Ambos partilham a experiência de uma doença, em quartos diferentes. Dona Teresa Vidal se translada à casa de seus filhos para cuidá-los Os acontecimentos se precipitam e um dia a casa é rodeada por uma nova dor. Teodoro morre aos 42 anos de idade. Joaquina não pode atender o seu marido nem sequer dar-lhe o último adeus. Evitam dar a notícia a Joaquina pelo estado em que se encontrava. Ninguém suspeitava que ela, desde o seu leito, havia pressentido e captado o acontecimento, mas disfarçou e aquela noite viveu-a em silêncio. Na manhã seguinte, o sacerdote, confessor da família, quer preparar a enferma e dar-lhe a notícia dolorosa. Fica surpreendido com uma mulher que, durante a noite, sofreu, refletiu, orou e assumiu a nova situação com a sua costumeira fortaleza. Confrontou-se com a dor e contando com ela, planejou o novo rumo de sua vida numa constante atitude de acertar com a vontade de Deus. Serenidade e calma. Não é indiferença. É amor maduro. A morte de seu marido é o ponto de partida para uma nova missão. Vida de plena dedicação a Deus no serviço aos irmãos. 
A VIÚVA DE MÁS E DE VEDRUNA 
Joaquina está com 33 anos e segue a sua luz. Seus dez anos de viuvez são fecundos. Volta novamente a Vic e ali começa outra longa etapa de sua vida. Vida de doação aos filhos e os necessitados da vida. Ela encontra no Manso Escorial tudo o que necessita: tranqüilidade, silêncio, possibilidade de vida recolhida e simples. Neste ambiente ser-lhe –ia fácil se dar toda a Deus e ao mesmo tempo atender a educação dos seus filhos ainda pequenos. Isto como fruto de um só desejo, de uma só motivação: fidelidade a Jesus Cristo Crucificado, expressão máxima do amor ao Pai e aos irmãos. Como sinal do começo de um novo estilo de vida, oferece seus brincos de brilhante à Virgem, a Divina Pastora que se venera na Igreja dos Padres Capuchinhos. Sua grande devoção à Mãe de Deus aparecerá muitas vezes relacionada com esta advocação. Se Jesus é o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, Maria é expressão de esperança e de consolo para o povo de Deus que peregrina. Com a guerra, Joaquina começou a experimentar a pobreza. Os seis anos passados em Vic e os pleitos por parte da família do seu marido fizeram-lhe sentir a alegria de quem tem sua confiança só em Deus. Ao mesmo tempo, o perigo que ameaça o patrimônio de seus filhos, é motivo de grande preocupação e sofrimento. A inclinação de toda a sua vida para a oração pôde satisfazê-la, plenamente. O jardim do manso oferece-lhe lugares tranqüilos, mas Joaquina tem preferência pelo sótão e ali passa muitas horas da noite, tempo em que vai conhecendo Jesus, aprofunda suas atitudes e se enamora cada vez mais Dele. Com freqüência, visita os enfermos do hospital de Vic e na casa de caridade, ajudando no cuidado dos doentes, ouvindo desabafos, partilhando seus escassos bens, seu amor e seu tempo. Com seus filhos, Joaquina não usa de moleza, utilizando a pedagogia do amor, não lhes facilita as coisas. Aconselha-os com amor, corrige-os com energia, respeitando o modo de ser de cada um, orienta-os para que se organizem a fim de resolver os próprios problemas. Organizou a vida familiar de modo que houvesse tempo concreto para o trabalho, o estudo e a oração. Seu filho José Joaquim casou com Rosita, e por algum tempo, cuidou das irmãs menores. Joaquina o acompanhou com correspondências riquíssimas e orientações educativas. Pedindo atenção para com Marieta de 9 anos , escreve assim a seu filho:” Esteja atento, porque as crianças são muito espertas e nada lhes escapa”(carta 4) Usando de comparações simples, mas sábias, orienta seu filho e nora na vida familiar, dizendo: “Cuidem das companhias dos seus filhos. Nessa idade convém que os filhos estejam com seus pais e os pais com seus filhos, pois assim descobrirão suas más inclinações e poderão orientá-los, pois a árvore só poderá ser endireitada quando pequena” Novamente a guerra veio perturbar a paz. Forte e intrépida, Joaquina foge para a França com seus filhos. Foi um período de forte experiência de pobreza, de humildade e de confiança em Deus. Ao voltar da França, foi residir na cidade de Igualada, pois sua casa de Vic estava ocupada pelas tropas do exército francês, e lá começa a refazer sua vida. Outro ambiente, porém, igualmente com pobres e doentes, produtos da guerra. Fazendo esse serviço vai amadurecendo a antiga idéia de tornar-se religiosa. Sente atração por um convento de clausura. Mas há uma espera, enquanto seus filhos ainda necessitam da presença da mãe. Os problemas da sociedade a afetam profundamente, sobretudo a juventude que está sem rumo,a mulher relegada a segundo plano.Ela foi uma mulher muito sensível às necessidades do mundo, ao sofrimento dos mais pobres, mulher corajosa que enfrentou estruturas pesadas, tanto em alguns setores da Igreja, como na sociedade política, teve que, em nome da fé e espírito de caridade e justiça, submeter-se à prisão. O administrador do hospital de Igualada, Sr José Estrada, amigo de Joaquina homem bom, inteligente e caritativo mantém nela a esperança de poder chegar a algo concreto e definitivo em favor dos pobres e das crianças. Mas a própria situação política não lhe permitia nenhuma concretização de seus ideais. O Frei Estevão, capuchinho nascido em Olot, contempla o momento histórico e no silêncio e na oração tenta descortinar os horizontes de Deus para o povo. Certo dia, Joaquina regressa a Vic e ocasionalmente entra na Igreja dos capuchinhos à hora da missa. Pede para se confessar. É atendida pelo Frei Estevão, confia-lhe seu desejo de tornar-se religiosa. Seguem juntos, muitos momentos de oração, diálogo, e procura.Nesse tempo, Joaquina decide vestir o hábito de São Francisco, e junto com Frei Estevão e o Sr. José Estrada, administrador do hospital de Igualada, começa a delinear a idéia de uma nova família religiosa. 
NASCE UMA NOVA FAMÍLIA RELIGIOSA 
Joaquina, certa do que quer , é vontade de Deus, solicita ao Bispo de Vic, a permissão para abraçar em sua casa algumas jovens pobres, que estão abrasando-se em amor a Deus e querem ser religiosas.Inicia uma obra totalmente voltada para o mundo , em que há o contato com as necessidades do povo de maneira bem concreta nos hospitais, educação, com as famílias. Joaquina foi um grande exemplo de mulher consagrada a serviço dos pobres e excluídos do seu tempo, aliviando as dores de muitos. Discípula apaixonada de Jesus, mulher de fé e confiança, oferece à Igreja um novo modo de presença de vida consagrada, marcada pelo espírito de família, pelo estilo contemplativo simples e alegre. O PRIMEIRO GRUPO DE JOAQUINA E a vida começa muito simples, como simples são as coisas de Deus. No dia 26 de Fevereiro de 1826, no Manso Escorial, cidade de Vic, em sua própria casa, Joaquina reúne nove jovens que dão origem a Congregação das Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna, a primeira na Espanha dedicada à educação. É tempo de Quaresma, na Igreja dos padres Capuchinhos, Joaquina e seu grupo começam rezando a Via Sacra e depois participam da missa. À hora do almoço, apenas um prato de sopa de fubá, pois não havia recursos para mais.
A PEDAGOGIA DO AMOR 
A casa se converte numa escola. A educação sistemática da mulher até então desconhecida nos costumes europeus, vai abrindo caminho. Uma idéia estava clara em Joaquina de Vedruna: dar atenção às crianças sobretudo às meninas. Joaquina aproveitou o que a lei de educação na Espanha oferecia e adaptando-se em certo modo ao sistema estadual de educação, desenvolveu sua obra com um fim eminentemente apostólico. Escolheu o tipo de escola que mais convinha ao seu instituto: a adscrita a um hospital. Seguindo o prescrito para as escolas estaduais, conseguia que as irmãs fossem remuneradas pala prefeitura ou órgãos governamentais, garantindo assim o atendimento às crianças pobres e mais necessitadas, como era o seu desejo. Joaquina tinha uma concepção de uma educação que visasse: O bem espiritual da pessoa O desenvolvimento de todas as suas potencialidades A formação de um jeito capaz de construir e transformar o mundo. Orienta as irmãs na sua missão educativa, para que considerem o educando agente de sua própria educação, capaz de auto-formar-se. O papel do educador é apenas despertar nele suas potencialidades, abrir caminhos, mostrar novos horizontes. Uma frase sua reflete isso: “A criança é como carvão que se deve acender. Isto quer dizer que é a pessoa se educa a partir do que ela é”. A pedagogia do amor é para Joaquina o segredo da eficácia educacional: “Tudo por amor, nada pela força”, era uma de suas máximas preferidas. Em outros momentos recomendava: “Quando precisarem corrigir algum aluno, não permitam que ele se afaste triste ou contrariado. Procurem antes mostrar-lhe que vocês o amam muito. Se conseguirem ganhar o coração de seus alunos, conseguirão fazer muito bem a eles”. 
SENSÍVEL AO MUNDO DA DOR 
Joaquina queria remediar todas as necessidades dos povos, mas sendo limitada, tentou atingir os problemas mais urgentes do momento. No início, cuidavam dos doentes em suas próprias casas. Quanto à sobrevivência, era preciso trabalhar para comer. No começo, dividiam seu tempo entre o trabalho da escola e o cuidado aos doentes. Ela motivava as Irmãs para que aprendessem de tudo. “É muito conveniente que as irmãs aprendam de tudo e sirvam para tudo”, depois virá a especialização nos diversos campos apostólicos.Às irmãs enfermeiras não deixou nada escrito. Somente guardamos seu agir transmitido pelas que conviveram com ela. O serviço aos doentes também foi motivado pelo amor. Tratar a cada um deles como se fosse o Senhor. Trato-os sempre como irmãos. Por isso, compreendiam facilmente que Deus é Pai de todos e o absoluto de sua vida. 
CRESCIMENTO E EXPANSÃO 
A pequena semente lançada por Joaquina germinou e frutificou. Foram chegando outras jovens, fazendo crescer a família Vedruna. E ela foi-se estendendo, primeiro na região de Catalunha e depois pela Espanha adentro. O primeiro impulso do grupo foi detido por causa da guerra civil espanhola. Em julho de 1840 a fundadora, com algumas Irmãs, tiveram que fugir para a França, em Perpinham, pequeno lugarejo, onde permaneceram até 1843, quando puderam retornar.A guerra trouxe sérias conseqüências para sua obra recém iniciada, porém não desanimou. Reorganizou o noviciado, refez as comunidades e motivou as Irmãs para seguir adiante, apesar das dificuldades. Com um olhar sobrenatural e grande ternura escreveu: “Ainda que passamos um mau tempo, Deus cuidou de nós como se cuida dos pássaros... tudo isto nos dá nova vida e forças para continua-mos com o que foi começado”. Joaquina recebeu de Deus o dom de amar em vida de família; amar e se doar na simplicidade, na pobreza, na alegria, confiança e abandono em Deus. Viveu o espírito de oração, humildade, espírito de penitência e sacrifício que se manifestava na maneira austera de viver. Sua vida foi tecida de esperança e confiança em Deus, que é Pai. Foi muito realista sincera. Realidades profundas se expressam através de frases recolhidas nas múltiplas cartas: “O amor nunca diz basta” “Só amor de Deus se encontra sempre” “No caminho da cruz, que a leva é Jesus”. Joaquina de Vedruna, já idosa permanece lúcida até quando foi acometida por uma enfermidade que a deixou em cadeira de rodas, com dificuldade de se expressar e com aparente perda das faculdades mentais. Morre no dia 28 de agosto de 1854, vítima de epidemia de cólera que assolava o país. Deixava a Congregação presente em sete regiões da Espanha com 26 comunidades e 150 irmãs.Estas herdeiras do seu Carisma dão continuidade à sua obra na Igreja. Mãe de nove filhos, disse dela o Papa João XXIII, “converter-se-á em mãe de inúmeros pobres”.Este Papa, em 1959, colocou o nome de Joaquina de Vedruna na lista dos Santos, como uma mulher que foi capaz de ser testemunha exemplar de Jesus. Superando os limites da Catalunha, após sua morte, a Congregação das Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna estendeu-se primeiro pelas diversas regiões da Espanha, depois para a América, Ásia, e África . 
A PRESENÇA DE JOAQUINA NO BRASIL 
Em 1952 começa a história da Família Vedruna no Brasil na Cidade de Maringá. Com a chegada das primeiras Irmãs no dia 18 de junho. O grupo estava formado por: Maria Dolores Diaz Alberdi (faleceu: 1978), Maria Elena Callicó Vilaseca ( faleceu:1998), Guadalupe Dorronsoro Solazabal ( faleceu: 1991),Rosina Iglesias Lama ( voltou para Espanha em 1952),Pilar Sanchez Fernández . Correspondendo aos desejos da Fundadora, quando dizia: “Quero que minhas filhas cheguem a toda parte, elas nada podem recusar..” . Foram recebidas com todo carinho por Dom Geraldo Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, e por seu secretário, Pe. José Antonio Roldán, que conhecia as Irmã Carmelitas da Caridade de Vedruna , Espanha. Vieram para Maringá, quando esta , contava apenas com 4 anos de idade, e responsabilizaram-se da pequena Escola Paroquial Santa Cruz. Com 64 alunos, em salas de aula bastante precárias, iniciaram as atividades escolares. Paralelamente realizavam um trabalho junto ao povo de catequese, animação dos cantos litúrgicos,terços , novenas etc. Atualmente, a Congregação, faz-se presente em cinco Estados: Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco e Minhas Gerais. Um grupo de 49 Irmãs que querem atualizar e dinamizar o Carisma Vedruna em diversos Campos de atuações: educação de crianças, jovens e adultos; presença no meio do povo sofredor em ambientes rurais e periferias de cidades, atuação na Pastoral em Paróquias e também prestam assessorias em diversos organismos com CRB (Conferência dos Religiosos/as), CJP (Comissões de Justiça e Paz) e outros. O Carisma, Dom que o Espírito Santo deu a Joaquina de Vedruna, continua vivo hoje, nas diversas culturas, raças e línguas, através das Irmãs espalhadas em 22 paises e 4 Continentes do mundo. Trabalhando para a Glória de Deus, na simplicidade, na alegria, na pobreza evangélica, alimentadas pela profunda vida de oração, fazendo presente nelas a forma de vida que Jesus escolheu para a construção do Reino. O Carisma de Santa Joaquina, também é vivido hoje por muitos Leigos e Leigas que se sentem identificados com a sua espiritualidade. 
QUEM SÃO OS LEIGOS VEDRUNA? 
São cristãs e cristãos que sentem um chamado a seguir Jesus de uma maneira específica, desde o Carisma de Joaquina de Vedruna, tendo ela como exemplo e modelo de entrega a Deus e serviço aos irmãos em todos os estados da vida. Os Leigos Vedruna, são pessoas que sentem o desejo de pertencer à Congregação das Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna, participando do Carisma, mas sem deixar sua condição de leigos/as comprometidos com a família, na Igreja e na sociedade A associação dos Leigos Vedruna surgiu simultaneamente em diferentes situações e em diversos lugares do mundo: Europa, América e África. Conta com mais 450 membros. No Brasil existem 25 Leigos Vedruna organizados em 3 grupos: um grupo em Maringá e dois em Campinas. 
E AGORA? 
Você que, acredita que é possível construir um mundo mais humano e fraterno, pode encontrar em Joaquina de Vedruna um modelo na vivência do amor: formando uma família, sendo Leigo/a Vedruna ou uma Religiosa Carmelita de Vedruna 
A DECISÃO É SUA... 
BIBLIOGRAFIA
HORIE, Cazuko. O Dom de Amar - perfil biográfico de Santa J. de Vedruna Coleção Herois . Editora Salesiana . 2001 - ALONSO ,Ana Maria. Epistolário - Joaquina de Vedruna , espanha.Editora Vedruna, 1 1969 - MARTIN, lydia Bendicho. Joaquina de Vedruna. 1983 - SANCHEZ , Pilar. Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna no Brasil cadernos da Congregação. 2003 Nota: Especial agradecimento dispensamos à Irmã Maria López Otero c.c.v. pela Biografia de Santa Joaquina, pela colaboração, amizade e carinho dispensado a nossa equipe “que Santa Joaquina de Vedruna seja sempre modelo de vida, amor, doação, caridade e perseverança para Senhora e para todos nós”. 
HORÁRIO DE ATENDIMENTO NA SECRETARIA: SEGUNDA À SEXTA-FEIRA, DAS 8H ÀS 18H E SÁBADO DAS 8H ÀS 11H30 Av. Harry Prochet, 367 - Zona 06 - CEP: 87015-480 - MARINGA - Paraná (44) 3225-8628 meu ip

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