A misericórdia era fundamental na pregação e nas atitudes de Jesus. Ouvimos hoje as parábolas da ovelha e da moeda perdidas e do Pai misericordioso que chamamos impropriamente de filho pródigo (Lc 15,1-32). Jesus parte de um fato concreto: Naquele tempo, “os publicanos e os pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os fariseus criticavam Jesus por acolher os pecadores. Dizem: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,1-2). Jesus explica que sua atitude é a misericórdia de Deus. Usa a imagem do pai que acolhe e do irmão que rejeita o que saíra de casa e é acolhido com festas. O Pai de Jesus é um Pai que acolhe a todos. Os fariseus são retratados no irmão mais velho. Por que dá esta importância à misericórdia? Lemos no livro do Êxodo, na cena do bezerro de ouro, que Deus queria exterminar o povo pecador. Moisés apela para a promessa de Deus que misericordiosamente escolhera Abraão e sua descendência. Deus perdoa o povo (Ex 32,13-14). A misericórdia é uma manifestação clara do modo de ser de Deus que Jesus revela. As comunidades de Lucas viviam situações de tensões internas por causa do próprio desejo de perfeição na vida do evangelho. Os pecadores e os fracos acabavam sendo rejeitados. Por isso, a figura do Pai é o modelo para a comunidade nas relações com os fracos e pecadores. Não podemos dispensar a misericórdia em nossa vida.
A misericórdia do Pai
Qual o significado de misericórdia que é tão importante para Jesus? Em latim a palavra tem em si o termo corações (cordia). Em hebraico a palavra tem uma riqueza muito grande. Deus é misericordioso (EL RAHUM). É um termo reservado a Deus. A palavra tem significação de maternidade, fecundidade e prazer. As palavras que se formam a partir desta raiz significam útero, seio, entranhas, amor, piedade, graça, coração, bondade, ternura. O gesto de abraçar está ligado a este termo. Até a palavra coruja (Raham) significa ave que ama ternamente seus filhotes. Os adjetivos bondoso, compassivo, amoroso são da mesma raiz. Em árabe, língua irmã, é a mesma palavra e indica acariciar, afagar, aquecer. E assim por diante. Na parábola, quando o pai viu o filho perdido voltando, sentiu misericórdia. O amor tocou o coração. Usa-se também o termo “entranhas de misericórdia”. Sentiu nas entranhas, isto é, no íntimo. O cuidado de Deus pelos pequeninos e sofredores toca seu íntimo, como se fosse um movimento nas entranhas.
O pecado não é o fim
Cada um é importante para o Pai. Se dá mais atenção à ovelha perdida que a 99 nove boazinhas é por sua necessidade. Paulo sente profundamente este carinho de Deus pois diz de si que, sendo perseguidor encontrou misericórdia porque agia por ignorância. “Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Segura .... é a palavra: ‘Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!’” (1Tm 1,14-15). Paulo se tornou modelo dos que recebem a misericórdia de Deus. Nosso Deus é muito bom. Por que ter medo Dele, quando é mais preocupado conosco do que nós conosco mesmos? Precisamos sentir em nós a ação de seu amor misericordioso. Ser acolhido com misericórdia é motivo para louvar na celebração eucarística. A confissão é o momento do abraço de acolhida.
Leituras:;Êxodo 32,7-11.13-14;Salmo 50;
1Timoteo 1,12-17; Lucas 15,01-32
1. A misericórdia de Deus era fundamental na pregação e nas atitudes de Jesus como as parábolas sobre a ovelha perdida. Os fariseus criticam que recebe a todos os pecadores. A imagem do pai que acolhe o filho e o irmão que o recusa é a imagem de Jesus em contraposição com os fariseus que recusam os pecadores.
2. A raiz da palavra misericórdia envolve uma série de palavra cujo significado é amor, maternidade, fecundidade, seio, útero, entranhas, piedade, graça, o gesto de abraçar e até coruja que é mãe cuidadosa. O amor de Deus pelos necessitados toca suas “entranhas”.
3. Cada um é importante para Deus. Se dá mais atenção à ovelha perdida é porque é necessitada. Paulo sente em si mesmo esta misericórdia de Deus cuja graça transbordou. Nosso Deus é muito bom. Não precisamos ter medo e sim sentir a ação de seu amor misericordioso.
DNA de Jesus
Jesus contou uma parábola sobre um filho que saiu de casa, gastou tudo com porcariada e depois, como pobre não tem amigo, caiu na miséria. Ali, cuidando de porcos (pior coisa para um judeu) viu sua situação, arrependeu-se e decidiu voltar para casa.
O pecado leva a pessoa para o buraco, como vemos no Antigo Testamento. O povo, libertado por Deus do Egito, fez um bezerro de ouro para adorar. Deus quis acabar com aquele povinho ingrato. Moisés intercede e chama a atenção de Deus para a misericórdia e Deus perdoa o povo.
Jesus com a parábola da ovelha perdida e do filho perdido e encontrado quer mostrar a misericórdia do Pai que busca a ovelha perdida e acolhe o filho que saiu de casa. Jesus tem o mesmo DNA de seu Pai.
Está mostrando assim que está em contraste com os fariseus que criticavam Jesus que acolhia os pecadores. Mostra-nos que fazemos uma Igreja para os bonzinhos e puros e deixar os pecadores e necessitados de fora é sinal que não temos o mesmo DNA do Pai.
Homilia do 24º Domingo Comum (12.09.2010)
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