Zeferino Gimenez Malla nasceu no dia 26 de agosto de 1861, na região da Catalunha, Espanha. Era filho de ciganos que viviam naquela região. Entre os ciganos era conhecido pelo apelido de "El Pelé". Sua família era pobre e ficou mais pobre ainda quando seu pai a deixou para se unir a outra mulher. Por causa desse abandono do pai, Zeferino precisou confeccionar e vender cestas de vime para ajudar no sustento da casa e não teve condições de à escola.
Ao completar vinte anos, Zeferino mudou-se para Barbastro. Lá, casou-se com uma jovem chamada Teresa Gimenez Castro, seguindo a tradição cigana, sem recorrer a um rito religioso. Com o passar do tempo, viram que não poderiam ter filhos. Por isso, adotaram uma menina chamada Pepita, sobrinha de Teresa. Educaram-na no amor e na fé cristã.
Analfabeto e sem profissão fixa, Zeferino tinha talento para lidar com cavalos e mulas e ganhava a vida fazendo isso. Porém, a caridade de seu coração abriria para ele uma porta de prosperidade. Numa estrada que chegava em Barbastro, havia um homem tuberculoso, tossindo sangue e sofrimento. O homem agonizava na estrada e todos recusavam-se a ajudá-lo por medo da terrível e contagiosa tuberculose. Zeferino, porém, ao vê-lo, teve compaixão e, sem medo, levou para sua casa. Lá, cuidou do desconhecido como se este fosse o próprio Cristo. Quando o homem melhorou de saúde, revelou sua identidade: era um milionário, dos mais poderosos da região.
O respeito e a caridade cristã demonstrados por Zeferino tocaram profundamente o coração daquele homem. Por isso, tendo seu coração transformado pela caridade de um cigano, ele fez questão de recompensar Zeferino, dando a ele uma valiosa gratificação em dinheiro. Com o montante, Zeferino iniciou um negócio pequeno. Rapidamente, porém, o negócio prosperou e ele se tornou um comerciante autônomo seguindo sua tradição cigana.
Algum tempo depois, por causa de sua habilidade nos negócios, Zeferino estava rico. Porém, mesmo rico, nunca deixou de praticar a caridade para com os necessitados. Seguindo a origem nômade dos ciganos, iniciou a pregar o Evangelho nas estradas e aldeias, especialmente entre os ciganos, sem fazer distinção. Nunca deixava de socorrer os que precisavam. Socorria os ciganos em necessidade, mas não só. Estava sempre disposto a socorrer e atender a todos, independentemente de raça, cor, credo ou condição. Levava sempre consigo o Santo Rosário. Rezava-o constantemente e ensinava os outros a rezá-lo.
O Bem-aventurado Zeferino era um grande devoto de Nossa Senhora. Além disso, tinha uma vida eucarística profunda, com missas e comunhão diárias. Em 1912 ele oficializou seu casamento religioso. Então, passou a frequentar reuniões da Ordem Terceira de São Francisco, especialmente a "Quarta-feira eucarística". Daí nasceu uma profunda amizade com os franciscanos. Estes testemunhavam que Zeferino era um cigano alegre, comunicativo, caridoso, modelo de santidade e virtude.
Com o objetivo de dar mais eficiência e organização à caridade que brotava de seu coração, Zeferino tornou-se confrade da Sociedade São Vicente de Paulo. De fato, ele viu que esta maravilhosa sociedade, sem alardes, dá uma enorme eficiência à caridade para com os pobres.
Além de Vicentino, Zeferino passou a dar encontros de catequese às crianças ciganas e não-ciganas. As crianças amavam seus ensinamentos, pois ele conhecia passagens da Bíblia de cor e as contava com inspiração e amor, arrebatando os pequenos corações. Nessas catequeses Zeferino plantou a semente do Reino dos Céus em centenas de crianças, na esperança de que elas se tornassem adultos cristãos, honestos e caridosos.
No ano 1936, a guerra civil espanhola se alastrou. Em 2 de agosto Zeferino foi preso quando tentou libertar um sacerdote que tinha sido preso por um grupo de anarquistas. Na ocasião, Zeferino tinha setenta e cinco anos. Ele foi preso e condenado ao fuzilamento. Porém, sob a mira dos fuzis, ergueu a cabeça, ergueu o rosário que sempre trazia consigo e gritou com voz forte e sem medo: "Viva Cristo Rei!" Assim, ele foi morte e sepultado numa cova junto com vários outros condenados. Por isso, seu corpo nunca foi encontrado.
No ano 1997, o Papa João Paulo II celebrou uma missa solene em Roma, na qual declarou que Zeferino Gimenez Malla é bem-aventurado. Milhares de ciganos de todas as partes do mundo foram à cerimônia e se alegraram por ter um representante tão digno de seu povo elevado às honras dos altares. Na ocasião, a festa litúrgica de Zeferino Gimenez Malla foi marcada para o dia 2 de agosto, dia de seu falecimento.
Na sua homilia o Papa João Paulo II declarou:
Chamei-vos amigos (Jo 15, 15). Também em Barbastro o cigano Zeferino Gimenez Malla, conhecido como el Pelé, morreu pela fé na qual tinha vivido. A sua vida mostra como Cristo está presente nos diversos povos e raças e que todos são chamados à santidade, a qual se alcança conservando os Seus mandamentos e permanecendo no Seu amor. El Pelé foi generoso e acolhedor para com os pobres, embora ele mesmo fosse pobre; honesto na sua atividade; fiel ao seu povo e à sua raça calé; dotado de uma inteligência natural extraordinária e do dom do conselho. Foi sobretudo um homem de profundas crenças religiosas.
A frequente participação na Santa Missa, a devoção à Virgem Maria com a recitação do rosário e a pertença a diversas associações católicas ajudaram-no a amar a Deus e ao próximo com integridade. Assim, ainda que com o risco da própria vida, não hesitou em defender um sacerdote que ia ser preso, razão por que o levaram para o cárcere, onde não abandonou nunca a oração, sendo depois fuzilado enquanto estreitava o rosário nas suas mãos. O Beato Zeferino Gimenez Malla soube semear concórdia e solidariedade entre os seus, servindo de mediador também nos conflitos que às vezes se verificavam nas relações entre camponeses e ciganos, demonstrando que a caridade de Cristo não conhece limites de raças nem de culturas. Hoje el Pelé intercede por todos diante do Pai comum, e a Igreja propõe-no como modelo a seguir e como demonstração significativa da universal vocação à santidade, especialmente para os ciganos que com ele têm estreitos vínculos culturais e étnicos.
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