Martirológio Romano: Em Florença, Beata Humiliana, da Ordem Terceira de São Francisco, que suportou com paciência e mansidão muitos maus tratos do esposo e, tendo enviuvado, se dedicou inteiramente à oração e às obras de caridade († 1246). Os Cerchi, guelfos da parte branca, eram uma família ilustre: um irmão de Humiliana ocupou cargos públicos importantes. Era época de lutas infinitas, mesmo dentro das muralhas da cidade. O vizinho podia ser um inimigo e, portanto, cada casa rica tinha a sua torre. Os guelfos eram leais ao Papa e os gibelinos ao imperador alemão. Na verdade, mais do que por motivos políticos se lutava por motivos econômicos; ricos comerciantes e nobres que disputam o poder. Em Florença, as lutas começaram com a morte de Buondelmonte, no domingo de Páscoa de 1215. Naquele período turbulento o espírito evangélico deu origem a novas plantas dentro da Igreja, pensamos nos franciscanos e nos dominicanos. São Francisco morreu quando Humiliana tinha sete anos. A notícia causou um rebuliço mesmo em Florença, que ele tinha visitado muitas vezes, e certamente chegou aos ouvidos de Humiliana. Humiliana nasceu em Florença em 1219, filha de Olivério Cerchi.
A fiel Gisla era mais do que uma camareira, foi uma companheira. No isolamento de seu quarto, com o essencial, montou um altar para Nossa Senhora. Passava os dias rezando e fazendo penitência, mesmo com cilicio. Jejuava nos dias de festa e nas vigílias, durante a Quaresma e Advento. Em alguns períodos, ela também respeitava o grande silêncio. Ela sofreu muito por causa da impossibilidade de continuar as atividades caritativas. Ela se deu toda a Deus, a castidade da viuvez. Ela vivia como uma reclusa no coração de Florença, entre as pessoas que muitas vezes iam visitá-la (incluindo as filhas). Seu quarto tornou-se uma espécie de centro espiritual; entre outras coisas, a cada Quinta-feira Santa ela lavava os pés de suas irmãs terciárias. Cristo recompensou consolando-a todos os dias. Não faltaram as vexações diabólicas e as provas espirituais, mas também as visões místicas. Foram muitos os dons com que Deus a agraciou: êxtases, espírito profético e poder taumatúrgico. Muitos episódios da sua vida mereceram ser inscritos em florilégios legendários: ser curada duma chaga dolorosa por meio dum sinal da cruz traçado por mão invisível; fazer com que a água substituísse o azeite para alimentar a lamparina do Santíssimo Sacramento; seu Anjo da Guarda a chamava de madrugada para a oração da manhã; padecendo de sede em virtude de uma febre, veio a Virgem Maria dar-lhe de beber; Jesus muitas vezes a alimentou com pão e mudou a água em vinho, e ressuscitou uma filha morta subitamente. Satanás vinha tentá-la com alucinações e seduções, com imagens sedutoras ou formas repelentes: a firmeza de sua fé defendia-a sempre desses assaltos. Ela adoeceu, mas se manteve em silêncio para evitar distúrbios: uniu seus sofrimentos aos de Cristo na Cruz. No dia de sua última Páscoa terrena, ao som dos sinos caiu em êxtase. Ela morreu, assistida apenas pela fiel servidora, no alvorecer de 19 de maio de 1246. Era sábado, o dia dedicado a Maria e Humiliana tinha vinte e sete anos. O funeral foi triunfal, dado que já a cercava a fama de santidade. Seus pés foram enfaixados para evitar os excessos das pessoas; ela tinha expressado esse desejo movida pelo senso de pudor que sempre lhe fora tão caro. As pessoas aclamaram-na santa e espontaneamente se dirigiam ao seu túmulo para rezar. Ela foi enterrada em sua igreja favorita de Santa Cruz. No começo, ela foi enterrada no chão, em seguida, por trás de uma parede sob as escadas do púlpito, até que seu irmão Arrigo (que seguira seu exemplo se tornando franciscano), dispôs uma capela no claustro. Hoje suas relíquias são veneradas em uma capela do transepto, em uma urna artística. A humilde beata repousa na basílica que o mundo inteiro conhece por suas obras de arte e porque ali estão sepultados alguns grandes da Itália. Sua vida foi escrita em latim pelo Frei Vito de Cortona (do convento de Celle) e pelo confessor Frei Miguel, sendo que os dois a tinham conhecido. Houve uma atenção incomum ao recolher testemunhos: são citadas escrupulosamente trinta e quatro testemunhas, incluindo três cunhadas, uma avó e três empregadas domésticas. Mesmo os milagres (quarenta e sete), que ocorreram nos três anos após a morte, foram registrados por Frei Hipólito, do mesmo convento. A biografia foi resumida trezentos anos mais tarde por Raphael Volterrano e pelos Bollandistas. Exemplo de grande e humilde mulher, de filha, de esposa e mãe, nela resplandeceram as virtudes da humildade, da caridade e da obediência. Suas maiores devotas eram as mulheres em necessidade. O seu culto foi aprovado pelo Papa Inocêncio XII em 24 de julho de 1694.
Fonte: www.santiebeati.it
Autor: Daniele Bolognini
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