No principio de 1510 espalhou-se nos mosteiros camaldulenses (cf. 19 de Junho) a notícia de três ricos venezianos terem o desejo de se fazer solidários na Ordem. Os superiores procuraram apressar-lhes a entrada, mas os três postulantes tinham menor pressa.
A 3 de Julho de 1510, Tomás Giustiniani, que devias tomar na religião o nome de Paulo,chegou a Camáldoli; passou a noite no convento de Fontebuono e subiu no dia seguinte ao eremitério situado em cima, a perto de 2000 metros de altitude. Aí ficou até 6 de Agosto e, para responder às perguntas dos amigos, compôs uma longa memória que não ocupa menos de 60 páginas de escrita apertada; descreveu a topografia de Camáldoli, os edifícios, o emprego do tempo, a observância que era excelente, os jejuns, as disciplinas e as outras práticas de penitência que eram austeríssimas. Esboçou também o retrato dos sete monges e dos cinco conversos que habitavam no eremitério; faziam boa impressão, excepto talvez um dom Romualdino, que não agradava e de quem Giustiniani escreve: «Julgo-o pouco ajuizado».
Conta a visita que fez a dom Miguel Pini: «Há um recluso, precedentemente padre secular, recluso há cinco anos, depois de ter habitado cerca de quatro anos no eremitério, de maneira que já há muito que ele está aqui. Visitei-o no dia da minha chegada, com o reverendíssimo Padre Geral. Segundo me parece, tem uns 60 anos. Usa longa barba branca e parece ser outro S. Jerónimo. É um tanto pálido, mas não excessivamente magro. Parece de natureza amável e cheio de santa humildade. Não conversei com ele, mas fá-lo-ei hoje havendo ocasião. A julgar por algumas palavras que disse quando o visitei com o Padre geral, pareceu-me cheio de prudência e muito espiritual. Depois de o Geral lhe dizer que eu era aquele de que lhe tinha falado, declarou que eu faria bem se, em conformidade com as palavras do nosso santíssimo Senhor, tudo abandonasse e seguisse o Senhor, que prometeu a felicidade eterna aos que O seguissem, e que não é falso como é o mundo nem enganador nem mentiroso, como o nosso antigo inimigo. Estas palavras são quase as que disse quando cheguei, e quando parti, no momento em que me abraçou. Pedindo-lhe que rezasse por mim, respondeu-me: «E tu, meu filho, pede que Deus oiça as orações que eu rezei por ti e as que rezarei ainda, e pede pela minha salvação». A cela dele é a mais afastada de todas, mas não está a mais de 50 passos da que eu habito, a qual, em vez de capela, possui uma espaçosa igreja com um belo altar e o túmulo de um eremita com fama de santidade».
Miguel Pini nasceu portanto cerca de 1450, em Florença segundo se diz, ainda que o apelido seja mais próprio de Sena. Da sua vida antes de entrar em Camáldoli, o que se deu por 1501, tudo se ignora. É pouco provável que tenha pertencido a família importante, e nada tinha de humanista. Se Paulo Giustiniani o compara a S. Jerónimo, é só porque ele se parecia com alguns dos tão numerosos quadros, tão numerosos então e tão queridos para os humanistas; neles se via o grande doutor a chorar no eremitério os ímpetos do seu carácter. Era o mais perfeito desses religiosos que Paulo Giustiniani declara categoricamente: «sem cultura, sem doutrina, mas cheios de caridade, de humildade, de bondade e simplicidade».
Paulo Giustiniani tomou o hábito a 25 de Dezembro de 1510 e subiu imediatamente para o eremitério. Venerava muito dom Miguel, que veio a ser o seu confessor e lhe animou os desejos de reforma; mas não o seguiu quando ele teve de deixar Camáldoli para ir fundar uma nova congregação estritamente eremítica.
Dom Miguel não tinha certamente o carácter de reformador. Era um contemplativo que, segundo Giustiniani, dizia no fim da vida: «Para mim, até tornou-se conhecimento verdadeiro e certo».
A sua fama de santidade espalhou-se mesmo ao longe e ajudou a que se propagasse a devoção à «Coroa de Nosso Senhor». É uma espécie de terço de 33 continhas, 5 contas e a cruz; com ele rezam-se 33 Pais-Nossos em honra dos 33 anos que viveu Cristo na terra, 5 Ave-Marias em honra das Cinco Chagas, e 1 Credo em honra dos Apóstolos. Em 1516aprovou Leão X esta devoção e enriqueceu-a com indulgências, que vieram depois a ser confirmadas e aumentadas.
Miguel faleceu a 21 de Janeiro de 1522. Mas a sua festa foi celebrada a 17 de Janeiro ou a 10 de Outubro.
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