sábado, 11 de junho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Effathá! Abre-te!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Deus escolheu os pobres
 
Contemplando Jesus, notamos sua atenção para com os sofredores e o povo excluído. Como hoje há muitos que estranham o assunto sobre os pobres, já naquele tempo, os fariseus acusavam Jesus de ser amigo de publicamos e de pecadores, de prostitutas e do povo ignorante. O doente, o pobre, os trabalhadores humildes não participavam da sociedade e da vida religiosa. Eram excluídos. Diziam os fariseus: “Essa gente que não conhece a lei ... são uns malditos!” (Jo 7,49). Deus não os quer. O milagre de Jesus mostra essa situação. O homem era um surdo que falava com dificuldades. Era uma exclusão, pois não podia comunicar-se. Jesus faz um milagre que é um ensinamento. O milagre é um gesto de grande amplidão: Toca as orelhas, põe a própria saliva na língua, olha para ao céu e pronuncia em aramaico “Effatha – Abre-te!” A saliva é um símbolo forte na cultura oriental. Ela vem ligada com a palavra, e a palavra vem da pessoa com grande identidade. Atribuía-se à saliva um poder curativo. O surdo mudo começa a ouvir e a falar. É reintegrado no Reino de Deus. O profeta afirmava uma nova criação profetizando a ação redentora de Jesus que reabilita as pessoas para ouvir a Palavra e tornarem-se, como Ele, um anunciador. Assim acontece conosco no Batismo. O amor de Jesus aos necessitados não é para excluir os outros, mas para a reintegração de todos. No Batismo fazemos o gesto de tocar os ouvidos e a boca da criança. É a nova criação que se instaura no meio de seu povo. A escolha que Deus faz dos pobres é um gesto de bondade. Ele mesmo cuida de reintegrá-los em nosso meio, nós que pertencemos ao Reino.
Caminhos de evangelização 
Jesus realiza a cura do surdo, que falava com dificuldade, fora do território dos judeus, nas regiões de Tiro e Sidônea. Indica claramente que a abertura do Reino de Deus é para todos os povos. Todos podem entrar na comunicação entre o Pai, o Filho e o Espírito. O milagre de Jesus é uma parábola dessa comunicação na qual todos podem ser introduzidos. O Reino de Deus é para todos. Não só para o povo escolhido. Jesus pedia ao miraculado e os assistentes que não divulgassem o milagre; mas quanto mais Ele insistia, mais iele divulgavam. Comentavam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc 7,36-37). Não só o doente é curado. Todos ali passam a narrar as maravilhas de Deus. Pedro proclama na casa de Cornélio, pagão: “Ele que passou entre nós fazendo o bem” (At 10,38). Os caminhos da evangelização se destinam à abertura dos ouvidos para entrar em comunicação com Deus e à liberdade da língua para anunciar Cristo Ressuscitado que abre a todos, sem exclusão, as portas do Reino para um nova criação. 
Imitadores de Deus 
Tiago é forte no combate à discriminação afirmando que Deus não faz distinção de pessoas de pessoas. É nisso que devemos imitá-lo. E dá um exemplo claro do acolhimento de todos na assembleia, sem discriminar os pobres: se entra um pobre, vocês mandam sentar-se no chão, só porque está mal vestido. E ao rico: “senta-te aqui à vontade”. Por que discriminar se Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2,1-5). Vemos quanto isso acontece em nossas comunidades. Para imitar a Deus precisamos abrir a comunicação a todos, sobretudo no acolhimento dentro da comunidade. 
Leituras:Isaías 35,4-7;Salmo145;
 Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37. 
1. Jesus acentua muito em seu ministério o cuidado e a atenção com os necessitados pobres e sofredores. Não se trata de uma discriminação, mas atendimento aos que realmente necessitam. Jesus, curando o surdo que falava com dificuldade, está dando um ensinamento claro sobre a necessidade de reintegração dos excluídos. O uso da saliva indica um envolvimento pessoal de Jesus, pois ela está unida à palavra e, por ela, ao que a pronuncia. Jesus, realizando a palavra do profeta Isaias, anuncia um novo Reino que se inicia pela inclusão dos sofredores. 
2. Jesus cura no território pagão. Dá a perceber assim que a comunicação com Deus no Reino é para todos. Deus não exclui ninguém, nem pobres, nem pagãos. A cura tem um ensinamento: todos são chamados a se comunicarem com Deus e a anunciarem o Reino que acontece em Jesus que inicia uma nova criação. 
3. Tiago afirma a necessidade de acolher bem a todos dentro da comunidade, sem discriminação. E dá o exemplo como se costuma fazer dando preferência ao rico e colocando o pobre em condição inferior. Isso acontece em nossas comunidades.
Sonhando alto 
Jesus atravessa uma região distante, ao que parece, predominantemente pagã. Ali cura um surdo que falava com dificuldades. Com um pouco de barro feito com saliva, passa nos seus ouvidos e língua dizendo: “Éfeta!”, que quer dizer, “abre-te”. Milagre bonito, mas vai além. Deus vê mais longe O Isaías fala de mudança total. Todos os males serão curados: cegos, coxos, aleijados, o deserto, a terra árida! Maravilha! Mas será verdade? Acho que sim. Abrir os ouvidos é dar abertura para Deus entrar no coração. Deus, depois que ele se aloja no coração, a palavra de vida escorre de nossos lábios. Por isso ele conserta a língua do homem. 
Homilia do 23º Domingo Comum
EM SETEMBRO DE 2006

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