quarta-feira, 17 de novembro de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “A oração das lágrimas”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
O Senhor recolhe num odre nossas lágrimas
Somente quem sofre sabe o é a oração das lágrimas. O coração humano, em tantos momentos da vida, manifesta sua dor através das lágrimas. É sua linguagem, são suas palavras. Como é misterioso o país das lágrimas! (Saint Exupéry). Elas são o destilar da dor. Na Palavra de Deus podemos recolher tantos momentos em que as lágrimas são colocadas junto de Deus. Como uma mãe corre para acudir um filho que chora, o Pai também corre para consolar seus pequeninos em suas lágrimas, o que nos leva a dizer: ‘as lágrimas ainda corriam em nossas faces e já havia sorrisos em nossos lábios, tão pronto é o Senhor em nos socorrer’. O povo de Israel, no seu sofrimento, eleva a Deus sua oração entre lágrimas: “Junto aos rios da Babilônia nos sentávamos e chorávamos recordando de Sião (Sl ). Também os perseguidos pela fé elevam suas preces entre lágrimas: “O meu pranto é meu alimento, enquanto me repetem insistentes onde está o teu Deus?” (Sl 41.4). Vemos Ana, mãe de Samuel, chorando no templo por causa das humilhações que sofre por ser estéril. Suas lágrimas se fazem oração e lhe valem o nascimento de um filho (1Sm 1,1ss). A destruição do povo nas guerras trouxe tanta lágrima que a oração levantou-se banhada nas lágrimas. Deus ouve quando amarguram nos sofrimentos. “Chorem lágrimas sem fim... pois foi ferida virgem filha de meu povo” (Jr 14,17). “Raquel chora seus filhos e não quer consolação, pois não existem mais” (Jr 31,15). Mais grave foi quando se afastaram de Deus pelo pecado e lhes veio o sofrimento, fruto do pecado. Nas lágrimas sentidas foram ouvidos. São as lágrimas de Adão ao ser expulso do Paraíso. Sair da presença de Deus é razão para rezar entre lágrimas no caminho da conversão. Deus sempre ouve a oração e vem em socorro e restitui a alegria: De manhã pode vir o pranto, mas de tarde vem a alegria. Deus se compadece das lágrimas da mãe.
Consolai e sereis consolados
Jesus, entre as bem-aventuranças, coloca estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados” (Mt 5,4). Consolai os que choram! é o melhor modo de ter nossas lágrimas enxugadas. Quando Madalena chora a morte de Jesus diante do túmulo, Jesus lhe diz? “Mulher, por que choras?” (Jo 20,15). “Ela foi anunciar aos que tinham estado em companhia dEle e que estavam aflitos e chorosos” (Mc 16,10). Jesus mesmo é o primeiro a consolar quando estamos nos sofrimentos e nas lágrimas. Desde que choremos em seu ombro, Ele saberá nos afagar. Quantos sofrimentos passamos sozinhos sem ter com que desabafar. Ele, o Amigo, está sempre à nossa espera, não só na Eucaristia, mas também em nosso coração, sempre ao alcance de nossa oração. É a Ele que nós devemos nos dirigir.
Pastoral da consolação 
A Igreja comete um pecado muito grande, isto é, nós que somos a Igreja cometemos, quando não somos capazes de ver as lágrimas silenciosas e ocultas de nosso povo. É preciso ter uma estrutura de consolação. Não só ter “rezadores” nos velórios, mas acompanhar os que sofrem e choram. A dor não passa como uma notícia da hora. Mas os corações permanecem gotejando. É a hora do padre, da irmã, do leigo, ir consolar e aliviar. Gastamos muito tempo com as estruturas, mas pouco com o coração. Quem sabe nossas estruturas funcionassem melhor se déssemos mais lugar ao coração.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2005

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