quarta-feira, 13 de outubro de 2021

EDUARDO DA INGLATERRA Rei, Santo (ca. 1000-1066)

Após conturbados anos de dominação dinamarquesa, o santo monarca devolveu à Inglaterra a paz e a prosperidade, segundo os ditames da Igreja Católica. 
Nascido por volta do ano 1000, Santo Eduardo era filho do rei Etelredo II, que governou a Inglaterra dos anos 978 a 1016, e de sua segunda esposa, Ema, filha do Duque da Normandia. Em 1013, Sweyn, rei viking da Dinamarca, invadiu a Inglaterra e apoderou-se do trono, repetindo o feito de um antecessor seu. Etelredo fugiu então com sua família para a Normandia. Porém, com a morte de Sweyn no ano seguinte, voltou e reconquistou o poder. Por pouco tempo, pois faleceu em 1016. Subiu então ao trono Edmundo, meio-irmão de Eduardo, que continuou a luta contra os invasores. Mas foi assassinado, apoderando-se do trono o dinamarquês Canuto. Este pediu Ema em casamento, estipulando que os filhos deste matrimônio seriam seus herdeiros, em detrimento de Santo Eduardo e de seu irmão, que haviam ficado na Normandia. Canuto, cognominado “o Grande”, reinou na Inglaterra durante 19 anos. A figura desse grande conquistador não deixa de chamar a atenção: “intrigante, ambicioso e violento, Canuto no entanto expiou suas antigas crueldades por um cristianismo não sem valor. Chegou como invasor e cruel destruidor e, por uma mudança de temperamento tão notável quanto longa em seus efeitos, permaneceu para governar em justiça e paz um povo que ele desposou completamente”[1]. Entra em cena então outra figura típica desses tempos violentos e semi-bárbaros: Godwin. Pastor nas selvas de Warwik, ganhou o favor de Canuto por ter salvado a vida de um chefe dinamarquês perdido no interior das montanhas. Levado à Corte, logo se tornou um guerreiro destemido por sua coragem e ousadia. Obteve o título de conde e o governo de uma província. Doravante sua ambição não conheceu limites nem escrúpulos[2]. Quando Canuto faleceu, em 1036, seus Estados foram divididos entre seus filhos: Sweyn ficou com a Noruega, Hardicanuto com a Dinamarca, e Haroldo, filho ilegítimo, com a Inglaterra. Nessa ocasião, Eduardo e Alfredo voltaram à Inglaterra. Como Godwin tinha ajudado Haroldo a estabelecer sua autoridade, obtivera também o favor desse rei. Aconselhou-o então a atrair à Corte os dois príncipes, seus rivais na coroa, para livrar-se deles. Ema conseguiu segurar junto a si Eduardo. Mas Alfredo, interceptado por Godwin, teve os olhos furados e foi relegado a um mosteiro, onde faleceu em virtude dos ferimentos. Santo Eduardo voltou então para a Normandia. 
Depois de muitas vicissitudes, o trono 
Tendo crescido no palácio do Duque da Normandia, Eduardo soubera preservar-se da corrupção e dos vícios que reinavam naquela corte, esmerando-se desde a infância a praticar as virtudes contrárias a esses vícios. Era dotado de um caráter reflexivo e silencioso, no qual adivinhavam-se as marcas do infortúnio. Procurava conversar com homens de piedade e saber, sendo possuidor de sabedoria e gravidade superiores à sua idade. Distinguia-se nele em particular uma doçura admirável, fruto de uma humildade profunda e de uma caridade que abarcava todos os homens. Seu único passatempo era a caça com cães e falcões, na qual se exercitava para um futuro incerto. Quando soube da morte de Canuto em 1035, Eduardo reuniu uma frota de 40 navios e cruzou o estreito, desembarcando em Southampton. Mas não encontrou na Inglaterra o apoio de que necessitava. Sua própria mãe declarou-se contra a empresa. Eduardo foi obrigado a voltar para a Normandia. Em 1039 faleceu Haroldo. Fartos de viver sob a dominação estrangeira e conhecedores da fama das virtudes de Eduardo, todos os ingleses concordaram em restituir-lhe o trono de seus pais. Eduardo foi assim sagrado Rei da Inglaterra, no Domingo de Páscoa do ano de 1042. Já tinha 40 anos, 30 dos quais passados no exílio. Ele soube, de um lado, aproveitar os ensinamentos da vida, principalmente os da desgraça, e de outro lado procurou esquecer o passado, preocupando-se somente em se tornar um verdadeiro pai para seus súditos. “Uma vez firmado seu poder, Eduardo consagrou todos os seus esforços para realizar o ideal do príncipe cristão: propagar a Religião, devolver seu vigor às antigas leis, diminuir as cargas do povo, conservar a paz. Tais foram os cuidados principais de seu governo”[3]. Tempos “melhores e mais felizes da Inglaterra” “Bem merece [Santo Eduardo] que se considere seu reinado de 24 anos como um dos melhores e mais felizes da Inglaterra. Os próprios dinamarqueses, donos [do território]por tanto tempo, foram submetidos para sempre no interior e contidos no exterior pela postura do valente príncipe”[4]. Pois os antigos vencedores, estabelecidos na Inglaterra havia 40 anos, pretendiam ter um “direito de conquista”, mas temiam, amavam e respeitavam o novo soberano. Aos poucos foram totalmente integrados na população do país. Enquanto a Divina Providência zelava pelo reino, uma ameaça vinha da Noruega. O rei Sweyn quis reconquistar o trono inglês que seu pai, Canuto, antes ocupara. Santo Eduardo colocou o país em estado de alerta, e esperou o pior. Mas um ataque do rei da Dinamarca à Noruega fez abortar o premeditado plano de invasão da Inglaterra. Mais tarde Suenon, rei da Dinamarca, preparou-se também para reconquistar a Inglaterra. Dotado do dom da profecia, Santo Eduardo estava um dia assistindo à Missa quando entrou em êxtase, derramando copiosas lágrimas. Terminado o Santo Sacrifício, seus nobres lhe perguntaram o que sucedera. O santo revelou então que vira Suenon morrendo afogado no mar, no momento de embarcar para a Inglaterra. O que livrou o país de nova invasão. Pouco mais tarde, em 1046, piratas dinamarqueses sitiaram Sandwich e depois as costas de Essex. Mas a pronta intervenção dos oficiais de Eduardo forçou-os a afastar-se do país. Santo Eduardo empreendeu apenas uma guerra, para recolocar Malcolm, filho de Duncan, no trono da Escócia. Duncan fora assassinado e despojado por Macbeth, o usurpador cuja infâmia foi imortalizada por Shakespeare. 
“Não se alegrava com a abundância” 
De acordo com seu primeiro biógrafo, Santo Eduardo “era pobre nas riquezas, sóbrio nas delícias, humilde na púrpura e, sob a coroa de ouro, desprezador do mundo. Apreciava tão pouco as riquezas, que seu tesouro parecia mais o erário dos pobres e a coisa pública de todo mundo. Não se alegrava com a abundância, nem se entristecia na necessidade. Era sobretudo liberal com as igrejas e mosteiros”[5], e a essa liberalidade se deve a fundação da grande abadia de Westminster, que seria o panteão dos reis e dos grandes homens da Inglaterra. Os antigos cronistas colocam Santo Eduardo entre os melhores reis de seu tempo, dizendo que foi bom, piedoso, compassivo, pai do povo, protector dos débeis, amigo mais de dar do que receber, de perdoar mais do que castigar. Para atender às imposições dos que o rodeavam, Eduardo teve que contrair matrimónio. Sua escolha recaiu sobre Edite, filha do infame Godwin. Ao contrário do pai, ela era piedosa, generosa, com uma delicadeza de espírito que a levou a aceitar a proposição do rei de viverem como irmãos, porquanto Eduardo havia feito voto de castidade. 
Código:“Leis de Eduardo, o Confessor”
“Estando despido de ambição pessoal, o único objectivo de Eduardo foi o bem-estar de seu povo. Ele anulou o odioso ‘danegelt’ (tributo que se pagava anualmente aos dinamarqueses), o qual continuava a ser pago desnecessariamente. E, apesar de pródigo em esmolas para os pobres e para fins religiosos, fez seu próprio património real suficiente, sem impor ao povo novas taxas. Tal era o contentamento provocado pelas ‘leis do bom Santo Eduardo’, que sua aplicação foi repetidamente pedida pelas futuras gerações, quando se viram oprimidas”[6]. Com efeito, “Santo Eduardo tornou-se sobretudo célebre por suas leis. Ele adoptou o que havia de útil nas que existiam então, e fez as mudanças e adições que julgou necessárias. Depois, seu código tornou-se comum em toda a Inglaterra sob o nome de ‘Leis de Eduardo, o Confessor’, título pelo qual elas se distinguem das que sancionaram os reis normandos. Elas fazem ainda parte do direito britânico [século XIX], exceptuando-se alguns pontos que sofreram mudanças. Reconhecem poucos crimes puníveis com a pena de morte e as multas são determinadas de maneira fixa, não dependem da vontade dos juízes. Elas proviam à segurança pública e garantiam a cada particular a propriedade que possuía”[7]. Santo Eduardo faleceu no dia 5 de janeiro de 1066 e foi canonizado por Alexandre III em 1161. Seu “sagrado corpo foi levantado da terra 36 anos depois de sua morte, achando-se tão inteiro e fresco, com todos os membros tão flexíveis, como se estivesse vivo, e com os trajes tão novos, como se acabassem de lhos fazer”[8]. 
Plinio Maria Solimeo
[1] E.F. Saxton, Canute, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. [2] Cfr. Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1955, vol. 5, pp.433 a 441. [3] Fr. Justo Perez de Urbel, in Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, vol. IV, p. 96. [4] D. Próspero Guéranger, El Año Litúrgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, vol. V, p. 607. [5] Urbel, op. cit. p. 97. [6] G.E. Phillips, Saint Edward, the Confessor, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. [7] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo 12, p. 319. [8] Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, tomo III, p. 167.

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