A parábola de Jesus narrando a súplica insistente da viúva diante do juiz injusto ensina-nos a rezar. Quando rezamos suplicando a Deus “uma graça”, ficamos decepcionados com a demora de Deus e chateados ao ver que os outros são atendidos tão rapidamente. Acabamos por desanimar quanto à promessa que Deus faz de atender quando batemos e buscamos. Jesus afirma que “Deus atenderá prontamente”. A oração é sempre um dom que Deus dá a todos. A demora de Deus já é notada nos livro do Eclesiástico: “Sofre as demoras de Deus” (Eclo 2,3). A tentação da pressa em ser atendido demonstra uma incompreensão sobre o que seja oração, pois Jesus responde: “Deus não negará o Espírito Santo ao que Lho pedir” (Lc 11,13). Deus não atrasa, sabe a hora de dar o remédio. A resposta de Deus é sempre maior que nossos pedidos. Pedimos uma cura, ou a solução de uma situação e recebemos como resposta o próprio Espírito que é a luz para enfrentar todas as situações. É a força para suportarmos todas as dores e a própria morte. É preciso a perseverança como Moisés que permanece de braços erguidos, mesmo com a ajuda dos outros, acompanhando a batalha contra os amelecitas, segundo o livro do Êxodo. Os braços erguidos em prece têm muito poder. Ao falar em braços erguidos não queremos dizer fisicamente, mas no sentido de estar em oração. A posição do corpo deve ser aquela que melhor se adapta a cada um. O importante é elevar a súplica a Deus. E Deus ouvir, pois reza o salmo 120: “Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra. Ele mesmo vai cuidar da tua vida”.
A crise da oração cristã.
São Tiago explica o insucesso de nossas orações: “Estamos preocupados em seguir nossos desejos” (Tg 4,3). Penso que há um descompasso entre nossa oração e a vivência do Evangelho em nossa vida. Falta a coerência de vida. A oração se torna somente uma busca de solução de problemas e não a realização de seu fundamento primeiro que é o relacionamento com Deus. A oração não é para convencer Deus sobre nossas coisas, mas sim, convencer-nos sobre Deus. Como é bom Pai, não vai nos dar uma pedra quando pedimos um pão (Mt 7,9). Nem precisamos expressar o que queremos, pois Deus sabe antes mesmo de Lho pedirmos. Na realidade, rezar é estar diante de Deus amando-o, acolhendo-o, mesmo sem dizer palavras. Lembramos a historinha de São João Vianay: O homem chegava, assentava-se num banco da Igreja e depois ia embora. S. João perguntou-lhe o que dizia. Nada, responde. Eu olho para Ele olha para mim. É um namoro. Olhar com o coração. Não é necessário dizer muitas coisas, fazer discursos a Deus. Basta ir repetindo muitas vezes aquilo que pensa sobre Deus e o que lhe oferecer ou pedir.
Caminho batido da oração:
Como fazer frutuosa nossa oração? “Seja feita vossa vontade”! Este era o refrão da oração de Jesus. É isso que rezamos no Pai-Nosso. Além disso, temos que ter caridade na oração. Rezar uns pelos outros. Sua oração para o próximo em sua necessidade tem a força da vontade do Pai que não quer que seus filhos venham sofrer. Por isso é bom, quando se vai rezar o terço, colocar intenções, ou ir dizendo a Deus os pedidos que tempos por alguém. Ajuda a gente a rezar melhor. Para aprender a rezar, é preciso seguir a estrada da Palavra de Deus. Ela é a melhor escola da oração. Os salmos são palavras de Deus que dirigimos a Ele.
Leituras: Êxodo 17,8-13; Salmo 120;
2 Timóteo 3,14-4,2; Lucas 18,1-8
Ficha:
1. Refletindo sobre a oração de súplica, nós ficamos tristes porque Deus não nos ouve assim como pedimos. Ele prometeu ouvir imediatamente. Deus não demora, mas sabe a hora melhor de nos dar seu remédio. “Sofre as demoras de Deus”, escreve o Eclesiástico. É preciso continuar rezando.
2. Nossa oração é frágil porque, só pensamos satisfazer nossos desejos. Oração não é para convencer a Deus, mas convencer-nos sobre Deus, conhecer a Deus. Deus nunca falha conosco. É preciso estar diante dele, amando. Rezar é falar com Deus amando-o.
3. Para que nossa oração seja frutuosa, precisa estar unida à vontade de Deus, como fazia Jesus. Esta vontade está sempre voltada para as necessidades do próximo. Para aprender a bem rezar, é preciso usar a Palavra de Deus, de modo particular os salmos.
Homilia do 29º Domingo do Tempo Comum
Em outubro de 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário