Terá nascido em Braga, segundo alguns autores que o atestam. Os pais — sem a terem previamente consultado — tinham-na prometido em casamento a um nobre mouro dos que nesses tempos longínquos dominavam o território peninsular; mas Engrácia, fiel ao voto de virgindade que tinha feito à Jesus, fugiu para Castela, para evitar o casamento.
O noivo, sentindo-se gravemente ultrajado e vítima de tremenda humilhação, perseguiu-a sem relaxe até perto da cidade de Carbajales de Alba, na província de Zamora e, tendo-a ali encontrado, lançou-lhe mão e decapitou-a sem piedade — assim ela não poderia pertencer a outro qualquer, pensava ele — e lançou a cabeça, e o corpo depois numa lagoa que o rio Guadiana forma perto da cidade de Badajoz.
Torna-se aqui evidente o mais tarde dirá santa Teresa de Ávila: “Quem de verdade começa a servir ao Senhor, o menos que Lhe pode oferecer, é a vida”[1]. Assim fez Engrácia: preferiu perder a vida, oferecendo-a ao Senhor do que perder a virgindade e mentir a Deus.
Ou ainda, como no-lo afirma o grande santo que foi e é santo António de Lisboa: “O sopro humano é a vida dos corpos; o sopro divino é a vida dos espíritos. O sopro humano torna-nos sensíveis; o sopro divino torna-nos santos. Este Espírito é Santo, porque, sem ele, nenhum espírito – nem angélico nem humano – pode ser santo”[2].
Quando o seu corpo foi encontrado — primeiro a cabeça e depois o resto —, foi levado para Badajoz, onde foi solenemente sepultado. O seu túmulo, junto do qual muitos milagres ocorreram, encontra-se no mosteiro de Santo Agostinho. (Cf. José Leite, S. J.)
[1] Santa Teresa de Ávila: Caminho da perfeição, cap. 12, 2.
[2] Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja ; Sermões para os domingos e as festas dos santos.
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