sábado, 5 de dezembro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Ai de mim se eu não evangelizar”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
No século passado
ocorreram profundas mudanças no mundo e na Igreja. O movimento bíblico e litúrgico, as tendências sociais, as mudanças na concepção de Igreja e de modo particular as diretivas do Vaticano II trouxeram um lugar novo para os leigos na Igreja. Se antes ela clerical, agora podemos dizer que, salvo em certos setores, há grande presença dos leigos. A definição de Igreja do Vaticano II parte da economia da salvação e não da estrutura hierárquica. Ouvi um comentário sobre um Papa que dizia que a Igreja eram o Papa, os bispos e padres mandando e o povo obedecendo. Mesmo não sendo verdade, era uma concepção subjacente. O leigo foi desenterrado, pois sempre existiu. 
A Igreja é leiga na sua origem? Jesus não era da classe sacerdotal, pois em Israel, o sacerdócio vinha pela linha do sangue. Seu sacerdócio, único e eterno, provém de seu sacrifício na cruz e de sua ressurreição. Os discípulos também não eram dessa classe nem da classe mandante. Continuavam o ministério de Cristo, unidos a Ele em seu sacerdócio. O fato de a Igreja começar a se interessar pelo leigo do ponto de vista da evangelização, não é mais do que retornar às origens. Na pregação inicial da Igreja, os fiéis leigos foram evangelizadores juntamente com os apóstolos. Podemos ver isso quando os cristãos, fugidos de Jerusalém, começam a anunciar em Antioquia: “Aqueles, pois, que foram dispersos pela perseguição suscitada por causa de Estevão, foram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus” (Atos 11,19-20). Só então é que vai Barnabé da parte dos apóstolos. 
A missão de evangelizar é própria também dos leigos: quando termina a missa, o celebrante diz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”. Ide à missão, não somente retornem à vida cotidiana. Esta missão de evangelizar não é obrigação somente dos padres. Esta pregação se diversifica nas mais diversas modalidades: pode ser através da palavra, ou através do testemunho, ou da influência, da participação, ou da presença silenciosa ou da caridade de acordo com o que cada um ache melhor. Mas é preciso evangelizar conscientemente, pois fazemos parte da Igreja de Jesus. Nela entramos pelo Batismo. Pela Crisma recebemos a mesma unção do Espírito que Jesus recebeu. Esta unção dá-nos o múnus, a missão de anunciar a Palavra, celebrar o mistério da redenção e conduzir o mundo para Deus. Pela Eucaristia, depois de ouvir a Palavra e receber o Corpo do Senhor, somos indicamos à missão. Por isso Paulo vai dizer: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16). Não evangelizar significa não ter ainda se deixado penetrar da pessoa, vida, morte e ressurreição de Jesus e de sua missão. Quem não anuncia é porque não descobriu o Senhor. No mês das missões, tomemos consciência da evangelização que realizamos. 
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM OUTUBRO DE 2002

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