sábado, 12 de setembro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Viver o mistério de Cristo! Mas como?”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
No tempo da Quaresma nós vemos Cristo Jesus em seu caminho de deserto, Paixão e Morte. Ao mesmo tempo somos chamados a seguí-lo, imitá-lo. Somos animados a viver “o espírito da Quaresma”, fazer penitências, levar a vida mais a sério ou tantas outras coisas. Mas onde se fundamentam estas palavras? Tudo gira em torno do Mistério de Cristo. Mas o que é o Mistério de Cristo? E como viver este mistério? Estas perguntas não são feitas, porque nos habituamos a dizer estas palavras sem saber seu sentido. Este ensinamento normalmente não entre em nossas pregações. 
O que é viver o mistério de Cristo? Mistério de Cristo é sua encarnação, vida, obras, seu evangelho, morte, ressurreição e volta ao Pai. Viver o mistério de Cristo é acolher a pessoa de Jesus na própria vida. Acolhendo-o estamos unidos a sua vida. São Paulo diz em Gl 2,20 “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. Podemos entender esta união a partir da união que Cristo realizou com nossa vida. Sabemos que, quando estávamos afastados, Deus nos deu seu Filho (Rm 5,8). Cristo está unido a nós antes que nos uníssemos a Ele. Realizamos nossa união com Ele, como realizou conosco. 
Cristo assume a natureza humana, vive em um povo concreto, com sua cultura e modo de ser, fala nossa linguagem, ama-nos, entrega-se à morte por nós, ressuscita e não nos abandona quando volta ao Pai. Ele viveu em tudo a condição humana. “Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas referentes a Deus” (Hb 4,17). Fazemos o caminho inverso: acolhemos a vida divina que nos é dada no batismo aceitando a pessoa de Jesus como parte de nossa vida. Vivemos em um povo concreto, o povo de Jesus que é a Igreja. Estar unido ao povo de Deus, que é corpo de Cristo, é aceitar uma vida nova, um novo modo de ser. 
Temos um modo particular e pessoal de entrar no mistério de Cristo que realizamos na fé. Mas temos o modo exterior, comunitário e ritual de fazê-lo. Nós o fazemos quando imitamos a vida de Jesus, indo, por exemplo, com Ele ao deserto da Quaresma, acompanhando os ritos celebrados na Semana Santa, acompanhando a comunidade, ou mesmo criando para nós mesmos modalidades que nos envolvam com o evangelho e com a pessoa de Jesus. Podemos ter em nós os mesmos sentimentos de Cristo (Fl 2,5). O modo de agir e sentir de Cristo passam a ser nosso modo de agir e sentir. 
Em nosso modo cristão de viver nós nos preocupamos em fazer coisas para Cristo. Certo! Mas o primeiro passo é ser como Cristo era para assim estar unidos a Ele e podermos fazer o que Ele fez. A Quaresma é um tempo propício para este exercício. 
ARTIGO EM 05 DE MARÇO DE 2002

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