quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Entre vós não será assim”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
Desvios da fé 
A palavra fé e fidelidade na escrita cuneiforme, em uso na Babilônia, desde os sumérios, não é um conceito, mas a construção de uma fortaleza. Lembramos que eles escreviam em tabuletas de argila que depois eram cozidas como tijolo. O desenho das letras era feito com símbolos de “cunhas” que formavam a palavra. A fé não é crer numa doutrina, mas acolher uma Pessoa, Jesus. Assim cada pessoa se torna uma fortaleza. Sua muralha não se dissolve com pretensões contrárias. É o que podemos ver em nossa vida de cristãos, sobretudo no momento em que estão em jogo nossas pretensões. Vemos essa tentação nos primeiros discípulos que, iniciando a “campanha” para o futuro governo que Jesus estabeleceria o Reino de Israel. Quem é que vai mandar? Os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, adiantam e pedem a Jesus o lugar de comando: “Deixa-nos sentar à direita e à esquerda quando estiveres na tua glória” (Mc 10,37). Essa mentalidade não saiu ainda da Igreja cristã. O poder, os bens e o prazer fascinam e têm força de lei. É impressionante como em todas as esferas da Igreja há luta pelo poder que depois se torna vício do prazer. É o que vemos. Tudo pode ser feito, menos tocar na autoridade. Isso mostra que o paganismo ainda é reinante com todos os traços de falsa santidade e de verdade. A fé que modifica a vida pelo Evangelho não conta. Mas Jesus os leva a perceber que estarão a seu lado no serviço da cruz. Essa fortaleza de fé modela a vida. Por isso ela se torna critério. 
O servo que justifica 
O salmo descreve o Servo de Deus como um retrato de Jesus, que passou pelo sofrimento e, sustentado por sua fé, transformou a ignomínia e a dor em expiação. Entrou no lugar do animal oferecido em sacrifício para pagar pelo pecado do povo. Todo seu sofrimento teve luz duradoura e ciência perfeita. Se assim é um servo, quanto mais o Filho de Deus que assume essa condição. Seu sofrimento fará justos inúmeros homens. Mais que sofrer, ainda assume a culpa de todos (Is 53,10-11). Jesus chama a Si essa figura e aponta o batismo que deve receber. Batismo de sangue. Esse é o grande serviço que presta ao mundo e penetra toda a vida do discípulo nos muitos serviços que destroem os ídolos do poder, da ganância e do prazer que se transformam em tirania. Jesus afirma: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo e, quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos”. Essa é a fortaleza inexpugnável que repele esses males e faz do discípulo um servo redentor. Assim fez Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate de muitos” (Id 45). Essa é a base da fé cristã. Sem isso nossa fé não passa de teoria, bons modos, piedade vazia, ministério inócuo e Igreja em decadência.
Aproximemo-nos com confiança 
A Carta aos Hebreus descreve o Sumo Sacerdote Jesus Cristo como modelo e fundamento de todo o sacerdócio dos fiéis e do ministério ordenado. Só existe um Sacerdote, Cristo. Todo sacerdócio que há na Igreja está unido a seu sacerdócio e deve ter suas características: É abertura de Deus para seu povo, pois o conhece por ter vivido nossas fraquezas, menos o pecado. Podemos nos aproximar com confiança. O exercício do sacerdócio é o do servo no poder de Jesus Cristo de servir. Como seria bom se todos o sacerdócio transmitisse esse Jesus que entrega sua vida e acolhe com amor. Somente com a fortaleza da fé poderemos exercer fielmente o serviço de Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário