Evangelho segundo S. Lucas 6,20-26.
Naquele tempo, Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem.
Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação.
Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar.
Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem. Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas».
Tradução litúrgica da Bíblia
Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157)
abade cisterciense
Sermão para o dia de
Todos os Santos, 6-7; SC 202
«Bem-aventurados vós, os pobres [...].
Ai de vós, os ricos»
É com razão que o Senhor, proclamando a beatitude dos pobres, não diz: «o Reino de Deus será», mas: «é vosso». [...] Estão próximos do Reino de Deus os que já possuem e trazem no seu coração o Rei de quem se disse que servi-l'O é reinar [...]. Outros que se guerreiem para partilharem a herança deste mundo: «Senhor, minha herança e meu cálice» (Sl 15,5). Combatam entre si até serem os mais miseráveis dos homens: não lhes invejo nada do que procuram, porque «no Senhor encontro a minha alegria» (Sl 103,34).
Tu, herança gloriosa dos pobres! Bem-aventurada riqueza dos que nada têm! Não só nos dás tudo quanto precisamos, como ainda, cheia de glória, transbordas de alegria, porque «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço» (Lc 6,38). [...]
Que a vossa alma [...] se glorifique na sua humildade, ó pobres, e que olhe com desdém toda a grandeza deste mundo. [...] Estão-vos preparados bens eternos, e vós preferis as coisas efémeras, semelhantes a um sonho? [...] Como são infelizes aqueles que a bem-aventurada pobreza torna dignos de serem honrados pelo Céu, admirados pelo mundo e temidos pelo inferno, e que continuamente, na cegueira do seu espírito, olham a pobreza como uma miséria, a humildade como uma infâmia; àqueles que desejam enriquecer e caem nas armadilhas do diabo, que tudo lhes pertença! [...] Quanto a vós, os que tendes por amiga a pobreza e encontrais suave a humildade de coração, a Verdade eterna dar-vos-á a certeza de possuirdes o Reino dos Céus; Ele guarda fielmente para vós este Reino que vos está reservado.
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