domingo, 3 de junho de 2018

Santa Camila Batista de Varano, Virgem religiosa da Segunda Ordem

     Nasceu em Camerino a 9 de abril de 1458. Filha de Júlio César Varani, típica figura de um homem do renascimento, Duque de Camerino, e de uma certa dama, Francisca de Mestro Giacomo de Malignis, antes das núpcias de seu pai com Joana Malatesta, de Rímini (conhecida como beata Joana ou Jane Malatesta).
     Bem cedo Camila foi levada ao Palácio dos Varani, família ilustre que desde a metade do século XIII dominava a cidade e o ducado de Camerino. Foi reconhecida como filha de Júlio César, e como tal, amada de modo particular. Também Joana acolhe-a com maternal afeto: o relacionamento que as duas mantêm é uma das realidades mais belas da infância e da juventude de Camila. Entre os 8 e 9 anos foi imensamente atraída por uma pregação do franciscano Domenico de Leonessa (observante) sobre a Paixão de Jesus. Fez voto de meditar todas sextas-feiras os sofrimentos do Senhor e de verter ao menos uma “lagrimazinha”.
     Depois de 1476, em contato com Frei Francisco de Urbino, começou a maturar sua vocação para a vida religiosa, diante da qual relutou muito. Depois de ter-se decidido, passou por sérias dificuldades e contrariedades vindas da parte dos parentes, de modo especial de seu pai. Desejam para ela um casamento que favoreça a política do ducado. Em 1481, ingressou finalmente no Mosteiro de Clarissas Urbanistas da cidade de Urbino. Estava então com vinte e três anos. Ao receber o hábito religioso, recebeu também o nome de Batista, tão corrente na época. Em 1482, fez sua profissão religiosa em circunstâncias para ela demais difíceis, tanto que ao escrever sua autobiografia, chama de “amarga profissão”.
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     Em 1483, redige “As Recordações de Jesus”, opúsculo com instruções e admoestações recebidas de Jesus enquanto ainda estava em Camerino no palácio paterno. O pai, Júlio César, e seus filhos, não suportando que Camila estivesse longe, constroem em Camerino um mosteiro. A 4 de janeiro de 1484, Camila retorna a Camerino com oito irmãs para fundar uma comunidade clariana, não mais de Urbanistas, mas com a Regra própria de Santa Clara. No correr dos anos é eleita várias vezes abadessa.
     Humilde, serviçal, atenta às necessidades de suas irmãs, datam desses anos fortes experiências místicas, visões de Jesus, da Virgem e de Santa Clara. Em 1488, Camila escreve “As dores mentais de Jesus na sua Paixão”. Em 1491, numa prolongada inspiração, redige “A vida Espiritual”, sua autobiografia, endereçada ao Beato Domenico de Leonessa, seu confessor. Seguem outras obras, entre as quais “Instruções ao Discípulo”, dirigidas ao padre João de Fano, franciscano. Desde o ano de 1488 até 1490, passa por uma dolorosa crise espiritual. Sua autobiografia, redigida em fevereiro-março de 1491 data do final deste período. Em 1501, inicia-se uma nova crise: a familiar, que a envolve profundamente.
     O Papa Alexandre VI excomunga o pai de Camila unicamente por motivos políticos. O exército de Valentino aprisiona seu pai e seus irmãos Aníbal, Venâncio e Pirro, que posteriormente são assassinados. Camila, para não ser envolvida nas turbulências militares, foge com outra clarissa, parenta dos Varani, para Fermo. Em seguida, a pé, segue para Atri, onde as acolhe em seu castelo a duquesa Isabela Picolimini Tedeschini. Do massacre ocorrido no ano de 1501, restou somente o irmão mais novo de Camila, João Maria e o sobrinho Sigismundo, filho de Venâncio, por terem fugido com antecedência.
     Após a morte do Papa Alexandre VI (que como cardeal levara uma vida devassa, tendo vários filhos com algumas damas romanas, sendo eleito papa por tramas políticas), o duque João Maria é reintegrado no Senhorio de Camerino pelo Papa Júlio II (1503). Então Camila e a companheira retornam também a Camerino. Daí seria obrigada a sair novamente para fundar um mosteiro de Clarissas em Fermo (1505), por ordem do Papa. Em 1511, morre-lhe a mãe adotiva, Joana Malatesta, que lhe assinalou profundamente a existência.
     Em 1521, empreende uma viagem a São Severino, nas Marcas, em busca de fundos para seu mosteiro. As fundações de Camerino e de Fermo, realizadas com empenho da observância radical da Regra de Santa Clara, lhe deram também a fama de ter sido excelente reformadora da Ordem de Santa Clara.
     Camila morreu na festa de Corpus Christi a 31 de maio de 1524, com grande dor de seu irmão João Maria e de toda a corte ducal, e foi enterrada no coro de seu mosteiro. Trinta anos mais tarde, seu corpo foi exumado e foi encontrado em um estado de perfeita preservação. Foi enterrado novamente para ser exumado em 1593. A carne foi então reduzida a pó, mas a língua ainda permaneceu muito fresco e vermelho.
     A Santa deixou uma preciosa herança de manuscritos, alguns em latim e na maioria em dialeto umbro. Suas obras tornaram-se famosas na literatura mística.
    No seu conjunto, os escritos de Batista são notáveis pela originalidade do pensamento, pela espiritualidade marcante e pela linguagem vividamente pictórica. Tanto São Filipe Neri quanto Santo Afonso registraram sua admiração por esta talentosa mulher que escreveu com igual facilidade em latim e italiano, e que foi considerada uma das mais brilhantes e consumadas eruditas de seu tempo.
     O culto imemorial de Camila foi aprovado por Gregório XVI em 1843, e foi canonizada pelo Papa Bento XVI a 17 de outubro de 2010 em Roma. Sua festa ocorre no dia 31 de maio e é mantida na Ordem Franciscana em 2 de junho.
     “Serve-o por puro amor, porque Ele é o Senhor que só merece ser servido, amado, louvado por cada criatura”, disse Camilla em um dos seus escritos.

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